Um best-seller que coloca em dúvida vários episódios da vida de Jesus está causando grande polêmica na Itália, às vésperas da publicação do primeiro livro do Papa Bento XVI sobre Cristo.

Os autores de Inquérito sobre Jesus, que está há várias semanas na lista dos livros mais vendidos do país, dizem, entre outras coisas, que a ressurreição de Jesus pode ter sido fruto de alucinação de seu seus discípulos.

O livro traz uma entrevista com o professor de História especializado em cristianismo Mauro Pesce, da Universidade de Bolonha, conduzida pelo jornalista Corrado Augias.

Nele, Augias e Pesce questionam, além da ressurreição, data e local do nascimento de Cristo, que Maria tenha dado à luz permanecendo virgem, e que Cristo tivesse intenção de fundar uma nova religião.

Desde que foi lançada, no fim do ano passado, a obra já vendeu 450 mil cópias na Itália. Deve ser ainda publicada no Brasil.

Releitura

No capítulo dedicado à ressurreição de Jesus, definido por eles como o mais delicado, Augias e Pesce especulam que o episódio – um dos fundamentos da fé cristã – pode ter sido apenas fruto de alucinação dos discípulos.

“Muitas visões, inclusive as mais recentes, como as de Fátima, indicam que o visionário acabou vendo realmente o que desejava ver”, diz o texto.

O livro aponta imprecisões nos cálculos que determinaram a data de nascimento de Jesus.

“Não sabemos até que ponto podemos confiar em Luca (um dos evangelistas), que escreveu 50 anos depois da morte de Cristo, com base em informações de terceiros”, escrevem os autores.

Outra tese do livro, uma das que mais provocaram reações negativas nos ambientes católicos, sustenta que Jesus não tinha intenção de fundar uma nova religião, e se limitava a pregar aos judeus mantendo-se fiel tradição da religião hebraica.

“Ele nunca tentou converter os não-judeus. Isto seria feito depois de sua morte, por alguns seguidores e pelas igrejas cristãs, mudando bastante o que Jesus pregava e praticava.”

Ataque

O jesuíta Giuseppe De Rosa, da influente revista semanal Civiltà Cattolica – cujo conteúdo passa sempre pelo aval da secretaria de Estado do Vaticano – disse que o livro é um “ataque frontal à fé cristã”.

Em artigo na revista, De Rosa afirma que a pesquisa “nega o cristianismo em sua totalidade e as verdades cristãs essenciais”, e que ela define os evangelhos canônicos como “lacunosos e manipulados”.

Em um longo artigo publicado no jornal Avvenire, da conferência episcopal italiana, o padre Raniero Cantalamessa, predicador da casa pontifícia, criticou o livro por defender a tese de que “o Jesus autêntico não é o da igreja”.

Padre Cantalamessa colocou em dúvida as fontes usadas pelos autores, como os evangelhos considerados não oficiais pela igreja católica.

Defesa

Para os autores do livro, ambos conhecidos e respeitados na Itália, não há nada na pesquisa que possa ofender a fé cristã.

“Não é a oposição entre o que Jesus foi e o que a igreja pensa ter sido, mas entre o que as pessoas sabem e o que as pessoas não sabem”, declarou Pesce em entrevista à BBC Brasil.

Ele disse que o livro se baseia quase totalmente nos quatro evangelhos canônicos (oficiais), embora também tenha usado outras fontes.

“Os estudos dos últimos 30 anos revolucionaram as teorias tradicionais. Agora, avalia-se a relação entre os vários textos. Em alguns casos os evangelhos apócrifos (não reconhecidos pela igreja) dão informações muito importantes”, afirmou.

O livro aumentou ainda mais as discussões sobre o passado e a vida de Jesus Cristo, assunto amplamente comentado no mundo católico com as teses levantadas por bestsellers como O Código Da Vinci – que dizia, entre outras coisas, que Jesus e Maria Madalena viveram juntos e procriaram.

Mas o Vaticano está reagindo. Em abril será lançado o aguardado livro do papa Bento 16 sobre a vida de Cristo, Jesus de Nazaré, do batismo no Jordão à Transfiguração.

Fonte: Gazeta do Povo

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