Nas últimas três semanas o município de Ecoporanga, no extremo norte do Estado, localizado a 320 km da capital capixaba, recebeu novos moradores vindos, na maioria, da Grande Vitória. Em uma fazenda, seguidores do pastor Inereu Vieira Lopes abrem clareiras na mata preparando o terreno para o Dia do Juízo Final.

Trata-se da chegada de aproximadamente 120 fiéis da Tabernáculo Vitória, que se instalaram no distrito rural de Córrego do Paraíso, a 10 km da sede da cidade. Nesta quinta-feira, a reportagem da Rádio CBN / Portal Gazeta On Line viajou até o norte do Estado para conhecer as instalações onde está sendo erguida uma espécie de filial da Tabernáculo Vitória.

O que era para ser um fator positivo para a cidade, envolvendo principalmente o setor econômico, o aumento da população tornou-se um caso preocupante que tem deixado moradores antigos assustados.

Antes de seguir para o distrito de Córrego do Paraíso, a reportagem ouviu relatos de moradores da cidade, que disseram estar preocupados com o modo de vida dos fiéis seguidores da seita, já que eles não conversam com ninguém, não saem das dependências do local da construção e não deixam ninguém se aproximar deles.

Curiosa para saber o motivo que os trouxeram para Ecoporanga, a conselheira municipal de saúde, Wilse Muqui, contratou um táxi e foi com a mãe e um irmão até o assentamento onde eles se encontram. Não sabendo que não era permitida a entrada de desconhecidos, o taxista entrou com o carro no quintal da Tabernáculo, surpreendendo a todos os fiéis.

“Nós chegamos e entramos direto com o carro. O taxista desceu, deu boa tarde e eles responderam. Eu então perguntei: É verdade que aqui será fundada uma igreja? um rapaz que estava sentado falou que só quem poderia responder era o pastor. Depois de alguns minutos um homem chegou e nos chamou em um canto – era o doador da terra. Ele me disse que estavam querendo erguer uma igreja no local, mas havia muita burocracia. O taxista me cutucou e pediu para eu não fazer mais perguntas, pois ele estava com medo de alguma coisa. Eu olhei para minha mãe e disse para nós irmos embora. Eles deixaram a gente de lado e não deram mais atenção para nós. Na hora que chegamos tinha muitos homens e mulheres trabalhando e crianças brincando no terreiro. O povo daqui está com muito medo dessas pessoas”, conta a moradora da cidade.

Moradores de Ecoporanga contaram que o pastor Inereu Vieira chegou a ir às casas das pessoas pedindo para que elas vendessem os bens e fossem morar com os outros fiéis na comunidade. Uma das moradoras visitadas pelo pastor foi a empresária Carmelita Ferreira da Silva. Ela, que é proprietária de uma churrascaria e um hotel na cidade, contou que membros da igreja visitaram o restaurante dela e dias depois um deles ligou tentando convencê-la a vender tudo e ir morar no Córrego Paraíso pois Jesus Cristo está prestes a chegar à terra e só quem estiver na comunidade terá a salvação eterna.

“Um dia eu estava passando lá e vi esse pessoal. Dias depois o dono das terras onde eles estão veio no meu restaurante e eu perguntei a ele o que estava acontecendo. Ele disse que estava acontecendo um retiro. Perguntei então se aquelas pessoas tinham invadido as terras dele. Ele falou que tinha doado toda propriedade para eles. Depois dessa conversa eles ligaram para meu restaurante e me perguntaram se eu estava disposta a vender tudo o que eu tinha para ir morar lá. Eles disseram que quem vai para lá doa tudo que tem para eles e não precisa mais comprar roupas e nem comida. Não pode ter mais contato com ninguém e as crianças não freqüentam mais a escola”, relata a empresária.

O Conselho Tutelar de Ecoporanga já recebeu várias denúncias sobre essa comunidade. Uma delas é de um diretor de escola que está preocupado com as faltas de duas alunas. Os pais delas aderiram a seita e desde então nunca mais ninguém os viram. O diretor do Conselho Tutelar, José Maria da Silva, afirmou que só está aguardando o ofício do diretor para poder fazer buscas no local.

“Há uns vinte dias, o diretor de uma escola nos procurou dizendo que estava preocupado com alguns alunos que tinham evadido da escola, pois a seita Tabernáculo não estava permitindo o contato com o mundo exterior. Os pais desses alunos aderiram a essa seita. Só estou aguardando o ofício dele para poder tomar os procedimentos cabíveis”, conta o diretor do Conselho Tutelar.

Após conversar com os moradores, a reportagem seguiu para o assentamento dos membros da Tabernáculo. Ao se aproximar do local, alguns homens que estavam próximos a uma cerca que protege o local, se distanciaram e foram para dentro das casas. Alguns ficaram debaixo de uma cobertura e outros, cerca de 15, foram para o alto de um morro onde ficaram observando de longe a presença da equipe de reportagem.

Por volta das 16h50, um automóvel Fox, com placas de Vitória, chegou ao local trazendo cinco homens. Um deles desceu para abrir a porteira da fazenda e falou rapidamente que tinham acabado de chegar ao município. Questionado se eles iriam morar ali, ele respondeu que não estava autorizado a falar. Um dos ocupantes era um menino, aparentado ter menos de 15 anos. Ele desceu do veículo e entrou rapidamente na casa.

Apesar de nenhuma mulher e nem crianças serem vistas no lado de fora da propriedade, no varal havia toalhas e roupas infantis e vestimentas femininas. O ônibus que trouxe parte dos fiéis estava estacionado no quintal, além de outros dois carros de passeio.

Fonte: Gazeta Online

Comentários