Os milhares de peregrinos que visitaram Belém nos últimos dias para celebrar o Natal no local onde Jesus nasceu foram ao lugar errado.

O nascimento foi numa Belém mais ao norte, bem perto de Nazaré, onde o Novo Testamento conta que Jesus passou a infância.

A tese que ousa balançar as fundações da narrativa cristã é baseada em dados históricos, citações do Antigo e Novo Testamentos e mais de dez anos de escavações feitas por um arqueólogo israelense, Aviram Oshri.

Ele está convicto de que Jesus nasceu em Belém da Galileia, e não em Belém Judeia (ou Zebulun), como é conhecida pelos arqueólogos a cidade na Cisjordânia que atualmente faz parte da Autoridade Nacional Palestina.

A versão tradicional, que será contada hoje em igrejas ao redor do mundo, é outra.

Segundo o Evangelho de Mateus, grávida de nove meses, Maria viajou montada em um burro de Nazaré, na Galileia, até Belém, onde Jesus nasceu. A distância de quase 100 km era uma enormidade para a época.

“Se ela percorresse mesmo essa distância teria dado à luz muito antes”, diz Oshri. “Faz muito mais sentido que a Belém do nascimento seja a da Galileia, que fica a apenas 7 km de Nazaré”.

A tese não é nova. Há tempos historiadores citam essas e outras evidências para questionar a versão consagrada. Oshri vai além: diz ter reunido indícios arqueológicos de um erro histórico.

Para começar, explica, jamais foram encontrados em Belém da Judeia sinais da Roma antiga. Já em suas escavações na Belém da Galileia, Oshri achou diversos vestígios de atividade humana da época de Jesus.

Entre eles, restos de uma muralha que teria sido construída para proteger a recém-criada comunidade cristã.

A principal descoberta foi uma grande basílica. “Para que construir uma igreja daquele tamanho num lugar remoto? É prova de que a cidade tinha significado”, afirma.

Historiadores do cristianismo sugerem que os autores do Evangelho trocaram deliberadamente as Beléns para associar Jesus ao rei David, que vinha da Judeia. Ele e Cristo teriam a mesma linhagem, segundo as escrituras hebraicas.

Até 1948, Belém da Galileia era habitada por uma comunidade da seita protestante alemã dos templários. Após o estabelecimento do Estado de Israel, a aldeia virou um moshav (comunidade agrícola, em hebraico).

Com cerca de 800 habitantes, hoje mais parece um condomínio de alta classe, e suas casas valem milhões.

São raros os vestígios de atividade arqueológica. Após divulgar sua tese, Oshri foi rebaixado de posto na Autoridade de Antiguidades de Israel e agora busca financiamento para para continuar as escavações.

Para Yossi Yeger, dono de um hotel em Belém da Galileia, o boicote a Oshri faz parte de uma série de conspirações ao longo da história. “Se José nasceu em Nazaré e Maria em Belém, a 100 km de distância, como eles se conheceram, pelo Facebook?”, ironiza Yeger.

[b]Fonte: Folha.com[/b]

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