Há duas semanas, desapareceu o bispo chinês Julius Jia Zhiguo. Na tarde do dia 30 de março, cinco policiais foram buscar o prelado da província de Hebei (que cerca Pequim), em sua igreja do Cristo-Rei, no vilarejo de Wuqiu.

Dom Jia, uma personalidade conhecida da Igreja Católica “clandestina” chinesa, é frequentador dos cárceres do regime: ele foi preso mais de dez vezes desde 2004. Sua última interpelação foi em 24 de agosto de 2008, e ele foi solto em 18 de setembro. Essas três semanas de detenção, passadas em diferentes hotéis e lugares turísticos de Hebei, estavam ligadas à organização dos Jogos Olímpicos de Pequim. As autoridades tiveram o cuidado de eliminar todos os “encrenqueiros” que pudessem atrapalhar o evento.

Segundo a Églises d’Asie (EDA), a agência de informação das Missões Estrangeiras de Paris, a prisão de Dom Jia teria a ver com o fato de que o bispo “oficial” da diocese de Shijiazhuang (capital de Hebei), Dom Paulo Jiang Taoran, teria decidido se reaproximar do Vaticano, pedindo sua legitimação ao papa Bento XVI. Depois que ela lhe foi concedida, o prelado acabou se considerando bispo auxiliar de Dom Jia. “Para as autoridades chinesas, a unidade da Igreja adquirida dessa forma não é aceitável”, escreve a Églises d’Asie.

A Igreja Católica chinesa é de fato dividida entre duas entidades. Uma, “oficial”, se agrupa no centro da Associação Patriótica dos Católicos Chineses e conta com 5,6 milhões de membros. A outra, “clandestina”, contaria com cerca de 12 milhões de fiéis.

Apesar de uma reaproximação entre Pequim e o Vaticano há alguns anos – a Santa Sé procurou trabalhar pela unificação da Igreja Católica chinesa -, a retomada das relações diplomáticas (rompidas em 1951) permanece distante. Ainda que o Vaticano tenha manifestado sua intenção de cortar laços com Taiwan, sua insistência em manter o controle sobre a nomeação dos bispos constitui, para Pequim, um obstáculo à normalização diplomática.

Diálogo em ponto morto

Segundo Joseph Kung, da Fundação Cardeal Kung, um grupo de ativistas com sede nos Estados Unidos, a situação dos católicos clandestinos “está piorando”. Em 2007, Pequim nomeou bispos que haviam recebido apoio da Santa Sé, uma decisão que foi interpretada como um sinal de abertura por parte da República Popular. Mas, desde 2008, nenhuma nova nomeação foi feita, e o diálogo parece estar em ponto morto.

O Vaticano reagiu duramente à interpelação de Dom Julius Jia Zhiguo: no dia seguinte à reunião da Comissão para o estudo das questões importantes relativas à vida da Igreja na China, feita em Roma entre 30 de março e 1º de abril, um comunicado manifestou “a dor profunda” sentida após “a detenção” do prelado. O incidente constitui “um obstáculo ao clima de diálogo com as autoridades envolvidas”, explica o texto. “Não se trata de um caso isolado: outros eclesiásticos são privados de liberdade (na China) ou são submetidos a pressões e limitações injustas de suas atividades pastorais”.

Fonte: Le Monde

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