O Vaticano procurou minimizar as tensões nas relações católico-judaicas nesta quarta-feira, 14, depois de um importante rabino italiano ter acusado o papa Bento XVI de apagar 50 anos de diálogo e anunciado o boicote de um evento chave para a Igreja.
Elia Enrico Richetti, rabino chefe de Veneza, disse que os judeus italianos vão boicotar uma celebração anual do judaísmo promovida pela Igreja Católica, marcada para 17 de janeiro, em parte devido à reintrodução no ano passado de uma oração que pede a conversão dos judeus.
“Se acrescentamos (à oração) as declarações recentes do papa de que o diálogo é inútil porque a fé cristã é superior, fica claro que estamos indo no sentido de cancelar 50 anos de história da Igreja”, escreveu o rabino no periódico jesuíta Popoli.
Foi o sinal mais recente da turbulência no diálogo entre católicos e judeus, que vem sendo testado em relação a vários pontos, desde a reação ao cerco da Faixa de Gaza por Israel até a volta das discussões sobre o papel exercido pelo papa Pio XII em ajudar os judeus durante o Holocausto.
O cardeal Walter Kasper, autoridade do Vaticano encarregado das relações com os judeus, se disse surpreso com as declarações de Richetti e defendeu o histórico do papa Bento XVI em buscar o diálogo.
Kasper sugeriu que os problemas com os judeus parecem estar restritos principalmente à Itália. “Infelizmente aqui na Itália temos alguns problemas, uma suscetibilidade especial que não encontramos na França, Alemanha ou América do Norte”, disse Kasper ao jornal La Stampa.
Adotando tom moderado, o rabino chefe de Roma, Riccardo Di Segni, concordou que o diálogo “deve avançar, a despeito das dificuldades” e reconheceu que o papa fez algumas contribuições nesse sentido.
No ano passado o Vaticano revisou uma oração latina contestada usada por católicos tradicionalistas. Mas judeus criticaram a nova versão porque ela ainda diz que eles deveriam reconhecer Jesus Cristo como o salvador de todos os homens e manteve um chamado subjacente à conversão.
Outro fator que vem provocando tensão nas relações é o papa Pio XII, que, segundo alguns judeus, ignorou o Holocausto. O Vaticano afirma que ele trabalhou nos bastidores, sem alarde, para salvar judeus.
O papa Bento XVI pode visitar locais da Terra Santa em Israel e na Cisjordânia ocupada em maio, mas alguns diplomatas dizem que o cerco da Faixa de Gaza por Israel coloca a viagem em dúvida.
Na semana passada um dos principais assessores do papa, o cardeal Renato Martino, provocou a ira de Israel ao descrever a Faixa de Gaza como “um grande campo de concentração”.
Fonte: Estadão