Cerca de 350 especialistas, personalidades políticas, bispos e embaixadores, participaram de três dias de reuniões dedicadas ao tema.

O Vaticano reuniu na quarta-feira passada cientistas que trabalham em pesquisas com células-tronco adultas, aplicadas em terapias promissoras e que ofereçam garantias de “respeito à vida” – uma forma também de expressar o desejo de colaborar com a ciência, no front da saúde.

No total, 350 especialistas, personalidades políticas, bispos e embaixadores, participaram de três dias de reuniões dedicadas a esse assunto mal conhecido pelo grande público e que aparece como uma alternativa ao recurso às células embrionárias.

Em maio de 2010, a Santa Sé havia assinado com a empresa biofarmacêutica americana NeoStem um acordo sobre o uso de células-tronco adultas, o que valeu um repasse de US$ 1 milhão, num primeiro acordo contratual jamais assinado pelo Vaticano com uma sociedade comercial.

Para a Igreja, a pesquisa tem a imensa vantagem de não interferir na vida desde a concepção, ao contrário das células retiradas dos embriões, consideradas promissoras por numerosos cientistas, mas que acarretam a destruição desses embriões.

As células estaminais adultas que ficam, por exemplo, na medula espinhal, no sangue ou no fígado, podem se transformar para formar tecidos com usos terapêuticos múltiplos: podem curar doenças como a esclerose em placas ou as leucemias.

Segundo o presidente da fundação americana Stem for Life, Max Gomez, a pesquisa pôs em evidência uma perpectiva particularmente promissora: tratadas especialmente, essas células podem não apenas regenerar os tecidos de onde provêm, mas também adaptar-se a outros tecidos. Essas terapias em pleno desenvolvimento abrem novas esperanças, principalmente para as pessoas com doenças cardíacas e a diabetes.

Segundo Gomez, 3.5 mil tratamentos estão sendo realizados no mundo. No total, 160 empresas, a maioria delas americanas, trabalham nesses programas como parte de um mercado que deverá representar US$ 88 bilhões em 2014, de acordo com a Fundação.

Monsenhor Ignacio Carrasco de Paula, presidente da Academia pontifical para a Vida, considerou que a própria realização do colóquio põe por terra a ideia segundo a qual a Igreja “estaria em briga” com a ciência, “permanecendo fechada como no século XVIII”, numa atitude hostil.

Em pesquisa médica, a Igreja sabe que não existe “alternativa” à experimentação no homem, destacou o prelado, mas o que vale é que o homem não deve jamais ser “objeto” mas “sujeito”. “Os atores são dois, médico e paciente”, disse o cardeal Gianfranco Ravasi, presidente do Conselho pontifical da Culture, que organizou o encontro.

“Nosso corpo tem a capacidade de curar o que está doente, sem destruir nenhum embrião”, afirmou Tommy Thompson, ex-secretário americano da Saúde, de 2001 a 2005. Segundo ele, o presidente Barack Obama deve criar uma comissão em nível presidencial para ampliar a colaboração com o setor privado, principalmente para desenvolver as terapias a partir das células-tronco adultas.

Enquanto a população envelhece, os tratamentos longos a que se submetem milhões de enfermos, entre eles os diabéticos, agravam os orçamentos dos Estados, quando poderiam ser curados logo, segundo Tommy Thompson. Um possível acordo “bipartidário” (republicanos/democratas) sobre o assunto começa a tomar forma, disse.

Heather Abrams, jovem americana que tinha um linfoma de Hodgkin e foi submetida a um transplante, in extremis, aos 6 anos no ano 2000, contou que o tratamento com células-tronco adultas a obrigaram a ficar um mês de cama, mas permitiu a ela uma “ressurreição”.

[b]Fonte: Terra[/b]

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