Celular com fake news
Celular com fake news

O Instituto Nutes de Educação em Ciência e Saúde da Universidade Federal do Rio de Janeiro, realizou no ano passado um estudo e publicou recentemente um relatório sobre a desinformação relacionada à expansão das mídias digitais.

A reportagem, intitulada “Caminhos da desinformação: evangélicos, notícias falsas e Whatsapp no ​​Brasil”, tem como foco analisar as atitudes dos evangélicos em relação às notícias falsas e seu impacto nos grupos religiosos do Whatsapp.

De acordo com os dados levantados pela pesquisa, 49% dos evangélicos brasileiros afirmam ter recebido ‘fake news‘ em alguns de seus grupos de contato evangélicos.

Além disso, 29,7% dos evangélicos pesquisados ​​reconheceram que compartilharam informações mesmo sabendo que não eram verdadeiras.

“É preciso resiliência para se posicionar contra a participação na disseminação de mentiras”, apontam os autores do relatório.

Mais de 61% dos entrevistados disseram que a política é “tema recorrente” nas notícias falsas que viram circulando em grupos religiosos do Whatsapp, enquanto 33,3% admitem recorrer mais a “conhecidos” do que à mídia para obter informações.

Os investigadores alertam que “o sistema de circulação de fake news faz parte dos meios digitais e tem um forte componente emocional e de confiança”, pelo que “é necessária uma leitura crítica”.

“É importante lembrar que onde circula informação também circula desinformação. Não há como evitar que esses fluxos de mensagens circulem de forma separada, pois o intuito é que tenha aparência de informação confiável. O uso intenso do WhatsApp, somado à uma forte presença da confiança interpessoal são fatores que parecem sim tornar os evangélicos, em algum nível, suscetíveis à desinformação”,  explicou o coordenador da pesquisa, o sociólogo e diretor do Instituto NUTES de Educação em Ciências e Saúde da UFRJ, Alexandre Brasil. 

Redes sociais ‘uma nova maneira de ir à igreja’

“O uso intenso das redes sociais como ‘uma nova forma de ir à igreja’ é uma daquelas práticas associadas ao sentimento de pertencimento à comunidade, que cria uma imagem de líderes e irmãos como fontes confiáveis ​​de notícias”, diz Magali Cunha, uma das pesquisadoras da reportagem, em artigo escrito para a revista brasileira Ultimato.

De acordo com os resultados da pesquisa, pouco mais de 13% dos entrevistados pensam em pastores e líderes de igreja como a “fonte de informação mais confiável” .

Alta exposição ao Whatsapp

Os pesquisadores da Universidade Federal do Rio de Janeiro falam de “um uso intenso de grupos religiosos de Whatsapp, que é difundido entre os evangélicos”.

Na pesquisa online, com abrangência nacional, participaram pessoas de diferentes religiões e com nível superior – o segmento que possui maior percepção em relação à circulação da desinformação.

Nesse grupo, os dados sobre o recebimento de notícias falsas em grupos ligados à religião foram ainda maiores, com 77,6% dos evangélicos tendo afirmado receberem desinformação por grupos ligados à sua religião no Whatsapp.

Em comparação, a coleta de dados online mostrou que 38,5% dos católicos, 35,7% dos espíritas e 28,6% de fiéis de religiões afro-brasileiras afirmaram ter recebido mensagens falsas nos grupos de suas religiões.

Sobre o uso do Whatsapp especificamente, a pesquisa aponta que entre os evangélicos, 92% participam de grupos ligados à sua religião no WhatsApp. Em comparação, 71% dos católicos, 57% dos espíritas e 66,7% dos fiéis de outras religiões entrevistados, disseram fazer o mesmo.

“Não é a religião que interfere na maior presença de desinformação nos grupos de WhatsApp dos evangélicos, mas elementos relacionados à prática da religião, como o uso das redes sociais”, apontou Alexandre Brasil.

Desinformação: uma realidade generalizada

O relatório brasileiro não é único. Em outubro de 2021, a revista Relevant revelou que grupos de trolls na Europa estavam controlando muitas das páginas ‘cristãs’ do Facebook mais seguidas.

Além disso, em janeiro de 2021, a Lifeway Research publicou os resultados de uma pesquisa entre pastores dos EUA que mostrou que metade dos líderes evangélicos pesquisados ​​afirmou ter ouvido repetidas teorias da conspiração de membros de suas congregações.

Com informações de Evangelical Focus e O Vale

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