O papa Bento XVI se reuniu com cerca de 150 cardeais para falar da “resposta da Igreja” à pedofilia.

Os cerca de 150 cardeais do mundo inteiro reunidos nesta sexta-feira com o Papa Bento XVI no Vaticano para falar da “resposta da Igreja” à pedofilia foram informados sobre o programa “eficaz e coordenado” que a Santa Sé prepara para combater este grave fenômeno que atinge a Igreja católica.

Os religiosos, entre eles os 24 que receberão no sábado o título de cardeal, foram convocados pelo pontífice para um “dia de reflexão e oração” com o objetivo de debater “a resposta da Igreja contra os abusos sexuais”.

“Preparamos uma carta circular para as Conferências Episcopais com as diretrizes a seguir para um programa coordenado e eficaz” contra a pedofilia, anunciou o cardeal americano William Levada, prefeito para a Doutrina da Fé e responsável por examinar tais crimes, segundo um comunicado do Vaticano.

O cardeal lembrou que é preciso “colaborar com as autoridades civis” e fomentar “um eficaz compromisso para a proteção de crianças e jovens junto com a seleção e formação dos futuros sacerdotes”.

Tratou-se da primeira reunião celebrada em tão alto nível após a explosão, no fim do ano passado, de um escândalo na Irlanda pela divulgação dos informes oficiais sobre os abusos sexuais a centenas de menores, cometidos por religiosos deste país e encobertos pelas autoridades eclesiásticas.

A onda de escândalos pelos abusos contra menores começou primeiro na Irlanda e estendeu-se à Alemanha, Áustria, Itália, Holanda e Bélgica, além dos Estados Unidos e de vários países da América Latina.

Durante a reunião, na qual intervieram 30 cardeais, alguns dos religiosos sugeriram que sejam desenvolvidos “planos eficientes” para proteger o menor, que levem em conta a complexidade do problema, do ponto de vista da “justiça, assistência às vítimas, prevenção e formação”.

Os cardeais pediram também que tais planos se estendam “aos países nos quais o problema não se manifestou de um modo tão dramático como em outros”, afirma a nota.

O escândalo, que pôs em xeque o prestígio da instituição milenar, gera reações diversas dentro da hierarquia da Igreja.

“Estou cansado de falar deste tema, estou até aqui”, disse o cardeal mexicano Javier Lozano Barragán apontando para a cabeça ao sair da sessão da manhã.

“Corresponde a uma avalanche jornalística”, acrescentou o cardeal latino-americano, que é presidente emérito do Conselho Pontifício para a Saúde.

A iniciativa do Papa suscita cepticismo entre as vítimas e seus familiares, que exigem das autoridades da Igreja católica medidas mais fortes e audazes.

“Não temos esperança sobre uma reunião dos mesmos homens da Igreja que ignoraram e continuam ignorando e que esconderam um crime tão horrível contra crianças”, escreveu em um comunicado a associação de vítimas americana SNAP.

“Esperamos que a hierarquia católica consiga enfrentar esse desafio” e “tome medidas de verdade”, como entregar à justiça todos os padres culpados, pediram.

Representantes da associação, entre elas Joëlle Casteix, de 40 anos, viajaram à Roma para protestar contra a atitude da Igreja de minimizar o fenômeno e marcharam pela Praça Navona com fotos penduradas no pescoço de quando eram crianças.

Além da pedofilia, os cardeais falaram da constituição “Anglicanorum Coetubus”, através da qual foi autorizada há um ano a entrada de centenas de anglicanos na Igreja católica.

Também abordaram o tema da liberdade religiosa no mundo, um assunto atual, após o massacre de católicos dentro de uma igreja no Iraque e a condenação por “blasfêmia” de uma paquistanesa cristã, Asia Bibi, para quem o Papa pediu publicamente nesta semana sua libertação.

Ao introduzir o tema, o Papa lembrou que a liberdade religiosa enfrenta o “grande desafio do relativismo”.

No sábado, o Papa entregará o barrete vermelho e o anel de cardeal a 24 novos religiosos, entre eles o equatoriano Raúl Vela Chiriboga, arcebispo emérito de Quito, e o brasileiro Raymundo Damasceno Assis, arcebispo de Aparecida.

[b]Fonte: AFP
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