Também foi anunciado que estão sob observação da Justiça de Roma outras operações suspeitas de 300 mil euros e um saque de 600 mil.
A confirmação da Justiça da Itália sobre o sequestro preventivo de 23 milhões de euros do Instituto para as Obras de Religião (IOR), o banco do Vaticano, sob suspeita de irregularidades, foi recebida com “espanto” pelas autoridades da Igreja Católica.
“Acredita-se que se trata de um problema interpretativo e formal”, rebateu o porta-voz da Santa Sé, padre Federico Lombardi. “Os responsáveis pelo IOR esperam poder esclarecer toda a questão o mais rápido possível nas sedes competentes”, completou.
Os valores, retidos no mês passado, estavam depositados em uma conta do IOR no banco italiano Credito Artigiano e seriam transferidos à sede do J.P. Morgan em Frankfurt (20 milhões) e ao italiano Banco del Fucino (3 milhões).
O sequestro ocorreu depois que foi detectada uma suposta omissão na identificação das pessoas envolvidas nas operações, irregularidades que se inserem em leis contra a lavagem de dinheiro.
A Procuradoria de Roma, onde corre a ação penal, incluiu na investigação o presidente do IOR, Ettore Gotti Tedeschi, e o diretor-geral Paolo Cipriani.
A confirmação da retenção dos 23 milhões de euros foi reportada nesta quarta-feira pela imprensa local, e decidida pelos magistrados do tribunal de revisão –os juízes Claudio Carini, Giovanna Schipani e Alessandra Boffo. Ao banco do Vaticano resta a alternativa de submeter um recurso à Corte Suprema de Cassação, a última instância.
Também foi anunciado que estão sob observação da Justiça de Roma outras operações suspeitas — realizadas em novembro e outubro de 2009, referentes a 300 mil euros em uma conta no banco Unicredit e a um saque de 600 mil de uma agência do Intesa Sanpaolo, respectivamente.
Não foi excluído que o IOR reveja seus laços com o Banco da Itália (o banco central do país) –cuja Unidade de Informação Financeira (UIF) detectou as irregularidades iniciais– com base na circular de 9 de setembro que indicou aos institutos de crédito nacionais as relações a serem mantidas com a instituição da Santa Sé, considerada extracomunitária.
[b]Histórico[/b]
O IOR, que maneja contas de ordens religiosas e outras associações católicas que utilizam o status de paraíso fiscal da Santa Sé, foi dirigido na década de 80 pelo polêmico arcebispo americano Paul Marcinkus, muito próximo ao papa João Paulo 2º, que sempre o protegeu.
O escândalo, que custou a vida, entre outros, do banqueiro Roberto Calvi, encontrado misteriosamente enforcado sob a ponte Blackfriars, em Londres, trouxe à tona as relações ocultas entre o banco do Vaticano, a loja maçônica P2 de Licio Gelli e a máfia siciliana.
Pela primeira vez em 30 anos, os diretores do IOR estão na mira da Justiça italiana, a pedido das autoridades bancárias nacionais, que acompanham com mais atenção e independência as atividades da instituição.
[b]Fonte: Folha Online
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