O escritor português José Saramago, prêmio Nobel de Literatura em 1998, disse ontem que “o Deus da Bíblia não é de se confiar, é má pessoa e vingativo”, ao comentar seu último livro, “Caim”, criticado pela Igreja Católica e pela oposição conservadora de seu país.

Saramago, que apresentou no domingo passado sua obra durante uma homenagem a ele na cidade de Penafiel, no norte de Portugal, voltou hoje a falar sobre ela com jornalistas e reiterou suas críticas à Bíblia, que sempre geram polêmica em Portugal.

“Na Bíblia há incesto, (…) é inegável. Não existiria este livro se o episódio de Caim e Abel não estivesse na Bíblia, onde se mostra a crueldade de Deus. Não se deve ter confiança no Deus da Bíblia”, declarou hoje Saramago.

“Sou uma pessoa que desperta anticorpos em muitas outras pessoas, mas não me importa, faço meu trabalho”, afirmou o escritor luso, que considera que todo o “alvoroço” sobre “Caim” não vem do conteúdo do livro, mas das declarações que fez em Penafiel.

O novo livro de Saramago, de 180 páginas em sua edição portuguesa, aborda de maneira nada religiosa a figura bíblica de Caim e outros personagens e episódios do Antigo Testamento. Desde que foi lançado, segundo o escritor, “incompreensões”, “resistências” e “velhos ódios” foram suscitados.

O autor português reconheceu que, enquanto escrevia o livro, tinha a “clara noção de que ia ‘agitar as águas'”, mas não esperava que “a Igreja se pronunciasse com o livro ainda no forno”.

O prêmio Nobel, ácido em suas manifestações, disse que “não esperava reações dos católicos porque eles não leem nem a Bíblia”, e se perguntou: “Quem vai ler um livro desse tamanho?”.

Sobre a temática do livro, Saramago reconheceu que o a figura de Caim o acompanhava “há muito tempo” e acrescentou que a “questão” deste personagem bíblico sempre pareceu “um pouco estranha” para ele.

“Por que Deus aceita o sacrifício de Abel e rejeita o de Caim quando ambos apresentam suas oferendas? Aí se criou a inveja, Caim se sentiu humilhado”, segundo Saramago.

O escritor reconheceu que o assunto o interessava, já que, apesar de ser ateu, não pôde escapar dos valores cristãos, e disse que “não há um ateu absoluto, só poderia ser (ateu) aquele que vivesse em uma sociedade na qual Deus não tivesse penetrado”.

Fonte: EFE

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