Numa fria noite de sexta-feira no Upper East Side, em Manhattan, uma multidão de 200 pessoas se reuniu para ouvir o rabino Yechiel Z. Eckstein falar sobre o tema “O direito cristão: Melhores amigos dos cristãos ou maiores adversários?”.
Haskel Lookstein, rabino da Congregação Kehilath Jeshurum há 50 anos, introduziu Eckstein rapidamente. Foram mostradas as credenciais do pregador convidado, incluindo seu pai (nascido em Jerusalém e rabino chefe aposentado do Canadá). Ambos os líderes judeus, Eckstein e Lookstein, passaram o inverno juntos na Flórida.
Na Kehilath Jeshurun, Eckstein defende os evangélicos americanos com o mesmo fervor que um pregador do sudeste. De uma forma tranqüilizadora, ele critica o público, composto principalmente de profissionais de colarinho branco, pelos prejuízos dos preconceitos contra os evangélicos.
Eckestein conta para a multidão uma série de sacrifícios que evangélicos têm feito para assegurar que judeus pobres consigam a ajuda que precisam: existe a mulher que doa parte do seu pequeno cheque de aposentadoria; outra que substituiu o lattes (tipo de café) para o “café do dia” e doa a diferença; e a família que renuncia presentes de natal para cuidar de crianças israelenses. Ao longo dos anos, cristãos têm doado meio bilhão de dólares para uma organização fundada por um rabino ortodoxo.
A IFCJ, Associação Internacional de Cristãos e Judeus, organização de 26 anos criada por Eckstein, é eficiente em levantar fundos para cristãos via email direto e internet. Ano passado a organização levantou em torno de 88 bilhões de dólares, tornando-a uma das maiores e mais bem-sucedidas organizações religiosas de caridade na América.
A conexão cristã-judaica de Eckstein é descrita como uma organização de caridade transcendente. Antes desta década, evangélicos lideraram o caminho reavivando a adormecida indústria de turismo de Israel depois dos letais ataques terroristas no estado judeu. Eckstein perguntou ao auditório, “Quantos de vocês sabem que a IFCJ recentemente deu no mínimo 500 dólares para cada sobrevivente do holocausto – um ato que nenhum grupo judeu fez?”. Nenhuma mão levantada.
Se Eckstein não direcionou sua audiência para os amigos de evangélicos, ele no mínimo deixou claro que não os odeia. Encantador, gracioso, bem-humorado e agradável, Eckstein se tornou o rosto mais conhecido entre os cristãos. Não há incômodo por ele ser bonito, vestir-se elegantemente, e ser alto. Ele convence os judeus ultrapassados que cristãos conservadores e judeus ortodoxos dividem um inimigo em comum: o islamismo radical. Ele reconta como foguetes militares iranianos eram designados, “primeiro para as pessoas de sábado, depois para as de domingo”.
Meia dúzia de organizações com metas similares a da IFCJ montaram stands nos últimos anos da Convenção anual de radiofusores evangélicos. Eckstein, por muitos anos trabalhou entre cristãos radiofusores como uma anomalia, sem estar certo que os motivos dos outros grupos eram altruístas. Ironicamente, alguns vêem a IFCJ como uma competição. “Alguns cristãos me vêem tanto no grupo deles que até pensam que eu sou um também”, Eckstein revela. “Existe ressentimento e ciúme.”
Eckstein, na sua sinagoga em Nova York, cuidadosamente evita mencionar o nome de Jesus. Ele faz repetidas referências “você sabe quem”. Mas o que esse rabino que pode citar passagens do novo testamento melhor que a maioria dos cristãos realmente pensa sobre Jesus?
“Eu estou tão longe como qualquer um pode ir e continuar a ter bons antecedentes judeus”, garante. “Jesus, de alguma maneira, foi enviado por Deus numa nomeação divina para trazer o que os cristão chamam de salvação para os gentios. Ele foi o caminho para ser inserido na oliveira de Israel. Mas o pacto judeu continua sendo válido. “As raízes suportam o galho”. Por vezes, Eckstein parece ensinar crentes em métodos evangélicos. “Cristãos não convertem ninguém. Isso é um trabalho do Espírito Santo”, explica. “A missão deveria dividir o amor de Deus através de Cristo. Deixar Deus trabalhar no individual. A tarefa dos cristãos é amar como Jesus amou”, completa.
Líderes evangélicos nascidos nos anos 30, como Hayford e Jerry Falwell, persuadiram seguidores de que defender Israel era uma prioridade. Mas líderes mais jovens freqüentemente têm outras questões em suas agendas, como lutar contra a AIDS e a pobreza global. Enquanto administrações nas universidades de Liberty Regent e Oral Roberts permanecem com a IFCJ, Eckstein não sabe se sua causa ressoa em outro campo evangélico. Ele espera seguir o exemplo de Falwell e Robertson em estabelecer uma organização que não vai desaparecer depois que o fundador se for. “Isso não é chamado ‘Ministério de Yechiel Eckstein’”, assegura. “Eu espero ter criado uma instituição, uma causa e um movimento que poderão sobreviver”.
Eckstein permanece ciente do sofrimento dos cristãos. Em dezembro, a IFCJ doou comida e roupas para cristãos pobres através de igrejas em Belém, Jericó e Nazaré. O rabino acredita que é urgente que judeus em Israel reconheçam os evangélicos, em sua maioria, como aliados confiáveis na guerra contra o Islamismo radical e o terrorismo.
Um segmento de judeus permanece desconfiado, acreditando que a única razão dos evangélicos darem suporte a Israel é para ajudar a cumprir a profecia da Segunda Vinda. “Alguns em Israel não gostam de mim porque estou diminuindo a parede e eles não querem acreditar nos cristãos”, confessa Eckstein. “Eles sentem que eu estou amolecendo a comunidade judaica, tentando trazer Jesus pela porta de trás”.
Eckstein não é dissuadido de prosseguir na sua causa. “Eu gostaria de ver o ponto onde existe cumplicidade verdadeira na IFCJ, onde cristãos seriam cristãos melhores, judeus seriam judeus melhores, onde o mundo poderia ser um lugar melhor”.
Fonte: Cristianismo Hoje