O Vaticano iniciou uma raríssima investigação criminal relacionada ao constrangedor vazamento de documentos de alto escalão que apontavam a existência de corrupção e má gestão em vários departamentos da Santa Sé.

O inquérito, anunciado na sexta-feira pelo jornal do Vaticano, será realizado por um tribunal interno, com o objetivo de descobrir quem vazou o material.

Outra investigação, de caráter administrativo, será feita pelo Secretariado de Estado, que gere a burocracia vaticana. O papa Bento 16 também determinou que uma “comissão de alto nível” se debruce sobre o assunto, de acordo com o jornal L’Osservatore Romano.

O escândalo, que ficou conhecido como “Vatileaks”, envolve o vazamento de vários documentos secretos em janeiro e fevereiro à imprensa italiana, incluindo cartas pessoais ao papa.

As duas investigações e a criação da comissão pontifícia foram anunciadas numa entrevista do arcebispo Angelo Becciu, subsecretário de Estado do Vaticano.

Ele disse que os responsáveis pelo vazamento são pessoais covardes e desleais, que se aproveitaram de cargos nos quais teriam a obrigação de zelar pela privacidade dos documentos.

O arcebispo disse que o papa ficou muito “magoado” com o caso, e rejeitou os artigos jornalísticos que descreviam a Cúria Romana como sendo povoada por clérigos ambiciosos, mais interessados na ascensão dentro da hierarquia do que em servir à Igreja.

Investigações criminais são extremamente raras no menor país do mundo. Uma das mais famosas, em 1998, envolveu o soldado Cedric Tornay, da Guarda Suíça, que cometeu suicídio depois de matar seu comandante e a mulher dele, por estar indignado ao ser preterido em uma promoção.

O “Vatileaks” começou em janeiro, quando uma TV italiana exibiu cartas privadas do arcebispo Carlo Maria Vigano, ex-vice-governador da Cidade do Vaticano e atual núncio apostólico em Washington, dirigidas ao secretário de Estado do Vaticano, cardeal Tarcisio Bertone, e ao papa Bento 16.

As cartas revelavam que Vigano foi transferido depois de expor o que dizia ser uma rede de corrupção, nepotismo e clientelismo ligada à concessão de contratos superfaturados a empresas italianas.

Em uma das cartas, Vigano se dizia vítima de difamações de outros funcionários do Vaticano, descontentes com drásticas medidas moralizadoras que ele havia adotado como vice-governador (2009-11). Ele pedia para permanecer no cargo a fim de continuar o trabalho iniciado. Bertone reagiu abreviando seu mandato em três anos e transferindo-o para os EUA.

[b]Fonte: Estadão[/b]

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