O principal assessor do papa João Paulo II, que faleceu em 2005 e teve como sucessor Bento XVI, está convencido de que a ex-União Soviética foi a responsável pela tentativa de assassinato contra o pontífice em 1981, pois o líder religioso representava uma ameaça àquele país.

A declaração consta das memórias do ex-assessor, o cardeal Stanislaw Dziwisz, secretário pessoal do papa durante quase quatro décadas.

No livro intitulado “A Life with Karol” (uma vida com Karol) e que deve ser lançado na quarta-feira pela editora italiana Rizzoli, Dziwisz descreve como foi sua vida ao lado do ex-cardeal Karol Wojtyla, eleito mais tarde líder da Igreja Católica com o nome de João Paulo II.

O assessor, que atualmente é arcebispo de Cracóvia, também descreve como o papa passou quase todo o 11 de setembro de 2001 rezando em sua capela particular e assistindo às notícias sobre os ataques daquele dia na TV.

Em um capítulo do livro, que deve ser lançado na Polônia na próxima semana, Dziwisz recorda o 13 de maio de 1981, dia em que o turco Mehmet Ali Agca atirou contra o pontífice quando este percorria a praça de São Pedro a bordo de um carro aberto, no início da audiência geral realizada semanalmente.

“Agca era um assassino perfeito”, escreve Dziwisz, que estava no veículo ao lado de João Paulo II no momento do atentado. “Ele foi enviado pelos que acreditavam que o papa era perigoso, inconveniente, pelos que o temiam.”

O governo russo negou várias vezes ter participado da tentativa de assassinato.

Na época do ataque, os fatos que se desenrolavam na Polônia, onde nasceu João Paulo II, deflagravam um efeito dominó que terminaria por levar à queda do comunismo no Leste Europeu, em 1989.

O pontífice foi um aliado fiel do sindicato polonês Solidariedade e, segundo a maior parte dos historiadores, teve um papel fundamental nos eventos que acabaram provocando a queda do Muro de Berlim.

“Como alguém não teria pensado no mundo comunista (como estando por trás da tentativa de assassinato)? É preciso levar em conta todos os elementos daquele cenário: a eleição de um papa odiado pelo Kremlin, sua primeira viagem de volta à Polônia (como pontífice, em 1979), o fortalecimento do sindicato Solidariedade (em 1980)”, escreve Dziwisz.

“Tudo não aponta nessa direção? Todos os caminhos, mesmo que diferentes, não levam à KGB?”

No ano passado, uma comissão parlamentar de inquérito da Itália disse que líderes da ex-União Soviética eram os responsáveis pelo plano e que Agca, um turco que hoje cumpre pena de prisão perpétua em seu país natal, não agiu sozinho.

Dziwisz também descreve como os médicos que operaram o papa estavam convencidos de que ele não resistiria.

No livro, o ex-secretário de João Paulo 2o conta ainda como o líder da Igreja Católica sofreu quando terroristas lançaram os ataques de 11 de setembro de 2001 contra os EUA.

“O Santo Padre estava em Castelgandolfo (a residência de verão do pontífice). O telefone tocou. Ouvimos a voz comovida de Sodano (cardeal Angelo Sodano, secretário de Estado do Vaticano). Ligamos a TV e assistimos àquelas cenas dramáticas, ao colapso das duas torres com tantas vítimas presas dentro”, escreve Dziwisz.

“Ele (o papa) passou o resto do dia entre a capela e a TV, arrastando todo o sofrimento atrás de si.”

Dziwisz também narra como João Paulo 2o fracassou em seus esforços para evitar a guerra no Iraque com o envio de representantes para conversar com o presidente dos EUA, George W. Bush, e o então presidente do Iraque, Saddam Hussein.

Em um dos capítulos, o ex-secretário lembra-se dos momentos finais do papa, no dia 2 de abril de 2005, depois de uma batalha de dez anos contra o mal de Parkinson.

“Eram 21h27. Percebemos quando o Santo Padre parou de respirar. (…) algumas pessoas pararam os ponteiros de seus relógios naquele horário.”

Fonte: Estadão

Comentários