Lançado durante a reunião anual do FMI e do Banco Mundial, em Cingapura, o último relatório do banco sobre desenvolvimento traz um importante capítulo sobre a importância da educação no âmbito de uma economia cada vez mais dependente da expansão tecnológica e do acesso a informações especializadas.

Trata-se de um estudo comparativo sobre as condições dos países emergentes, em matéria de educação básica e nível de escolaridade de mão-de-obra, para se inserir na sociedade do conhecimento.

O Brasil, infelizmente, não aparece bem nesse trabalho. De todos os países analisados, entre eles a China, a Índia, o México e a Rússia, o sistema brasileiro de ensino foi o que teve a pior avaliação. Segundo o relatório, a educação básica é tão deficiente que não consegue oferecer à maioria dos estudantes a formação mínima de que necessitam para operar máquinas com leitura digital e equipamentos informatizados cuja programação exige um mínimo de conhecimento de matemática.

Por não saberem analisar informações especializadas e não terem capacidade de abstração – dois atributos que um ensino fundamental de qualidade costuma desenvolver –, as crianças e os adolescentes brasileiros tendem, segundo o Banco Mundial, a se transformarem em profissionais despreparados. Esse é um dos fatores responsáveis pela perda de competitividade do Brasil com relação às economias com as quais disputa os mercados globais, conclui o relatório.

Em termos comparativos, enquanto no México e na Rússia a média de escolaridade dos trabalhadores é de sete e dez anos, respectivamente, no Brasil ela é de apenas cinco anos. Na Coréia do Sul e na Rússia, as taxas de repetência no ensino fundamental são de 0,2% e 0,8%. Entre nós, é de 21%. No México, a taxa de analfabetismo da população adulta é de 8%. No Brasil, ela é de 13%. Quanto à qualidade do ensino de ciências e matemática, o Brasil tem um índice de 2,9 contra 4,2 na China e 6,5 em Cingapura, numa escala de 1 a 7 pontos.

Ao avaliar o impacto desse problema nas empresas brasileiras, a revista Exame, em seu último número, apresenta alguns exemplos ilustrativos. No setor de telefonia, operários brasileiros com o mesmo nível de escolaridade dos coreanos têm dificuldade de aprendizado e um rendimento inferior. Utilizando equipamentos idênticos, as linhas de montagem da LG no Brasil produzem 9 celulares por hora, contra 15 nas da Coréia do Sul. Na Atento, uma empresa de call center, metade dos 240 mil jovens com ensino médio que disputam vaga na central de atendimento é reprovada por deficiências básicas em português. Na rede de livrarias Fnac, 95% dos universitários que buscam emprego são recusados devido ao baixo nível cultural. Na subsidiária brasileira da Tata, maior empresa indiana de informática, as 300 vagas de programadores abertas no começo deste ano até agora não foram preenchidas por falta de mão-de-obra qualificada.

Endossada por especialistas e empresários, a principal conclusão do Banco Mundial é preocupante. Segundo o relatório, por causa das deficiências do sistema de ensino o Brasil vem ficando para trás na corrida da competência técnica e científica com países como a China, Índia, Cingapura, Rússia e, principalmente, Coréia do Sul, hoje uma referência internacional em excelência de ensino. Além disso, se a economia vier a crescer mais rapidamente, não haverá no mercado profissionais qualificados em número suficiente para atender às necessidades das empresas.

Esse é o preço que o Brasil está pagando pela falta de foco em matéria de política educacional. Em vez de concentrar os esforços na melhoria do ensino fundamental, que é decisivo para a emancipação econômica das novas gerações e para a correção das desigualdades sociais, o governo perdeu tempo e dinheiro com projetos demagógicos no âmbito do ensino superior. Enquanto isso, metade das escolas do ensino fundamental não têm biblioteca. No Nordeste, muitos professores ganham menos de um salário mínimo. Como um país com graves distorções como essas, em matéria de educação, pode ter vez em plena era do conhecimento?

Fonte: Estadão

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