Dom Orani Tempesta, arcebispo do Rio, afirmou que traficantes invadiram torre do santuário da Penha para monitorar ação da PM. Segundo ele, invasões são frequentes e fazem “parte da guerra urbana’; foi preso um dos acusados de chefiar invasão que iniciou confrontos.

O Santuário de Nossa Senhora da Penha, destino de romeiros de todo o país e um dos cartões-postais do Rio, foi usado por traficantes para monitorar a movimentação dos policiais durante os conflitos da semana passada em favelas vizinhas, que deixaram um morador morto e cinco feridos.

A invasão foi confirmada ontem pelo arcebispo do Rio, dom Orani Tempesta, que participou de procissão e rezou missa campal pelo 374º aniversário do santuário. Na cerimônia, ele pediu paz para a cidade.

Segundo o arcebispo, as incursões de traficantes nas torres da igreja são frequentes e fazem “parte da guerra urbana” no Rio. “”A igreja não está isenta disso.” Ele disse não saber se os bandidos estavam armados quando entraram na igreja e lembrou que as casas de moradores também são invadidas. Afirmou que as autoridades têm conhecimento do fato.

Construída no topo de um penhasco, a igreja se destaca na paisagem da zona norte. É cercada por nove favelas, todas com presença de traficantes do Comando Vermelho (CV), entre elas a Vila Cruzeiro, que viveu dias tensos: a polícia fez incursões na quarta e na sexta.

Durante as ações, surgiu a informação de que bandidos invadiram as torres da igreja, mas a Cúria Metropolitana não tinha se manifestado antes.

O reitor do santuário, Serafim Fernandes, disse que a igreja tem bom relacionamento com os moradores vizinhos: a maior parte dos empregados é escolhida nas comunidades; o Colégio Nossa Senhora da Penha dá 150 bolsas de estudos aos jovens; e cestas básicas são distribuídas aos mais pobres.

Paz

O tema do 374º aniversário do santuário foi a paz -escolhido antes dos conflitos recentes, segundo o reitor. A escadaria de 382 degraus foi enfeitada com bandeiras brancas com corações e a palavra paz. Na rota da procissão, moradores enfeitaram fachadas e muros com colchas, toalhas, flores, balões e cartazes pela paz.

O comerciário Sebastião Melo colocou uma imagem da santa sobre uma mesa enfeitada na frente de sua casa. “”Vivemos com medo. Na semana passada, minha rua parecia uma praça guerra”, disse ele.

Outra moradora mostrou dois cartuchos de balas que recolheu em sua varanda. Moradores e ambulantes avaliaram que a violência reduziu o total de fiéis nos festejos deste ano.

Antes de o arcebispo confirmar a invasão, o vice-presidente da Associação dos Moradores de Merindiba, Jorge Ribeiro, negou o fato e disse que os traficantes respeitam a igreja.

Os atuais confrontos entre PM e traficantes no Rio começaram após a derrubada de um helicóptero policial durante invasão do CV ao morro dos Macacos (zona norte), há nove dias. Até ontem, o balanço era de 42 mortos, dos quais três policiais que estavam no helicópteros e 35 supostos traficantes.

Ontem, foi preso Fábio Gonçalves dos Santos, 27, o Binho da Matriz, acusado de ser um dos chefes da invasão do morro dos Macacos.

No sábado à noite, um jovem menor de idade morreu após tiroteio com PMs em São João de Meriti (Baixada Fluminense). Dois outros foram presos com armas e drogas, mas não estava confirmado o envolvimento dos três no conflito do dia 17.

Fonte: Folha de São Paulo

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