Ricardo Esquivia fala sobre a dura realidade em que vivem os evangélicos na Colômbia e qual a situação do país após a libertação de Ingrid Betancourt. “Os cristãos evangélicos têm sofrido perseguições muito grandes neste país”, revela o pastor Esquivia.
No começo de julho, veículos de comunicação do mundo inteiro noticiaram com destaque e grande alvoroço a libertação da ex-senadora colombiana Ingrid Betancourt, que passou seis anos e quatro meses na selva como refém das Forças Armadas Revolucionárias Colombianas, as temidas FARC. Propagandeavam que os guerrilheiros rebeldes haviam sofrido sua mais humilhante derrota em uma espetacular operação de inteligência do governo colombiano. Mais: agora os narcotraficantes estavam enfraquecidos e a beira da derrota. Nada poderia ser tão equivocado quanto essas análises, feitas por pessoas que não conhecem a Colômbia. Apesar de ter uma grande carga simbólica, a euforia pela libertação de Ingrid mascara uma dura realidade que enfrentam as pessoas que vivem naquele país.
Há exatos 60 anos, o assassinato de um popular líder trabalhador e candidato às eleições presidenciais foi o estopim para um banho de sangue e violência que até hoje perdura no país. De um lado as guerrilhas de inspiração comunista, lutando sob a bandeira da justiça social, mas que descambaram para a marginalidade, para o tráfico de drogas e para os mais sinistros meios de extorsão e arrecadação de dinheiro. Do outro, grupos paramilitares de direita, ligados a grandes fazendeiros ou ao governo, e o próprio exército colombiano. No meio, não apenas os norte-americanos, que consomem 90% da cocaína produzida no país. Também milhões de colombianos que sofrem com uma violência sem fim. Principalmente, os evangélicos. Considerado um dos 50 países onde a perseguição religiosa é uma dura realidade, a Colômbia teve mais de 300 pastores e líderes evangélicos assassinados na última década. Nesse mesmo período, mais de mil igrejas foram fechadas à força.
Nessa guerra cruel, Deus tem levantado homens e mulheres que, com coragem e ousadia, levam sua Palavra, buscam a paz e aceitam pagar o preço com suas próprias vidas. Mas entre eles, poucos sabem o que significa sofrer perseguição quanto Ricardo Esquivia, 61 anos. Advogado por profissão – e por necessidade, já que o domínio do Direito colombiano é essencial para se livrar de acusações e promover mudanças na legislação –, pastor por vocação, há mais de 40 anos, ele trabalha para promover soluções pacíficas para os conflitos no país, fortalecer as igrejas cristãs, buscar justiça social e indicar o único caminho certo para que o país encontre a paz: a pregação da Palavra de Jesus Cristo. Nesse tempo, perdeu a conta de quantas vezes precisou se mudar por conta de perseguições e de tantas outras em que foi ameaçado de morte, caluniado e preso injustamente. Apesar disso, mantém com firmeza a determinação de não deixar nada disso calar sua voz. Entre tantas viagens para Bogotá e cidades onde cristãos estão sendo duramente oprimidos, e os trabalhos da ONG que ajudou a fundar, a Justa Paz, e da Comissão de Direitos Humanos e Paz do Conselho Evangélico da Colômbia, Esquivia encontrou um tempo para falar com ECLÉSIA e fazer um alerta: “É preciso conhecer a realidade dos cristãos colombianos. Se nada mudar, a guerra não terminará”.
REVISTA ECLÉSIA – A libertação de Ingrid Betancourt tem sido divulgado pela imprensa como uma grande vitória da democracia contra a violência das FARC. Qual é a sua opinião sobre o regaste?
RICARDO ESQUIVIA – Os efeitos da libertação de Ingrid Betancourt e de outros 11 reféns tinham sido mais do que um passo em direção à vida e à liberdade. É muito encorajador que essas pessoas tenham sido libertadas. Agora, como o fizeram utilizando o símbolo da Cruz Vermelha Internacional, isso lança um manto de dúvidas sobre as ações do governo e evita também que seja considerada uma grande vitória da democracia contra as FARC. Existem ainda mais de 700 reféns sob o domínio das FARC. O que acontecerá com eles? É mais importante a vida de uma pessoa, como Ingrid Betancourt, que os outros 700? Penso que, se há democracia, devem ser respeitados os acordos principalmente por parte do governo nacional, da autoridade legal. Agradeço a Deus pela liberdade destas pessoas que vieram de volta à vida e gostaria pedir ao governo para que não cometa nada que possa piorar a vida dos outros reféns ainda sob o controle do grupo guerrilheiro.
Como está o clima aí na Colômbia após a libertação de Ingrid? Há quem diga que os guerrilheiros estão acabados e citam até números para justificar: o exército matou 10 mil guerrilheiros nos últimos cinco anos, três membros do alto secretariado das FARC foram mortos este ano, quase 12 mil deserdaram desde 2002 e agora o resgaste dos reféns, que dizem ter sido uma desmoralização para a guerrilha. Como o senhor vê as FARC hoje?
Sem dúvida, este ano o governo e o exército nacional atuaram com muita força contra as FARC, que têm sido muito enfraquecidas. Verificamos que há falta de comunicação e despreparo de alguns dos seus membros e dos próprios comandantes. Os guerrilheiros foram obrigados a recuar para a selva de novo. Mas a forma triunfalista com que o governo impõe estes últimos resultados pode ser negativa. Os guerrilheiros das FARC ainda estão vivos, atuantes, e têm grande capacidade de fazer mal. Acredito que é hora do governo oferecer a oportunidade de um diálogo no sentido humanitário, para não expor mais de 700 reféns. Não creio que as FARC estejam desmoralizadas e a ponto de desintegrar. Há um grupo forte, com capacidade militar para fazer muito dano. A guerra não é o caminho. É a hora de um acordo humanitário e de início das conversações de paz.
As FARC divulgam ser uma força revolucionária criada para trazer justiça social, mas seu grande negócio é o narcoterrorismo. Inclusive, imagens recentes de reféns acorrentados pelo pescoço provocaram repulsa mundial por conta da brutal violência. Como o senhor analisa a guerrilha de esquerda e os grupos paramilitares de direita aí da Colômbia?
Acredito que o uso da violência e da guerra degradam qualquer grupo armado, quer aja de forma legal ou ilegal. Qualquer um que tenha mais capacidade financeira para comprar armas, ganha uma guerra. O governo aumenta os impostos e as guerrilhas redimem as suas ações. A guerrilha escolheu como forma de financiamento de suas ações a extorsão, seqüestro e tráfico de droga. Isto degrada e distancia os próprios membros dos ideais de justiça social. Mas não é só o tráfico de droga que tira a legitimidade das FARC enquanto grupo, mas também o financiamento de paramilitares mostra a corrupção dentro do governo e da sociedade. O tráfico de drogas é uma tragédia nacional e que tem corrompido as almas de muitas pessoas na Colômbia. Esta visão geral do tráfico de drogas subsidia as FARC para justificar sua união com narcotraficantes.
Segundo a organização Portas Abertas, a Colômbia é um dos países onde mais os cristãos são perseguidos no mundo. Esse lado é um tanto obscuro, porque a imprensa não costuma divulgar. Como é a perseguição que vocês enfrentam aí?
Os cristãos evangélicos têm sofrido perseguições muito grandes neste país. Inicialmente, entre os anos 1948 a 1962, foi o próprio governo e muitos dignitários da Igreja Católica que executavam essas perseguições. Hoje, em alguns dos lugares onde as FARC e o Exército de Libertação Nacional (ELN) estão presentes e ativos, igrejas, pastores e seus líderes sofrem perseguições. Templos fechados, líderes mortos, famílias desabrigadas e ameaças de seqüestro são os crimes mais comuns contra cristãos evangélicos. Em 2007 foram registradas 25 mortes de membros das igrejas evangélicas. Destas, 14 eram pastores. Mas além desta perseguição por parte dos grupos ilegais, o governo e as autoridades estatais não respeitam a igualdade e liberdade de culto. O governo convidou apenas a Igreja Católica para ser mediadora e apoiadora oficial em conversações com a guerrilha. Tanto que a presença de bispos é constante em atos oficiais. Mas nunca houve, por parte do governo, o convite a líderes evangélicos. A esses líderes são renegadas oportunidades e há ainda discriminação. É muito difícil a situação do povo cristão evangélico na Colômbia. Precisamos de mais organização do povo cristão e de apoio internacional.
Particularmente, as FARC perseguem e odeiam os cristãos evangélicos. Por quê?
Acredito que a tendência marxista das FARC ajuda muito nesta posição. Também há oposição aberta de várias igrejas, para não dar apoio a guerrilhas armadas. As igrejas evangélicas se recusam a participar das reuniões e eventos da guerrilha por não concordarem com a violência e são vistas como agentes do governo colombiano e norte-americano, transformando-se em alvo de represálias.
Temos informações de que, nos últimos dez anos, 300 pastores e líderes foram assassinados e mais 1 mil igrejas, fechadas. A situação é tão grave assim?
É verdade que pastores e líderes foram assassinados e templos foram fechados. Atualmente, em alguns locais, a situação melhorou, mas em outros, permanece o mesmo. Sei de centenas de famílias cristãs que hoje estão em situação muito difícil. As mortes continuam. A guerra afeta estas pessoas. E as mortes não acontecem só pela guerrilha, mas também pelas ações de alguns membros do exército nacional.
O senhor costuma dizer que a principal causa dessa quase guerra civil pela qual o país atravessa tem sua origem na injustiça social. Como assim?
Desde o início, a República colombiana foi excludente. Não havia espaço para negros, nem índios, nem pobres. Apenas os herdeiros da colônia espanhola. Hoje, o país está mergulhado em uma profunda crise social e política. Uma elevada taxa de desemprego, as terras em poucas mãos, sem a reforma agrária. O sistema de saúde está privatizado. As crianças morrem de fome. As pessoas são obrigadas a deslocar-se para cidades e daí para as plantações de coca. Toda esta situação é um terreno fértil para a guerra. A Bíblia diz que a paz é fruto da justiça. Na Colômbia não existe justiça social e tudo tem sido resolvido com violência e armas. Hoje, os grupos armados são conhecidos como FARC, ELN. Amanhã vão surgir outros nomes. A Carta aos Gálatas lembra que tudo o que é plantado, é colhido. Se plantamos guerras, mentiras, decepção, injustiça, vamos colher guerra e morte. Só quando você semear os valores do Reino de Deus é que haverá justiça e paz.
Como funciona a Justapaz e com que objetivo vocês fundaram a entidade em 1989?
A Justapaz é um espaço para a educação e evangelismo. Trata-se de um ministério da Igreja Mennonita da Colômbia aberto a outras denominações. Procuro treinar os membros das igrejas para desempenharem a missão integral e influenciarem a sociedade colombiana. Assim, acredito que ela será educada na não-violência, resolução de conflitos e transformação e construção da paz.
Além dela, o senhor também tem um trabalho forte junto à Comissão de Direitos Humanos e Paz do Conselho Evangélico da Colômbia (Cedecol), promovendo soluções pacíficas para situações de risco e ajudando carentes e necessitados. Como funciona o trabalho de vocês?
Acredito que a única maneira de igrejas cristãs evangélicas cumprirem sua missão é se integrando, sendo luz e sal para unir a sociedade colombiana. Unir a fim de compartilhar sonhos, idéias, recursos, ser respeitado e ter alcance social e politico. Só unidos e prontos para enfrentar perseguição, as violações dos seus direitos, o fechamento dos templos e ameaças, que se pode sobreviver em situações adversas, tais como aquelas de algumas igrejas aqui na Colômbia. A Comissão de Direitos Humanos e Paz do Cedecol está presente em todo o país e desempenha um papel social de unir a igreja local associada à comunidade em que está inserida. Também proporciona assistência e apoio em momentos de sofrimento à igreja perseguida.
Pode contar alguns casos que você já tenha ajudado ao promover soluções pacíficas?
Nós temos treinado centenas de pessoas como mediadores, conciliadores com capital próprio e juizes de paz. Nós temos também formado dentro de igrejas e comunidades, muitas pessoas que hoje estão ajudando as suas comunidades a resolver os seus conflitos de uma forma não-violenta.
O senhor é formado em Direito e costuma defender a reforma judicial como um dos instrumentos práticos para enfrentar tantos conflitos. Como isso aconteceria?
Na Colômbia existem, como em outros países latino-americanos, mecanismos legais para resolver conflitos alternadamente. Aqui temos conciliadores no capital próprio, que são líderes comunitários que estão formados, são competentes e sempre que um deles autoriza, a sua assinatura tem peso de caso julgado, isto é, como se se tratasse da sentença de um juiz. Foi implementado recentemente a justiça reparadora. Esta legislação vai ajudar na resolução de conflitos da comunidade.
Fale um pouco sobre o senhor: como e quando conheceu a Palavra de Deus? Como foi sua conversão?
Eu conheci a palavra de Deus com nove anos de idade, quando cheguei à Igreja Mennonita. Meu pai estava sofrendo de lepra e missionários menonitas abriram uma escola para crianças saudáveis de pais que sofriam de lepra. O governo colombiano não permitia que crianças, mesmo que saudáveis, de pais com lepra freqüentassem escolas ou outras instituições e elas foram abandonadas. Eu fui uma dessas crianças que se beneficiaram do trabalho missionário da Igreja Mennonita.
Como se deu seu envolvimento com a mensagem de justiça pela paz apresentada por Jesus Cristo?
Eu nasci e fui criado numa área afetada pela injustiça social. Sou filho de pai negro e mãe de ascendência indiana, dois grupos étnicos excluídos na distribuição de reconhecimento oficial na história e em muitas das oportunidades sócio-econômicas do meu país. Além disso, sou membro de uma minoria religiosa que não está em conformidade com a igreja oficial. Eu cresci junto com o conflito colombiano e sempre ouvi falar da guerra, morte, deslocamento, ameaças. Eu via e ouvia que são considerados catástrofes da injustiça, violência e guerra. Cresci em meio a muitas perguntas se formando em minha mente sobre a minha vida, meu povo, porque aquilo estava acontecendo. Perguntas que só tinham respostas em Deus e ao mesmo tempo eu as procurava no meu ambiente social, eclesial e acadêmico. Dei muitas voltas e, finalmente encontrei a mensagem de Jesus e obtive respostas precisas para a minha vida e minha gente. Eu creio em Jesus Cristo e seus ensinamentos. A paz é fruto da justiça. O que é plantado é colhido. Você tem que ser sal e luz para o povo. Temos de procurar vida em abundância seguindo e fazendo a vontade de Jesus. Nosso compromisso é com Jesus e não com governos, por isso o colombiano não deve participar em qualquer exército (nota da redação: uma das bandeiras de missões na Colômbia é combater a obrigatoriedade do serviço militar, pois isso leva jovens a ingressar em grupos paramilitares e narcoguerrilhas). A nossa pátria é a criação, a nossa família é a humanidade, por isso não deve existir discriminação entre os estrangeiros. Como povo de Deus, temos de construir comunidades de fé sobre a terra para materializar a promessa de Jesus.
Sua missão é cheia de riscos. Houve, inclusive, um caso de um grupo de lavradores que foi morto pelo exército depois do senhor pregar a eles sobre a não-violência. O exército o acusou de ser guerrilheiro e descontou nas pessoas. Como foi esse incidente?
Alguém afirmou que a guerra é a arte do engano quando a primeira vítima é a verdade. Quando você não concorda com a guerra e não está ao lado de um partido, logo vêm os ataques. Muitos dentro do governo colombiano foram seduzidos pela violência e têm medo de qualquer pessoa que não concorde com eles. Em 1986, comprei uma fazendo e ensinei os lavradores da região sobre a Palavra de Deus, a paz a ação social. O exército veio e me acusou de ser guerrilheiro. Por isso, matou vários desses lavradores. Revoltadas, muitos familiares se uniram mesmo à guerrilha. Foi um absurdo o que fizeram conosco. Mas não um caso isolado. É um exemplo do porquê os colombianos pobres se unem aos rebeldes: por causa de ataques e abusos do exército.
Houve também um caso em que você chegou a ser acusado de matar um padre e estrangeiros.
É outra forma de ataque que está fazendo com que as pessoas sejam levadas a julgamento nos tribunais, diminuindo assim o número de pessoas que procuram legitimidade. Foi o que aconteceu comigo. Acusaram-me de sere guerrilheiro e de idealizar a morte de um padre. Também, de acordo com os acusadores, havia muitos estrangeiros mortos, pelo menos, 42. As investigações foram iniciadas, mas pude demonstrar que não tinha nada a ver com esses crimes e consegui voltar para casa sem ameaças de prisão. É algo que tem se repetido na minha vida. Não há autoridades no governo que calem a minha voz.
O senhor já teve que fugir e mudar de endereço muitas vezes por causa da perseguição?
Eu tive que fugir várias vezes. Em uma ocasião, precisei até deixar o país. Tenho sido ameaçado várias vezes. Mas meu trabalho segue normalmente. Sofro com os atuais e naturais perigos de alguém que vive em uma área como essa. Atualmente vivo em uma pequena cidade na costa caribenha da Colômbia chamada Sincelejo. Essa área tem sido assolada pela violência, morte, destruição. Justamente por estes motivos, mudei de Bogotá para Sincelejo. Jesus disse que o médico deve estar onde há doentes. Penso que temos de aceitar o chamado de Deus para o lugar que ele determinar. Estou convencido de que era a vontade de Deus viver nesta área de violência, morte, injustiça e fome.
Como o senhor vê o crescimento e a atuação dos evangélicos na Colômbia e na América Latina? Eles têm cumprido seu papel?
Na Colômbia há um renascimento da Igreja. As grandes igrejas estão surgindo com muitas pessoas reunidas em um só lugar. Isso é bom, quando se reúnem todos os domingos em adoração a Deus, estão longe de fazer o mal e começam a construir a paz. Mas estou preocupado por não ver uma evolução positiva socialmente, mesmo com a presença de tantas igrejas. Tráfico de droga, seqüestros, guerras, violência e confusão continuam de maneira vertiginosa. Às vezes, penso que o fato do renascimento da Igreja não significa necessariamente que há mais seguidores de Jesus e nem que há vida em abundância para a sua população. Acredito que há uma grande diferença entre os prosélitos e discípulos, entre culto e seguir a Jesus. Vejo que as FARC são um pequeno grupo de pessoas armadas e são ouvidas em todo o mundo. Nós somos na Colômbia quase 5 milhões de crentes convertidos, mas quase nunca nos ouvem. Algo está errado. Quando Jesus atinge o mundo, ele tem que mudar. E isso é um cenário que se repete em toda América Latina.
Hoje, uma das guerras mais polêmicas está sendo travada justamente por uma nação cristã contra o terrorismo internacional. Os Estados Unidos invadem países e criam sanções com a desculpa de travar uma “guerra justa”. Em sua opinião, isso existe?
Não creio que qualquer guerra seja justa. Creio que os Estados Unidos da América é um grande povo e que a grande maioria lá professa o cristianismo. Não devemos repetir cruzadas de sangue e mortes. Se o governo norte-americano realmente quisesse paz não utilizaria esses milhões e milhões de dólares que estão usando na guerra para trazer as sementes da justiça que Jesus ensinou e, assim, alcançar a paz no mundo. Jesus diz que se o seu inimigo tem fome, dê-lhe de comer, se sedento, dê-lhe de beber. Eu realmente não entendo como se possa expressar o amor de Jesus com bombardeios, bloqueios econômicos, aproveitando as fontes de energia alheias promovendo guerras.
Há vários motivos para se ir à igreja. Aqui no Brasil, na atualidade, um dos mais fortes é receber prosperidade financeira. Como membro de uma Igreja perseguida, num país em que seguir Jesus pode custar a própria vida, que recado o senhor dá à Igreja brasileira?
Jesus disse: “Buscai primeiro o Reino de Deus e o resto será acrescentado” (Mateus 6:33). Acredito nisso. Temos de seguir Jesus, buscar primeiro a justiça, e então Deus nos dará a prosperidade econômica que precisamos. O contrário nos fará cristãos ricos e não discípulos de Jesus. Eu acho que é necessário rever isso. Se queremos ser discípulos de Jesus Cristo ou prosélitos ricos. Trata-se de uma opção, Jesus não obriga ninguém a seguir. Penso que isto se aplica a todos os seguidores de Jesus, não importa de que país sejam ou que situação vivam.
O senhor continua patrocinando o diálogo entre grupos armados e governo. Essa pode realmente ser uma solução para os conflitos na Colômbia? O que mais os evangélicos precisam fazer para mudar essa situação de violência e perseguição?
Sim, tenho procurado oportunidades de diálogo entre grupos armados e governo. Embora recentemente o governo só permita que estes diálogos sejam intermediados pela Igreja Católica. Mas mesmo que não sejam permitidos, penso que é nosso dever fazê-los. Penso que temos de resgatar o poder da palavra e o diálogo é uma oportunidade para qualquer conflito na Colômbia, Brasil, África. Jesus diz que, se o seu irmão peca contra você, você deve falar com ele. Este é um mandamento de Jesus e seus seguidores devem obedecer.
Fonte: Revista Eclésia