Foi notificado o desaparecimento de um pastor, seus dois filhos e um outro jovem no dia 2 de março. Eles sumiram a caminho de um ponto de ônibus em Negombo, Sri Lanka.

O pastor Victor Emmanuel Yogarajan, 51 anos, da Igreja Missionária Evangélica em Vavuniya, seus filhos Daniel Yogarajan, 22, David Yogarajan, 20, e Joseph Sugandakumar, 20, pernoitaram em Negombo.

Os quatro planejavam viajar de ônibus a Colombo, capital do país, no dia 2 de março, mas, depois de saírem de casa em direção ao ponto de ônibus, desapareceram.

Outros membros da família do pastor Victor foram à delegacia relatar o desaparecimento, mas até o momento, não foi encontrado vestígio dos quatro.

Tendência alarmante

Esse incidente é um entre muitos casos semelhantes que têm acontecido nos últimos meses, disse a Aliança Evangélica Cristã Nacional, mas nem todas as vítimas são cristãs. A Comissão Asiática de Direitos Humanos disse, no dia 2, que a cada cinco horas, uma pessoa desaparece no Sri Lanka.

Em 4 de março, o Comitê Civil de Monitoramento a Execuções Extrajudiciais e Desaparecimentos informou ter recebido quase 100 queixas de pessoas que sumiram nos últimos meses.

Os desaparecimentos e a sensação geral de impunidade são incitados por conflitos entre as forças do governo e os Tigres de Libertação da Pátria Tâmil (LTTE, sigla em inglês). O LTTE, ou Tigres Tamis, tem lutado pela independência do povo tâmil, no nordeste do país, desde 1983. Durante décadas essa etnia sofreu discriminação por parte da maioria cingalesa.

Tecnicamente, os dois lados cumprem um cessar-fogo assinado em 22 de fevereiro de 2002, mas muitos dizem que o conflito se tornou uma “guerra civil não declarada”.

Antes do cessar-fogo, o conflito causou 65 mil mortes e deixou inúmeras pessoas desabrigadas, espalhadas pelo nordeste do país.

A Cruz Vermelha relatou, em 11 de março, que outras dez mil pessoas haviam fugido recentemente dos campos controlados pelo governo no distrito de Batticaloa, elevando o número total de desabrigados para 105 mil, desde novembro de 2006.

Europeus que monitoram o cessar-fogo dizem, entretanto, que o número está bem acima dos 200 mil, enquanto a ONU diz que pelo menos meio milhão de pessoas estão desabrigadas desde que o conflito começou em 1983.

Desaparecimento de Jim Brown

Muitos padres católicos desapareceram depois de falar em nome dos desabrigados.

No ano passado, Thiruchchelvan Nihal Jim Brown (conhecido como Frei Jim Brown) e seu assistente Wenceslaus Vinces Vimalathas desapareceram em 20 de agosto, depois que seis homens armados, em motocicletas, os seguiram de um posto de controle da marinha perto da vila de Allaipiddy, na ilha de Kayts. Comandantes da marinha negaram ter prendido os homens.

Freis Jim e Wenceslau tinham ido visitar a igreja do frei na paróquia de São Felipe Neri. A igreja e a vizinhança, de maioria católica, haviam sido abandonadas uma semana antes, depois que o fogo cruzado começou em 13 de agosto, entre oficiais da marinha e os Tigres Tamis, deixando 15 civis mortos e 54 feridos.

Pessoas da vila buscaram abrigo na igreja de São Felipe Neri. Quando o conflito abrandou, Frei Jim ajudou cerca de 800 pessoas a irem à igreja Saint Mary, na cidade vizinha de Kayts. Alguns disseram que o Frei Jim se ajoelhou no posto de controle, para pedir uma mudança segura.

Pouco depois, segundo diz a Anistia Internacional, o comandante da marinha em Allaipiddy repreendeu Frei Jim e o acusou de ajudar os Tigres Tâmis a construir abrigos. O frei, entretanto, disse que os membros da igreja haviam construído abrigos para eles mesmos, para se protegerem dos bombardeios no terreno da igreja.

Frei Jim substituía outro padre, Amal Raj, que havia pedido transferência de São Felipe Néri depois do assassinato de uma família católica na vila, em 13 de maio. Oficiais da marinha ameaçaram matar Amal se ele resolvesse protestar contra o assassinato.

Em fevereiro, uma comissão de inquérito especial – criada pelo premiê Mahinda Rajapakse em 2006 – foi encarregada de investigar o desaparecimento do Frei Jim e de Wenceslau em resposta às repetidas exigência feita pela Igreja Católica e por organizações de direitos humanos.

Frei Jim e Wenceslau são o sexto caso da lista de desaparecimentos da comissão a ser investigado.

Monges exigem fim do cessar-fogo

No mês passado, no nono ano do cessar-fogo, monges budistas influentes fizeram passeata em Colombo, exigindo o fim do acordo de 2002, relatou a revista Time em 22 de fevereiro.

Parte da maioria cingalesa e muitos clérigos há muito tempo se opõem a qualquer solução ao conflito que não envolva a derrota militar dos rebeldes tâmis.

Também em fevereiro, o partido nacionalista budista Jathika Hela Urimaya (JHU) se uniu a uma coalizão do governo liderada pelo primeiro ministro, o que deu ao JHU muito mais influência no Parlamento. O JHU se opõe a qualquer acordo de divisão de poderes com os rebeldes, embora o premiê Mahinda seja a favor de uma autonomia limitada para os Tigres Tâmis.

Membros do JHU dizem que o cessar-fogo favorece os rebeldes e devem ser descartado.

O JHU é o principal apoiador do projeto de lei de proibição às conversões forçadas, que ainda está sendo considerado pelo Parlamento. Esse projeto anticonversão, feito nos mesmos padrões de leis parecidas na Índia, visa evitar conversões de uma religião a outra “por meios ilegais” e deve impor penas estritas a qualquer pessoa condenada de conversão ilegal.

Tais leis têm sido usadas na Índia para fazer falsas acusações contra os cristãos, cujos projetos sociais são considerados “meios fraudulentos” para “atrair” os hindus.

Fonte: Portas Abertas

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