Caso de padre pedófilo na Baviera ocupa Conferência dos Bispos Alemães. Críticos pedem fim do celibato e admissão de mulheres ao sacerdócio para combater um problema que atinge não só a Igreja Católica alemã.

A estatística criminal alemã aponta que, em 2006, foram registrados 12.700 casos de abuso sexual contra crianças, sem contar os casos não denunciados à polícia. Peritos estimam que, em 90% desses casos, os pedófilos são familiares ou parentes das vítimas; em 5% a 6% estariam envolvidos professores e padres.

O caso mais recente envolvendo um sacerdote veio a público às vésperas da conferência geral de outono dos bispos alemães, que aconteceu até hoje (27/09), em Fulda, no centro do país.

O bispo de Regensburg, Gerhard Ludwig Müller, nomeou como pároco da localidade de Riekofen, na Baviera, um sacerdote que, em 2000, havia sido condenado por pedofilia. Ele se tornou reincidente e novamente se encontra em prisão preventiva.

O bispo, que está sendo duramente criticado dentro e fora da Igreja, rejeita qualquer autocrítica: “A responsabilidade pelo crime é de quem transgride a lei”, disse. Ele afirmou que cumpriu os requisitos jurídicos e que o pároco fora considerado “curado” num parecer médico anterior à nomeação.

Tolerância zero?

Embora a agenda oficial do encontro dos bispos seja o diálogo entre religiões, o assunto pedofilia entre sacerdotes domina o evento. Segundo observadores, o fato de que os bispos voltam a discutir o problema em Fulda mostra que ele não foi superado.

Segundo o presidente da Conferência dos Bispos Alemães (CBA), cardeal Karl Lehmann, a Igreja alemã elaborou há cinco anos uma diretriz baseada na linha ditada pelo então papa João Paulo 2º, em 2002: “tolerância zero” como receita contra sacerdotes pedófilos. “Não podemos aprovar mais do que uma recomendação sobre esse assunto”, disse Lehmann.

Na opinião do movimento “Nós somos Igreja”, que realizou um protesto em frente à catedral de Fulda, as medidas anunciadas até agora pela CBA não bastam. “Elas não são obrigatórias para os bispos. E o bispo de Regensburg não considerou necessário respeitar essa diretriz”, disse Sigrid Grabmeier, porta-voz do movimento.

Imagem arranhada

A pedofilia entre sacerdotes é caracterizada como a “face horrível” da Igreja Católica. Nos últimos anos, tornaram-se cada vez mais freqüentes os casos que vieram a público no México, no Brasil, na Alemanha, na Áustria, nos EUA, na Irlanda ou no Japão.

Uma onda de escândalos nos EUA lançou a Igreja do país numa profunda crise. Em julho passado, a aquidiocese de Los Angeles fez um acordo de indenização com mais de 500 vítimas de pedofilia, compromentendo-se a pagar 660 milhões de euros (cerca de 1,3 milhão de euros para cada vítima).

Várias dioceses norte-americanas encontram-se à beira da ruína financeira. “Pior ainda é o dano causado à imagem da Igreja”, disse um teólogo do Vaticano, que prefere se manter anônimo, à agência alemã de notícias DPA.

Após um escândalo revelado no ano passado na Irlanda, um estudo concluiu que 3% dos sacerdotes do país cometeram abusos sexuais nas últimas décadas. Nos EUA, esse índice seria de até 30% dos padres, segundo alguns estudos. Com base nos casos registrados nos Estados Unidos, teólogos calculam que existem entre 200 e 300 sacerdotes pedófilos na Alemanha.

Psicólogos e críticos da Igreja Católica afirmam que a obrigatoriedade do celibato e a proibição do casamento favorece o recrutamento de sacerdotes com opções sexuais duvidosas. Por isso, movimentos reformistas, como o “Nós somos Igreja”, exigem o fim do celibato como “forma de prevenção” à pedofilia.

Pelo Código Penal Alemão, pedófilos podem ser condenados a até dez anos de prisão. Em caso de morte da vítima, esta é a pena mínima. Até agora, não há informações sobre indenizações milionárias, como as que foram pagas nos EUA. Em 2005, a diocese de Magdeburg pagou 25 mil euros a uma vítima de abuso sexual por parte de um padre – num caso de indenização até então inédito no país.

Fonte: DW World

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