O médico que realizou o aborto na menina de 9 anos que estava grávida de gêmeos é católico praticante. Pela segunda vez, por razões profissionais, Rivaldo Albuquerque entra em choque com a Igreja.

Quando participou da criação, no Recife, de um serviço de atenção às mulheres violentadas, que faz o aborto nos casos previstos por lei, ele foi excomungado pela primeira vez.

Mesmo assim, o médico diz que não vai deixar de ir à missa. “A minha tristeza se dá porque a Igreja poderia levar para um outro lado, o lado da fraternidade, mas leva para o lado do conflito, O povo quer uma igreja de perdão, amor e misericórdia, não essa igreja”, afirma o obstetra.

O caso causou comoção e revolta no Recife e pelo mundo. A menina estava com quatro meses de gravidez. A gestação de gêmeos foi interrompida na última quarta (4) e ela recebeu alta nesta manhã.

A repercussão foi ainda maior pela reação da Igreja ao aborto. Entretanto, para o arcebispo de Olinda e Recife, dom José Cardoso Sobrinho, o padrasto Jaílson José da Silva, que violentava a menina, não pode ser excomungado.

“Ele cometeu um crime enorme, mas não está incluído na excomunhão. Porque existem tantos pecados graves… Esse padastro, primeiro responsável, que estuprou a menina, é claro que cometeu um pecado gravíssimo; agora mais grave do que isso, sabe o que é? É o aborto, é eliminar uma vida inocente”, defende o religioso.

Quem é excomungado fica proibido de receber sacramentos da Igreja, como batismo, comunhão, crisma e casamento. “Existe uma gama imensa de compreensões diferentes; a abordagem tem que ser individual. Cada caso é um caso e tem que ser analisado como tal”, acredita dom Antônio Muniz, presidente da regional Nordeste da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB).

A equipe que fez o aborto vem recebendo e-mails de médicos do País inteiro – foram mais de 500 mensagens de apoio até agora. Para os especialistas, não havia e não há nenhuma dúvida de que interromper a gravidez foi a decisão correta e de que, sobre essa conduta, não cabe a intervenção da Igreja. “Nós estávamos dentro de um princípio legal, uma criança vitima de estupro e que corria risco de morte se continuasse gestante”, encerra o médico.

Repercussão

Nesta manhã, em Vitória (ES), durante o lançamento de um programa de prevenção à violência, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva elogiou a atitude dos médicos. “Como cristão e como católico, lamento profundamente que um bispo tenha um comportamento conservador como esse. Acho que, nesse aspecto, a medicina está mais correta do que a igreja”, disse o presidente.

A Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) divulgou nota, nesta sexta (6), em que destaca o mandamento “Não matarás” e reforça as críticas feitas ao aborto.

A imprensa italiana publicou reportagens, também nesta sexta, afirmando que o Vaticano apóia a decisão do arcebispo de Pernambuco.

Fonte: Pe360graus

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