A Arquidiocese Católica de Denver anunciou nesta terça-feira, 1° de julho, um acordo de US$ 5,5 milhões para resolver 18 casos de abuso sexual cometidos por três padres contra jovens paroquianos entre 1954 e 1981.

Entre os casos, 17 envolviam os padres falecidos Harold Robert White e Leonard Abercrombie. Uma queixa era contra o monsenhor Lawrence St. Peter, também falecido.

O arcebispo de Denver, Charles Chaput, disse que a provação das vítimas é terrível e “imensamente mortificante” para a Igreja.

“Nós não podemos desfazer os pecados e fracassos do passado, ou o sofrimento que causaram”, disse Chaput em uma coletiva de imprensa. “Eu gostaria de expressar a tristeza de todos nós da Igreja pelo fato disto ter acontecido.”

Desde agosto de 2005, a arquidiocese resolveu por meio de acordos 36 processos e sete outras alegações contra White, Abercrombie e St. Peter, totalizando cerca de US$ 8,3 milhões, disse a porta-voz da arquidiocese, Jeanette DeMelo.

Restam apenas mais dois casos de abuso sexual contra menores contra a arquidiocese, disseram as autoridades. Estes casos pendentes envolvem Abercrombie e outro padre falecido, Thomas Barry.

Um advogado de 14 das vítimas, Jeff Anderson, de Saint Paul, Minnesota, disse que White abusou de 12 de seus clientes. White era um criminoso em série que não conseguia se controlar, disse Anderson, e as autoridades da arquidiocese que poderiam tê-lo detido, denunciando as queixas contra ele à polícia, não tiveram coragem de fazê-lo por décadas.

“Elas acobertaram e permitiram a ele ser o que era”, disse Tom Koldeway, 47 anos, um dos três irmãos Koldeway que sofreram abusos por White em Minturn, a cidade nas montanhas do Colorado para a qual foi nomeado. “Acusações já tinham sido feitas contra ele antes mesmo de eu ter nascido. Eles sabiam.”

Koldeway disse que o aspecto mais satisfatório do acordo é a revelação da cumplicidade da arquidiocese nos crimes de White.

O pai dos Koldeway, Art, disse que a agonia de seus filhos “partiu a família ao meio”.

As vítimas dos padres tinham idades entre 8 e 14 anos quando sofreram os abusos, disse Anderson.

White era sempre transferido para outras paróquias, hospitais e escolas em Denver, Sterling, Minturn, Colorado Springs, Aspen, Loveland e Wheat Ridge.

“Diante do que sabemos hoje sobre abuso sexual, muitas das decisões tomadas pela liderança da arquidiocese durante os anos 1961 a 1981, em relação a Robert White, agora seriam muito diferentes”, disse Chaput.

Brandon Trask, 52 anos, foi o primeiro deste grupo de querelantes a acusar White de estupro.

“Procurar a arquidiocese foi extremamente assustador”, disse Trask. “Eu perguntei a eles o que sabiam, quando souberam e o que fizeram a respeito. A resposta foi: ‘Não podemos dizer, não podemos dizer, não podemos dizer’.”

A vítima de abuso Randy Becker, 47 anos, disse que não conseguia dizer a verdade até o fantasma de seu pai falecido ter aparecido a ele.

“Eu ainda tenho fé em Jesus Cristo, mas perdi totalmente minha fé na Igreja Católica”, disse Becker, enquanto seu neto de 7 anos soluçava discretamente atrás dele.

Chaput disse que os acordos eram vitais para as vítimas e também grandes o suficiente para esgotar significativamente os recursos da Igreja para educação e outros serviços. Mas a arquidiocese, que atende 525 mil católicos no norte do Colorado, não foi forçada a vender propriedades para pagar as vítimas, diferentemente da Arquidiocese de Los Angeles, que vendeu imóveis para pagar os acordos no valor de US$ 660 milhões em 2007.

O arcebispo disse que a Arquidiocese de Denver busca há 20 anos um melhor entendimento da natureza do abuso sexual e como preveni-lo. Ele disse que seu antecessor, o arcebispo Francis Stafford, atualmente um cardeal que serve ao papa em Roma, estabeleceu políticas abrangentes para má conduta sexual em 1991, que incluem a denúncia imediata de qualquer alegação de abuso sexual de menor às autoridades legais.

Devido ao estatuto de limitações do Colorado, muitos clérigos que cometeram abusos nunca enfrentarão acusações criminais, disse Anderson.

Um processo civil também costuma ser limitado a um período de seis anos após a vítima completar a idade de 18 anos.

Chaput disse que a arquidiocese adotará mediação – não litígio – com as vítimas independentemente do período de tempo.

Fonte: The New York Times

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