O Vaticano planeja realizar uma pesquisa com bispos católicos do mundo todo para saber se eles acreditam na possibilidade de textos bíblicos estarem sendo usados para alimentar o anti-semitismo.

A pesquisa, divulgada na sexta-feira pelo Vaticano como parte dos preparativos para um importante encontro no próximo ano, também pergunta se os bispos estão fazendo do diálogo com os judeus uma das prioridades de sua obra.

O questionário elaborado pela Igreja Católica afirma que os católicos não conhecem bem o Velho Testamento, as Escrituras que descrevem a história dos judeus antes da vinda de Jesus Cristo. E diz que os fiéis precisam de mais informações sobre como compreender o Velho Testamento e como interpretar algumas passagens difíceis dele.

“Os textos bíblicos estão sendo usados para incentivar atitudes anti-semitas?”, pergunta o questionário. A pesquisa deve estar concluída antes de um encontro de bispos marcado para acontecer em Roma, em outubro de 2008. “Está sendo dada prioridade ao diálogo com o povo judeu?”

As relações entre católicos e judeus melhoraram bastante desde 1965, quando o Concílio Vaticano Segundo rechaçou o conceito da culpa coletiva dos judeus pela morte de Cristo, pediu a abertura de um diálogo com os judeus e deu destaque às raízes judaicas do cristianismo.

E esses contatos intensificaram-se ainda mais em 1985, quando o papa João Paulo 2o visitou uma sinagoga em Roma e chamou os judeus de “nossos queridos irmãos”. O pontífice, mais tarde, visitou Jerusalém e pediu perdão pelos erros dos católicos diante dos judeus.

Nas últimas semanas, no entanto, estudiosos judeus e católicos destacaram a possibilidade de os laços entre as duas religiões serem novamente abalados devido aos planos do Vaticano de permitir a realização de missas em latim.

A versão tradicional dessas missas inclui antigas orações pedindo a conversão dos judeus e significaria um retrocesso em relação à postura atual de respeito ao judaísmo.

O papa Bento 16 deve anunciar em breve a retomada das missas em latim. Não se sabe, porém, se as antigas orações usadas na Sexta-Feira Santa e que pedem a conversão dos judeus serão retomadas.

Atenção especial aos judeus

“Uma atenção especial é dada ao povo judaico. Cristo e os judeus são filhos de Abraão, com base na mesma aliança”, afirmou o documento do Vaticano, referindo-se ao laço bíblico selado entre Deus e Israel.

Segundo o texto, os católicos deveriam conhecer melhor “o caráter original da compreensão judaica da Bíblia”. Ao mesmo tempo, alertou sobre o perigo das leituras literais do texto sagrado que tendem para o fundamentalismo e provocam “polêmicas desnecessárias”.

Recentemente, o papa Bento 16 argumentou contra a leitura criacionista da Bíblia, comum entre os protestantes evangélicos, e disse que a evolução poderia ser aceita dentro de uma postura cristã mais abrangente, segundo a qual Deus continuava a ser o criador original do universo.

Fonte: Reuters

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