Ano passado, o Brasil ganhou 220 sacerdotes, contra média de 55 da década anterior. Seminário de Niterói que completa 100 anos é um dos polos que mais formam religiosos.
Quem apostava que posições firmes e polêmicas da Igreja Católica, como a condenação do uso da camisinha, afastavam da instituição candidatos à vida sacerdotal, perdeu. O número de jovens que entram nos seminários todos os anos sugere que, ao contrário, há uma retomada da vocação religiosa brasileira.
Só ano passado, o País ganhou 220 novos sacerdotes. O número é quatro vezes superior à média de ordenações feitas por ano até o fim da década de 90.
Um exemplo é o Seminário São José, em Niterói, que abriga 92 seminaristas — o maior número de sua história centenária, comemorada este mês. Lá, foi preciso construir um prédio anexo para atender à procura crescente. O local é um dos que mais formam padres no Brasil: foram 6 por ano desde 2003. Até 2000, eram 2.
Hoje, pelo menos 30% do clero de Niterói é composto por padres jovens, com até 15 anos de ordenação. “Quando assumi o seminário, há três anos, eram 65 seminaristas. O crescimento é fruto do trabalho nas paróquias. Os padres novos saem daqui cheios de entusiasmo e despertam isso na juventude de suas igrejas”, explica padre Wellington Dahan, 35 anos, sacerdote há 10.
Os encontros vocacionais realizados ao longo do ano no Seminário São José reúnem mais de 40 rapazes. São garotos como Felipe Lopes, que, aos 19 anos, começou sua preparação há um mês: “Terminei os estudos, trabalhava, tinha namorada e queria fazer faculdade de Cinema. Mas o padre me convidou para os encontros e pensei: ‘Por que não?’. Depois de 6 meses, senti o chamado”.
Felipe ainda tem nove anos de muito estudo, orações e renúncias pela frente. Caminho difícil, mas recompensador, diz Bruno Guimarães, que, aos 31, já percorreu praticamente todo o percurso e será ordenado no ano que vem. Para chegar lá, abandonou emprego público e promissora carreira de advogado, formado pela Uerj. “O mais difícil foi terminar com minha namorada e abrir mão de construir uma família. Mas, toda vez que pensava nisso, me vinha à cabeça ser padre. Hoje sou completamente feliz com minha escolha”.
Candidatos rejeitados por falta de vagas
Em todo o Brasil, seminários abarrotados já têm fila de espera de novos candidatos ao sacerdócio, por não haver espaço físico para todos os aspirantes à vida religiosa. O do Rio é um deles: lá vivem 115 jovens e por ano chegam 30 candidatos. “Não temos mais seminaristas porque não temos condições de abrigá-los. Os que não conseguem vaga voltam no ano seguinte”, afirma padre Leandro Cury, assessor de imprensa da Arquidiocese do Rio.
Padre Reginaldo Lima, da comissão episcopal para Ministérios Ordenados e Vida Consagrada da CNBB, confirma a tendência. “Desde 2000 tem havido uma retomada das vocações. O novo milênio trouxe uma nova religiosidade. As pessoas têm se voltado mais para Deus”, explica.
Fonte: O Dia online