O documento “Respostas a algumas perguntas acerca de certos aspectos da doutrina sobre a Igreja”, emitido pela Congregação para a Doutrina da Fé (ex-Santo Oficio), que fora presidida pelo papa Bento XVI, continua gerando reflexões, dúvidas e inquietudes nas comunidades evangélicas.

O secretário geral do Conselho Latino-Americano de Igrejas (CLAI), reverendo Israel Batista, ficou surpreso com tal documento “porque creio sempre na conversão”, embora reconheça que era algo esperado, “já que a partir de estruturas de poder, incapazes de ler os sinais dos tempos, é difícil a abertura”.

Concordando com Batista ao afirmar que o caminho adotado pela Igreja Católica Romana (ICR) provoca fechamento ao invés de abertura, o pastor da Igreja Reformada Argentina, Roberto Jordan, disse que vai trata-se, sem dúvida, de um retorno ao passado, que apaga, passo a passo, “as decisões mais relevantes do Concílio Vaticano II. Um retorno que é doloroso, triste e absolutamente desnecessário”.

O que se vê hoje, enfatizou Jordan, “é a continuação das sanções de anos passados e de meses recentes ao pensamento mais progressista dentro da Igreja Católico Romana e, ao mesmo tempo, uma centralização do poder em Roma. Todo pensamento aberto, progressista e criativo é obrigado a calar, é excluído. Apaga-se com o cotovelo o afirmado nos diálogos bilaterais. Em pleno século XXI isto é bem mais do que um retrocesso”.

O presidente da Aliança de Igrejas Evangélicas da Argentina (ACIERA), pastor Rubén Proietti, disse que ainda não tem opinião definida sobre este papa. Sobre a imagem de ecumenismo nascida no Vaticano “me parece que há atitudes muito contraditórias”, afirmou. A própria Sé vaticana deu marchas e contramarchas. “Hoje as expressões são absolutistas, fundamentalistas, nas quais a única maneira de ver e de pensar as coisas passam pelo papa e o Vaticano. Ninguém mais do que a Igreja Católica romana é igreja… Nessas atitudes e em outras o ecumenismo que eles mesmos fomentam encontraria indubitáveis tropeços”, sublinhou.

A Federação de Entidades Evangélicas da Espanha (FEREDE), num extenso comunicado, expressa que falar de ecumenismo em termos cristãos só é possível a partir de um correto discernimento do Corpo de Cristo (1 Coríntios 11,29), “que permita reconhecer nossos irmãos como iguais, acima de nossas diferentes sensibilidades teológicas, manifestações litúrgicas, estruturas orgânicas, e/ou cultura eclesiológica.”

Mas o que sente quem vive o dia-a-dia do ecumenismo na missão, na oração, na comunhão? Reina o desconcerto em pessoas que ontem viveram expressões genuínas de unidade e respeito e hoje lêem com assombro o que afirma sua Igreja.

Batista faz eco desse sentimento solidarizando-se com tantos sacerdotes, fiéis e até bispos católicos que vivem uma prática e um espírito de unidade cotidiana. “Declarações como estas engendram sofrimento, porque o amor é praticado em nossas congregações e paróquias. Não percamos de vista o essencial e o que avançamos: a unidade na missão. Uma unidade para que o mundo creia, uma unidade para ser mensageiros de justiça, paz e vida”, assinalou, conclamando o povo cristão a seguir avançando e afirmando “a unidade dessa igreja de Cristo em sua diversidade”.

Fonte: ALC

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