Os membros da CPI dos Sanguessugas aprovaram nesta quinta-feira o relatório parcial da comissão que recomenda a abertura de processo de cassação contra 72 parlamentares envolvidos na máfia das ambulâncias. O campeão em desvio é o deputado evangélico Lino Rossi (PP-MT) que teria recebido R$ 3,04 milhões do esquema.

O único voto contrário ao relatório foi do senador Wellington Salgado (PMDB-MG). Houve também uma abstenção, do senador Sibá Machado (PT-AC).

Dos parlamentares denunciados pela CPI, três são senadores e os demais, deputados. Os nomes serão encaminhados para os Conselhos de Ética da Câmara e do Senado, para serem submetidos a processo de cassação de mandato.

Os deputados e senadores são acusados de terem recebido dinheiro em troca de apresentar emendas ao Orçamento da União para a compra de ambulâncias. Os recursos eram desviados quando liberados para as prefeituras.

A comissão não encontrou provas contra 18 dos 90 parlamentares que foram investigados por suposta participação com a máfia das ambulâncias. Os processos abertos contra esses parlamentares serão arquivados “por falta de provas”, conforme o relatório parcial divulgado hoje.

Base de apoio

Dos 72 parlamentares denunciados, 63 são da base de apoio do presidente Luiz Inácio Lula da Silva no Congresso. A oposição tem oito parlamentares denunciados. No total, nove partidos têm integrantes envolvidos no esquema.

PL, PTB e PP têm o maior número de denunciados. Os três partidos –que participam da base de apoio do presidente– também foram protagonistas do escândalo do “mensalão”, pelo qual o governo supostamente pagava aos deputados para ter seus projetos aprovados no Congresso.

O PL lidera a lista com 18 citados. Na seqüência aparecem: PTB (16), PP (13), PMDB (8), PFL (7), PSB (4), PT (2), PRB (2) e PSC (1).

Dos 18 parlamentares que foram absolvidos pela CPI dos Sanguessugas, 11 são da base aliada do governo e sete da oposição.

O PP tem o maior número de parlamentares que escaparam de um processo de perda de mandato porque a comissão não encontrou provas contra eles. Cinco foram absolvidos. Na seqüência aparecem: PMDB (3), PSDB (3), PFL (2), PPS (1), PSC (1), PTB (1) e PSB (2).

PL, PTB, PP, PMDB, PSB, PT, PRB são da base aliada e PSDB, PFL, PSC e PPS, da oposição.

Os 72 parlamentares acusados pela CPI dos Sanguessugas de envolvimento com a máfia das ambulâncias teriam desviado dos cofres públicos mais de R$ 100 milhões. O campeão é o deputado evangélico Lino Rossi (PP-MT) que teria recebido R$ 3,04 milhões do esquema. O deputado é apontado pelo sócio da Planam Luiz Antonio Trevisan Vedoin como um dos que ajudavam a quadrilha a cooptar colegas.

Em comum, os deputados e senadores beneficiados pelo esquema têm o fato de receberem dinheiro na própria conta ou na de assessores. O fato permitiu aos chefes do esquema, os donos da Planam –Luiz Antonio e Darci Vedoin– documentarem o escândalo.

Foi a partir dessas provas que a CPI chegou hoje aos nomes de 72 envolvidos. Todos poderão perder os mandatos acusados de quebra de decoro parlamentar.

Veja a lista dos deputados e senadores evangélicos denunciados no relatório da CPI dos Sanguessugas:

João Mendes de Jesus (PSB-RJ) – O deputado recebeu R$ 157 mil do esquema. O deputado teria recebido propina não só por emendas para ambulâncias, mas também por ter destinado recursos para a compra de ônibus do programa de Inclusão Digital, do Ministério da Ciência e Tecnologia.

Magno Malta (PL-ES) – O senador recebeu do esquema um carro Fiat Ducat no valor de R$ 50 mil. O pagamento foi referente a uma emenda apresentada pelo senador para a compra de ambulância. A emenda, no entanto, não foi aprovada, mas o senador ficou com o carro.

Marcos de Jesus (PFL-PE) – O deputado recebeu R$ 24 mil do esquema. O pagamento foi efetuado em duas parcelas: R$ 12 mil em cheque e o restante em espécie. O valor foi entregue ao deputado no gabinete dele em Brasília.

Pastor Amarildo (PSC-TO) – O deputado recebeu R$ 90 mil do esquema. Do total, R$ 40 mil é referente ao valor de um micro-ônibus que foi repassado ao deputado. Outros R$ 50 mil foram pagos a uma mulher que não foi identificada pelo dono da Planam. Luiz Vedoin disse apenas que foi o deputado quem mandou fazer o depósito na conta dela.

Agnaldo Muniz (PP-RO) – O deputado recebeu R$ 12 mil de uma empresa laranja da Planam por ter apresentado emenda para a compra de ambulância. O valor corresponde a 10% da emenda apresentada e liberada.

Wanderval Santos (PL-SP) – O deputado recebeu R$ 50 mil do esquema como parte do pagamento de uma BMW. Ele também recebeu em espécie mais R$ 19.272,96 em dinheiro vivo no gabinete.

Almir Moura (PFL-RJ) – O deputado recebeu R$ 80 mil em dinheiro vivo do esquema por ter apresentado e liberado emenda para ambulância. O dinheiro foi entregue ao chefe de gabinete do parlamentar. Outros R$ 20 mil foram adiantados ao deputado por ele ter apresentado uma emenda.

Almeida de Jesus (PL-CE) – A deputada recebeu R$ 20 mil da Planam. O dinheiro foi depositado em conta de assessores indicado a Luiz Antonio Trevisan Vedoin pela própria deputada.

Neuton Lima (PTB-SP) – O deputado recebeu R$ 152 mil do esquema. A maior parte dos recursos foram transferidos para contas do deputado ou pessoas próximas. O deputado também recebeu um microônibus no valor de R$ 67 mil.

Edna Macedo (PTB-SP) – A deputada recebeu R$ 60 mil do esquema. A maior parte do dinheiro – R$ 50 mil – foi em espécie; o restante depositado na conta do filho da deputada. É irmã do bispo Edir Macedo da Igreja Universal do Reino de Deus.

João Batista (PP-SP) – O deputado recebeu R$ 22 mil do esquema. O dinheiro foi repassado para contas do deputado ou da esposa dele.

Lino Rossi (PP-MT) – O deputado recebeu R$ 3,04 milhões do esquema da Planam. Rossi é apontado como quem ajudava a Planam a cooptar parlamentares para entrar no esquema. O dinheiro foi depositado em contas bancárias. Nos anos de 2000 a 2003 todas as emendas individuais do deputado foram destinadas à compra de ambulâncias.

Isaías Silvestre (PSB-MG) – O deputado recebeu R$ 82 mil do esquema. O dinheiro foi repassado em espécie.

Vieira Reis (PSB-RJ) – O deputado recebeu R$ 66.500,00 mil do esquema. O valor foi depositado em contas via transferência bancária. Não está especificado se na conta do próprio parlamentar ou na de assessores.

Carlos Nader (PL-RJ) – O deputado recebeu R$ 93 mil do esquema.A maior parte do dinheiro foi entregue ao deputado em espécie no gabinete dele na Câmara.

Paulo Baltazar (PSB-RJ) – O deputado recebeu do esquema R$ 63.500,00. O valor foi depositado na conta de assessores do deputado.

José Divino (PMR-RJ) – O deputado recebeu R$ 60 mil do esquema. Do total, R$ 40 mil foram entregues ao próprio deputado no gabinete em Brasília. O restante foi depositado na conta pessoal do deputado.

Adelor Vieira (PMDB-SC) – O deputado teria recebido R$ 40 mil da Planam por ter apresentado uma emenda no valor de R$ 560 mil para a compra de ambulância. Também ajudou a direcionar a licitação para beneficiar a Planam. Do valor que recebeu, R$ 26 mil foi na própria conta.

Nilton Capixaba (PTB-RO) – O deputado pode ter recebido do esquema mais de R$ 1 milhão. O relatório parcial da CPI apresenta duas tabelas de valores que teriam sido repassados para o deputado. A primeira soma R$ 646.600,00 e a segunda, R$ 413.827,50. A CPI identificou depósito na conta do deputado, de assessores e familiares.

Heleno Silva (PL-SE) – O deputado recebeu R$ 50 mil do esquema. O dinheiro foi entregue em várias parcelas no gabinete do parlamentar. Há recibos da Planam comprovando o recebimento. Luiz Antonio Trevisan Vedoin contou no depoimento à Justiça de Mato Grosso que o valor pago foi de adiantamento por emendas que seriam apresentadas, mas não chegaram a ser liberadas. Vedoin disse que o deputado fugia dele no Congresso por causa da promessa não cumprida.

Jorge Pinheiro (PL-DF) – O deputado recebeu R$ 75 mil do esquema. Do total, R$ 40 mil foram depositados na conta de um assessor e o restante pagos em espécie ao próprio deputado.

Cabo Júlio (PMDB-MG) – O deputado recebeu R$ 331.736,00 da quadrilha. A CPI identificou depósitos na conta do próprio parlamentar. O deputado também recebeu um presente de aniversário da quadrilha no valor de R$ 2 mil.

Josué Bengston (PTB-PA) – O deputado recebeu R$ 93.992 mil do esquema. O valor foi repassado em várias parcelas por meio de depósito em contas. O relatório não indica se o deputado recebeu o valor na própria conta ou na de assessores.

Marcos Abramo (PP-SP) – O deputado recebeu R$ 54 mil do esquema. O dinheiro foi repassado em espécie para o parlamentar num flat em Brasília. Segundo Luiz Antonio Vedoin há testemunhas. O próprio deputado fez o contato com entidades e o prefeito de Poá para direcionar a licitação das emendas.

Raimundo Santos (PL-PA) – O deputado recebeu R$ 47 mil do esquema. O dinheiro foi repassado na conta de um assessor que trabalha no gabinete do deputado em Brasília. Os assessores do parlamentar também teriam entrado em contato com prefeitos para tratar das licitações que eram fraudadas para beneficiar a Planam.

Reginaldo Germano (PP-BA) – O deputado recebeu R$ 129 mil do esquema. Do total, R$ 50 mil foram repassados em dinheiro vivo para o parlamentar; o restante foi depositado na conta pessoal e de assessores do deputado.

A CPI dos Sanguessugas não encontrou provas contra 18 dos 90 parlamentares que foram investigados por suposta participação com a máfia das ambulâncias. Os processos abertos contra esses parlamentares serão arquivados “por falta de provas”, conforme o relatório da comissão divulgado nesta quinta-feira. Dentre os inocentados estão os evangélicos:

Gilberto Nascimento (PMDB-SP)

Jefferson Campos (PTB-SP)

Zelinda Novaes (PFL-BA)

Fonte: Folha de São Paulo Online

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