O presidente da República do México, Felipe Calderón, rechaçou a proposta do Partido da Revolução Democrática (PRD) de despenalizar o aborto, tema que está na pauta da sociedade mexicana há nove anos e cuja rejeição une setores da Igreja Católica e de igrejas evangélicas.
Representantes do PRD no Senado pediram, ontem, ao presidente Calderón que atue como chefe do Executivo, e não como porta-voz do Partido Ação Nacional (PAN), que é contrário à despenalização do aborto.
O secretário-geral do PRD, Guadalupe Acosta Naranjo, disse que para Calderón não importa que mulheres morram ao abortar. Ele repreendeu o mandatário por antepor dogmas de fé ao cargo de chefe do Executivo.
O dirigente do Partido Alternativa Socialdemocrata e Camponesa, Alberto Begné, assegurou que o presidente Calderón violenta, com suas declarações, “a obrigação que tem de encabeçar um governo leigo para todos os mexicanos. Ele precisa saber distinguir entre suas convicções e seu papel como chefe de Estado”.
Segundo “La Jornada” em sua edição da quarta-feira, o líder do PRD entende que, além de procurar uma aliança com a hierarquia católica, Felipe Calderón mantém uma visão equivocada sobre as coisas. “Vivemos num Estado laico, mas se fosse pelos panistas não se usaria a camisinha e seguiríamos tendo uma taxa anual de crescimento (da população) de 4%”.
Organizações católicas saíram em apoio ao presidente da República, alegando que ele defende a vida, e se comprometeram a marchar contra a proposta. A organização de Advogados Católicos informou que apresentará queixa à Comissão Interamericana de Direitos Humanos porque os legisladores pretendem censurar os ministros de culto e os leigos que se opõem ao aborto.
O presidente da Confraternidade de Igrejas Cristãs e Evangélicas, Arturo Farela, também se posicionou contra a despenalização do aborto.
Setores de defesa dos direitos da mulher levantaram suas vozes. Católicas pelo Direito a Decidir e a organização Equidade e Gênero argumentaram que o Executivo não tem o poder de ordenar à Assembléia Legislativa quais temas podem ou não ser tratados. “O aborto é uma realidade e dizer que ele divide a nação e que por isso não deve ser debatido é não reconhecer que o país está dividido entre pobres e ricos, entre pobreza e abundância, e nem por isso se deve deixar de debater a pobreza”, afirmaram.
A Universidade Autônoma do México (Unam) informou que das 2,5 milhões de crianças que nascem por ano no México, entre 450 e 575 mil são filhos de mães adolescentes, com idade entre 11 e 19 anos. Mais grave é a constatação de que 20% dessas gestações são resultado de estupros – a maioria praticada por pessoas da própria família.
Fonte: ALC