Um relatório elaborado por um laboratório da USP (Universidade de São Paulo) chegou à conclusão que uma das sustentações do telhado da igreja Renascer, que desabou em janeiro em São Paulo, estava sem reforço. O acidente causou a morte de nove mulheres e deixou cerca de uma centena de pessoas feridas.
Parte da estrutura, chamada tecnicamente de tesoura (estrutura triangular de sustentação das telhas), foi analisada por pesquisadores do Lem (Laboratório de Estruturas e Materiais Estruturais) da Poli-USP (Escola Politécnica da Universidade de São Paulo). O que sustentava as telhas eram 14 dessas tesouras.
Segundo informou um professor do departamento à Folha Online, apenas partes da tesoura 14 foram entregues para análises qualitativas. Tal análise foi feita de forma voluntária pelos pesquisadores a pedido do IC (Instituto de Criminalística). Eles responderam a oito questionamentos formulados pelos peritos.
O IC informou que o laudo que irá apontar as causas do acidente deverá ser concluído apenas na próxima semana. Procurado, o instituto não quis comentar o assunto alegando que só irá fazê-lo quando da divulgação do laudo.
Apesar de ressaltar que a análise é uma visão “localizada” e os ensaios em uma única tesoura não são conclusivos para determinar o real motivo do desabamento do teto, este professor afirmou que, eventualmente, a ausência de reforço metálico pode ter cansado o material, provocando a queda.
Casos
Essa não foi a primeira vez que o Lem é requisitado por peritos ligados às polícias para realizar uma análise em um material.
Desde 1994 o laboratório é requisitado para auxiliar no trabalho de pesquisa e análise de materiais provenientes de tragédias.
Entre elas estão o desabamento do teto da Igreja Universal do Reino de Deus em Osasco (Grande São Paulo), que desabou em 1998 matando 25 pessoas e ferindo mais de 400 e a cratera da estação Pinheiros da linha 4-amarela do metrô, que matou sete pessoas.
Telhado
A Renascer não seguiu a recomendação do IPT (Instituto de Pesquisas Tecnológicas) de fazer revisões periódicas na estrutura do telhado, o que é negado pela denominação.
As revisões, de acordo com o IPT, eram fundamentais para garantir a segurança do teto. A Renascer diz ter feito as revisões, afirma que elas eram simples, mas não tem documentos para comprová-las. Revisões sem documentação técnica não têm valor legal.
A recomendação faz parte do relatório que o IPT elaborou em 15 de fevereiro de 2000, atestando que as recomendações que os engenheiros tinham feito para restaurar a estrutura do telhado da igreja haviam sido cumpridas. “Devido aos reforços introduzidos nas tesouras TR 01 a TR 14 a segurança está restabelecida nas condições atuais'”, diz o texto.
Tesoura é o jargão pelo qual é conhecida a estrutura triangular que sustenta as telhas. Há, porém, uma ressalva na aprovação da reforma: “No entanto, esta segurança precisa ser verificada ao longo do tempo, inspecionando-se periodicamente, para detectar possíveis danos causados à estrutura de madeira por fadiga, desgaste físico, biodeterioração e eventual sobrecarga não prevista”.
A igreja informou à época que havia sim seguido todas as orientações do IPT. “Nos testes realizados na época, apurou-se que a margem de segurança era até maior do que a prevista”, segundo nota emitida no dia 19 de janeiro deste ano.
Outro lado
Procurada para comentar o resultado das análises feitas pelo Lem, a Renascer afirmou que apenas irá se pronunciar após a divulgação do laudo das autoridades competentes, o que, segundo a Igreja –e contrário ao que informa o IC– deverá ser feito nos próximos 30 dias.
“Qualquer suposição sobre a tragédia, portanto, deve ser repelida como precipitada e irresponsável”, informa a nota.
Fonte: Folha Online