Os ataques a terreiros de religiões de matriz afro-brasileira na Baixada estão sendo ordenados por traficantes. É o que afirmam denunciantes que têm ligado nas últimas semanas para o ‘Disque Combate ao Preconceito’, serviço criado pela Secretaria de Estado de Direitos Humanos e Políticas para Mulheres e Idosos (SEDHMI).
“Nesses 20 dias de funcionamento, recebemos depoimentos de pessoas com receio de fazer o registro na polícia, por medo de sofrer represálias de bandidos. Muitos acusam traficantes de serem os responsáveis pelos atendados”, afirma o secretário Átila Alexandre Nunes.
Somente em Nova Iguaçu, sete casas religiosas foram depredadas nos últimos dois meses. O último caso aconteceu esta semana. Na quarta-feira, frequentadores encontraram o terreiro de candomblé Ilê Asé Togun Jobi, no bairro Parque Flora, totalmente destruído.
Segundo o secretário, os casos eram, em geral, tratados pela polícia como furtos convencionais, já que os criminosos, além de quebrar imagens sagradas, levam objetos de valor para esconder o caráter de intolerância religiosa. Entretanto, ele acredita que há ataques orquestrados, que precisam ser investigados de forma mais profunda, e disse que medidas por parte da Segurança Pública já começam a ser discutidas.
As denúncias recebidas na Secretária, segundo Nunes, foram encaminhadas à 58ª DP, responsável pela região da Posse, em Nova Iguaçu.
O secretário ressalta ainda que se preocupa com danos à imagem dos evangélicos, já que, segundo as denúncias, alguns criminosos fazem o mal uso do nome da religião para justificar os ataques.
Nova Iguaçu tem 253 casas de umbanda e candomblé, segundo o secretário. Em outro episódio, há algumas semanas, o terreiro Kwe Cejá Danlomin Lojiquejil, na Rua Capitão Chaves, teve boa parte de sua estrutura destruída e incendiada. O Centro Espírita Unidos Pela Fé, na área da 58ª DP, foi invadido e teve elementos religiosos quebrados. Imagens de santos e outras peças foram roubadas. Além dos atentados aos terreiros, no fim de agosto, uma idosa candomblecista foi apedrejada.
O deputado Àtila Nunes, pai do secretário, se reuniu com o secretário de Segurança Pública, Roberto Sá, para discutir a instalação da Delegacia De Crimes Raciais e Delitos de Intolerância (Decradi) na tentativa de cuidar exclusivamente desses casos.
Roupas brancas são proibidas
Para a socióloga e autora do livro ‘O sabá do sertão: feiticeiras, demônios e jesuítas no Piauí colonial’, Carolina Rocha, os casos de intolerância religiosa em comunidades são antigos. Segundo ela, no Morro do Dendê, na Ilha do Governador, moradores que seguem umbanda e candomblé foram proibidos por chefes do tráfico de usar branco e grafites de orixás foram apagadas dos muros. A socióloga Carolina lamenta que algumas religiões de origem neopentencostal partam do princípio de que o mundo é um lugar de guerra.
A socióloga ainda explica que as religiões de matriz africana não são expansionistas, pois não têm como objetivo buscar a conversão de novos adeptos. Diferente de outras que buscam o meio urbano, principalmente os de precariedade social.
Para Ivanir dos Santos, da Comissão de Combate à Intolerância Religiosa e Babalawo, os líderes religiosos não podem ficar calados diante do crescimento da intolerância religiosa. “O clima entre os adeptos das religiões de matriz afro-brasileira é de medo. As autoridades precisam fazer alguma coisa efetiva para acabar com esses ataques”.
Fonte: O Dia