Os conservadores religiosos dos Estados Unidos, que deram a vitória eleitoral a George W. Bush em 2004, não sabem quem escolherão para substituí-lo, e, segundo os analistas, sua indecisão poderia ser um golpe fatal ao Partido Republicano.
O que os une é a forte oposição ao aborto e ao casamento entre homossexuais, o desejo de que a oração volte aos colégios públicos e a desconfiança em relação a uma teoria da evolução que não mencione Deus.
Os conservadores religiosos correspondem a 30% do eleitorado, segundo Barry Hankins, professor de História da Universidade Baylor, no Texas.
O Partido Republicano achava que tinham esses eleitores nas mãos, até que apareceu Rudolph Giuliani, ex-prefeito de Nova York, símbolo da mão dura contra o crime e o terrorismo, e líder das pesquisas para vencer a candidatura republicana às eleições presidenciais de 2008.
Para os conservadores religiosos, o problema é que Giuliani, de 63 anos, apóia o direito ao aborto, algo que esse grupo de eleitores deseja abolir.
Também não gostam do fato de Giuliani – que uma vez sonhou em ser padre – já ter se divorciado duas vezes e aceitar os homossexuais, além de, vestido de mulher, ter seduzido o magnata Donald Trump em uma paródia de 1997 que continua fazendo sucesso na internet.
Se Giuliani conseguir a candidatura presidencial, o voto dos conservadores religiosos “se fragmentaria”, afirmou à Agência Efe Mark Noll, co-fundador do Instituto para o Estudo dos Evangélicos Americanos.
“Seria muito, muito difícil ter um bloco firme, unido, organizado, como ocorreu na última vez”, acrescentou Noll, também professor de História na Universidade de Notre Dame.
Os evangélicos são o núcleo desse eleitorado, que também inclui católicos conservadores e carismáticos que viram em Bush um anjo redentor.
Como muitos de seus companheiros de fé, Bush passou por uma espécie de “conversão” religiosa, abandonou a bebida e passou a defender todas as causas evangélicas.
O presidente americano institui 10 de junho como o “Dia de Jesus” quando ainda era governador do Texas.
Em 2004, Bush conquistou 78% dos votos evangélicos, graças ao trabalho de seu estrategista Karl Rove, que ajudou o presidente a derrotar o democrata John Kerry.
Agora, em plena campanha pré-eleitoral, a pesquisa mais recente da Associação Nacional de Evangélicos coloca como favorito o ex-governador de Arkansas Mike Huckabee, localizado na quinta colocação nas pesquisas entre todos os republicanos.
Ao mesmo tempo, o principal grupo anti-aborto do país, o Comitê Nacional para o Direito à Vida, apóia o ex-senador Fred Thompson, em segundo nas pesquisas, mas que perde a força.
“Os evangélicos apoiariam Thompson ou Huckabee caso se transformassem em candidatos viáveis”, disse Hankins.
No entanto, a seis semanas para o início do novo ciclo eleitoral, com as primárias em Iowa, Giuliani está na liderança.
O ex-governador de Massachusetts Mitt Romney é um dos que poderiam acabar com a festa de Giuliani, se os evangélicos perdoá-lo por ser mórmon e votarem nele, segundo Hankins.
Bob Jones, um dos líderes mais importantes do movimento conservador, também o apóia.
Mas seu colega Pat Robertson, que chegou a dizer que os atentados de 2001 foram um castigo de Deus pela permissividade em torno dos homossexuais e do aborto, apoiou Giuliani.
Robertson, um pastor televisivo influente, descreveu Giuliani como um republicano “aceitável, que pode ganhar as eleições gerais”.
Criticado por outros líderes evangélicos pelo apoio a Giuliani, Robertson aparentemente faz o possível para evitar o que, na sua opinião, seria um mal maior: a vitória da senadora Hillary Clinton, que lidera as pesquisas entre os candidatos democratas.
A antipatia dos conservadores pelos Clinton se deve principalmente às infidelidades de Bill quando era presidente, segundo Noll.
Caso a derrota de Hillary não os motive o suficiente e se continuarem frustrados com uma eventual candidatura de Giuliani, muitos desses eleitores podem ficar em casa, afirmou Hankins.
Essa é uma perspectiva que poderia nocautear o Partido Republicano.
Fonte: EFE