Rebeldes Seleka tomaram a República Centro-Africana, através da capital Bangui, fazendo com que o presidente Bozizé fugisse do país. Em 26 de março do ano passado, o líder do golpe, Michel Djotodia, anunciou que os rebeldes estavam suspendendo a Constituição e dissolvendo o parlamento. E agora?

Djotodia disse à imprensa que haverá um período de transição de três anos, durante o qual ele vai “legislar por decreto”, até que “eleições confiáveis e transparentes” possam ser realizadas. Em reação a esse anúncio, a União Africana suspendeu a República Centro-Africana do grupo e impôs sanções contra os rebeldes.

Um contato da Portas Abertas no país disse que os rebeldes saqueiam as cidades sem limites, agindo ao contrário do que Djotodia ordenou. Eles têm atingido prédios do governo, igrejas, casas e empresas cristãs, enquanto propriedades muçulmanas são poupadas.

“Eles vão sistematicamente de casa em casa e saqueiam tudo de valor. Os proprietários são obrigados a abrir suas casas, fugir com medo para o mato, para o outro lado do rio ou encarar a morte. Há muitas vítimas e mortes! Muitas pessoas que tentaram escapar através do rio Ubangui se afogaram porque os barcos que os levavam eram muito pequenos para o número de pessoas neles”.

A rebelião foi iniciada com uma grande incerteza para a Igreja no país. Os rebeldes Seleka são uma aliança de vários grupos rebeldes¹ com aspirações políticas. Mas sua formação é feita principalmente por muçulmanos. Enquanto muitos rebeldes são das tribos muçulmanas do norte, Rungha e Gula; há também muitos nigerianos Hausas e guerreiros Janjaweed², da Líbia, Chade e Sudão, e muitos deles falam o idioma árabe.

Os relatos de uma testemunha ocular, obtidos pela Portas Abertas, mostraram o padrão que os rebeldes seguiam conforme avançavam de cidade em cidade em seu caminho para a capital Bangui. Juntamente com o vandalismo contra prédios do governo, eles visaram igrejas católicas e protestantes, destruíram propriedades, saquearam todos os equipamentos de valor e atacaram e intimidaram cristãos.

O conflito na República Centro-Africana já provocou cerca de 1 milhão de deslocados, metade dos quais na capital Bangui, estimou a Organização das Nações Unidas (ONU) na última sexta-feira. Segundo o porta-voz do Alto Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados (Acnur), Babar Baloch, “o número de pessoas deslocadas dentro do país já ultrapassou 935 mil”, como resultado do conflito que matou mais de mil pessoas apenas no mês passado. “Cerca de 60% dos deslocados são crianças”, disse o porta-voz do Acnur.

¹ Convenção dos Patriotas para a Justiça e Paz (CPJP), União das Forças Democráticas para a Unidade (UFDR), Frente Democrática Popular da África Central (FDPC), Convenção Patriótica para a Salvação de Kodro (CPSK) e a Aliança para o Renascimento e Refundação (APRD)

² Os Janjaweed são partidários armados tirados de tribos árabes. Eles apoiaram o presidente chadiano Hissène Habré, em 1988, na guerra com a Líbia e o presidente sudanês, Omar al-Bashir, em suas relações com a rebelião Darfur (2003-2006). Em outubro de 2007 os EUA declararam os assassinatos de Darfur como genocida (200.000 – 4000,000 mortes).

[b]Fonte: Portas Abertas Internacional e Agência Brasil[/b]

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