Conferência começa hoje e vai até sábado. A Igreja acha importante que a teologia conheça bem a história da evolução do homem, porque isso lhe permite interpretar melhor a Bíblia, que pela revelação da palavra divina leva ao conceito de Deus.
Professores e cientistas brasileiros acompanharão à distância, mas com muito interesse, os debates que o Pontifício Conselho da Cultura promoverá na Universidade Gregoriana sobre a evolução biológica, por ocasião dos 150 anos da publicação de A Origem das Espécies, de Charles Darwin.
Preparada durante os últimos dois anos pelo Vaticano, a Conferência Internacional Evolução Biológica: Fatos e Teorias reunirá, de hoje, 3, a sábado, 7, pesquisadores católicos e agnósticos para uma discussão sobre as implicações da teoria darwiniana na ciência e na teologia.
“Não se trata de uma celebração em homenagem ao cientista inglês, mas sim de refletir sobre a dimensão de um acontecimento que marcou a história da ciência e influiu sobre a maneira de compreender a nossa humanidade”, observou o jesuíta Marc Leclerc, professor de Filosofia da Natureza da Gregoriana e diretor da conferência. Criação e evolução, tema sempre em pauta quando se estuda Darwin à luz dos relatos da Bíblia, serão debatidas em níveis diferentes, sem confusão entre o plano científico e as questões ligadas à fé ou à religião.
Ao conferir o programa da conferência, o biólogo e geneticista Crodowaldo Pavan, professor emérito da Universidade de São Paulo (USP), observou que criação e evolução sempre correm paralelamente nos debates entre cientistas e teólogos. Pavan lembra que fez essa afirmação numa entrevista publicada em 2001 pela Science Magazine, cujo texto foi reproduzido com agrado pela Santa Sé. Evolucionista e agnóstico, o pesquisador brasileiro é, desde 1978, um dos 80 membros da Pontifícia Academia de Ciências, do Vaticano.
“Na perspectiva da teologia cristã, evolução biológica e criação não se excluem, mas podemos afirmar, considerando o termo evolução no seu significado mais amplo, sem referência a um ou mais mecanismos evolutivos específicos, que a evolução é, no fundo, a maneira pela qual Deus cria”, afirmou Giuseppe Tanzella-Nitti, professor de Teologia Fundamental da Pontifícia Universidade da Santa Cruz, ao apresentar a programação da conferência.
Segundo o biólogo e sociólogo Francisco Borba Ribeiro Neto, coordenador do Núcleo Fé e Cultura, da Pontifícia Universidade Católica (PUC-SP), conflitos e antagonismos entre ciência e religião costumam existir no contexto dos fundamentalistas, católicos ou evangélicos, que recorrem ao conceito de “Deus das Lacunas”. “Todas as formas de religiosidade mais simples trabalham com o modelo do Deus das Lacunas, um Deus caprichoso que entra na história quando a lógica não é capaz de explicar os fenômenos”, diz.
Os coordenadores da conferência sobre evolução do Vaticano advertem que também o intelligent design (ID ou projeto inteligente) é um fenômeno de natureza ideológica e cultural, que não deve ser discutido no terreno científico, filosófico ou teológico. O ID é uma ideia cara aos criacionistas, segundo a qual certas características do universo e dos seres vivos se explicam pela ação de uma causa inteligente e não pela seleção natural.
A Igreja acha importante que a teologia conheça bem a história da evolução do homem, porque isso lhe permite interpretar melhor a Bíblia, que pela revelação da palavra divina leva ao conceito de Deus.
Fonte: O Povo online