Os franceses gostam de deixar a religião fora da política. Os líderes raramente manifestam-se sobre fé e jamais encerrariam um discurso no estilo americano, com um “Deus abençoe a França”, em vez do tradicional “Vive la France”. Mas nas próximas eleições presidenciais, a religião vem ganhando destaque.
“A religião, algo que não se esperava aparecer em uma campanha política do terceiro milênio, tornou-se um tema político real”, escreveu o jornal católico La Croix. “Não está na linha de frente, mas está agitando as mentes como nunca antes.”
A França é tradicionalmente católica, mas agora é muito secular. O país vai eleger seu próximo presidente no dia 22 de abril, com segundo turno programado para 6 de maio. Há 12 candidatos.
Os políticos costumam negar a existência de um “voto religioso”, mas as pesquisas dizem que crentes da maioria católica e nas minorias de muçulmanos, judeus e protestantes tendem a votar pelo partido conservador União por uma Maioria Popular (UMP).
O líder nas pesquisas, Nicolas Sarkozy, do UMP, é católico, mas praticante ocasional. Em 2002, ao tornar-se ministro do Interior, defendeu em livro chamado “A República, Religiões e Esperança” relaxar a forte separação entre igreja e Estado. Ele também criou o Conselho Muçulmano da França para dar ao Islã uma voz oficial.
Mas Sarkozy pouco falou sobre religião na atual campanha, nem aproximou-se dos cinco milhões de muçulmanos da França, minoria que deseja cortejar.
Neste mês, disse que não relaxará a lei de 1905 que declara o estado secular, decepcionando muçulmanos que esperavam uma mudança para permitir o repasse de subsídios oficiais para a construção de mesquitas.
Mas Sarkozy também deu respostas pessoais a uma pesquisa sobre a fé dos candidatos feita pelo semanário católico La Vie: “Rezo quando sofro…Rezo quando vejo o sofrimento de famílias, ou vítimas que encontro como ministro do interior.”
Em contraste, o candidato possivelmente mais religioso entre os principais concorrentes separa claramente religião e Estado.
“Sou católico e vou à missa”, disse o centrista François Bayrou. “Ao mesmo tempo, não obedeço a Igreja quando voto por uma lei.”
A socialista Ségolène Royal, vice nas pesquisas, parecia desconfortável ao falar sobre religião e afirmou que “superou” sua criação estritamente católica.
“Religião é um assunto pessoal”, disse, acrescentando que a fé pode ser positiva se compartilhar os mesmos valores que o secularismo francês.
Royal não é casada e tem quatro filhos e é a única candidata que apóia casamentos e direitos de adoção para gays.
Mas ela também mandou mensagens subliminares: visitou uma igreja na campanha, falou sobre a heroína católica Joana D’Arc e usou uma frase do Papa Bento 16 para defender uma “ordem justa” na sociedade.
A candidata do Partido Comunista, Marie-George Buffet, disse que “acreditar não é um tabu” e foi a única concorrente a dizer que a religião é um tema ao mesmo tempo particular e público.
Fonte: Reuters