O pastor evangélico Ricardo Gondim, presidente nacional da Igreja Bethesda, declarou em um vídeo nesta quinta-feira (25) apoio ao candidato do PT à presidência, Fernando Haddad.
Gondim conhecido por suas posições progressistas em relação aos direitos humanos e de minorias. Presidente do Instituto Cristão de Estudos Contemporâneos e autor de diversos livros, ele contou que teve seu pai preso pela Ditadura Militar, em 1964, e que sua mãe, então grávida de gêmeos, perdeu uma das crianças.
“Não estamos em um período de eleição normal, o que está em jogo é a possibilidade de uma ditadura de extrema-direita, de fascismo. Minha opção agora é em Haddad, não só por ele, mas pela democracia e pelo futuro do Brasil”, disse o pastor.
No vídeo, outros pastores, líderes e teólogos também declararam seus votos em Haddad.
Veja o vídeo:
“Abro meu voto”
Em texto escrito no seu site, o pastor Ricardo Gondim também declara seu voto em Fernando Haddad.
“O voto secreto é um dos bens mais sagrados da democracia”, inicia Gondim, para depois revelar o seu voto e justificar. “Eu, entretanto, preciso tornar público meu voto. Votarei em Haddad nas eleições de 2018.”
Leia abaixo a íntegra do texto “Abro meu voto”, de Ricardo Gondim, publicado no seu site no dia 25 de outubro de 2018:
O voto secreto é um dos bens mais sagrados da democracia. Ninguém sabe em quem você vota. Depois que entrar na cabine, cada indivíduo é soberano.
Eu, entretanto, preciso tornar público meu voto. Votarei em Haddad nas eleições de 2018. Tenho razões. E sinto, como dever cristão e cívico, explicitá-las:
- As ditaduras não começam de um dia para o outro. No 1 de janeiro de 2019, o Brasil não amanhecerá com tanques nas ruas, Congresso fechado e Supremo Tribunal Federal invadido por cabo e sargento dando ordem de prisão aos ministros. Mas, diante de uma virtual eleição de JB, em seis meses ou até um ano, com a resistência de grupos sociais aos desmandos do governo, a cartilha dos ditadores ensina: teremos censura da imprensa, leis de exceção e até prisões com tortura. Com todos os senões que se apresentam ao PT (corrupção, coligações espúrias, etc.) apenas uma crítica não se pode fazer: que o partido não obedeceu as regras democráticas; tanto que um ex-presidente, ex-ministros, e ex-parlamentares foram presos. E a presidente Dilma Roussef, em pleno exercício do mandato, foi impichada sem tentar virar as mesas do STF, ou da Câmara, ou do Senado.
- O candidato JB não mente. Ninguém precisa julgá-lo. Ele diz com todas as letras que é a favor de matar milhares de pessoas para “limpar” o Brasil; que mulheres, por correrem o risco de engravidar, não podem ganhar o mesmo que homens; que existe um “coitadismo” entre nordestinos; que gays são anomalia; que afro-descendentes pobres, que vivem em Quilombolas não servem nem para procriar. Como ele é o candidato que ganhou popularidade exatamente por não ter “papas na língua”, seu discurso contraria minha fé, minhas convicções pessoais e minha história. Bolsonaro é um perigo real, não exagerado.
- Há um ditado popular conhecido: “dize-me com quem andas e eu te direi quem és”. As pessoas que compõem a base de apoio a JB são estranhas a meus valores. O grupo de religiosos, principalmente evangélicos que o acompanham em suas diatribes moralistas, é de outra matriz que a minha. Não tenho os mesmos anseios que eles, não concordo com ética que movimenta seus empreendimentos e, certamente, não creio na teologia que pregam. Caso JB seja eleito, seus conselheiros espirituais produzirão um estrago milenar na credibilidade do que comumente se trata como “igreja de Jesus”.
Sei que há enormes reservas ao PT. Sei que alguns juraram nunca votar em ninguém do partido. A questão, porém, deixou de ser partidária. Algo mais grave entrou na equação. Os brasileiros decidirão, na verdade, entre critérios mínimos de civilidade e barbárie, entre a destruição do pouco que ainda resta de Brasil e a esperança.
Voto Haddad porque sou de Jesus, porque sou brasileiro, porque sou pai e porque sou avô.
Soli Deo Gloria
Meu posicionamento
Em setembro, portanto, antes do 1º turno, Ricardo Gondim, publicou um texto em seu site onde não revelava seu voto, mas dizia em quem não votar, na sua opinião.
“Se não me compete afirmar em quem votar, aceito como mandamento aconselhar em quem não votar: #elenão.”, disse Gondim.
Confira abaixo a íntegra do texto “Meu posicionamento nas eleições de 2018”, de Ricardo Gondim, publicado no seu site no dia 25 de setembro de 2018:
Todo líder religioso tem o dever de se antecipar à história antes que algum desastre aconteça. No jargão da teologia, isso se chama “ser profético” – já que profecia é um diagnóstico dos rumos que os eventos podem, ou não, tomar. Portanto, se um pastor falha em avisar sobre o futuro, ele fracassa em sua vocação.
Por outro lado, por lidar com diversidade de pensamentos e com pessoas de diferentes perfis, o líder religioso deve proibir a si mesmo de querer influenciar os votos de sua comunidade. Ele, ou ela, não pode usar de suas prerrogativas para tentar gerar em seu auditório “comportamento de manada”. É sua obrigação jamais manipular com medo, falsos inimigos; e nunca identificar os que pensam diferente como aliados do Diabo.
Dito isso, a partir desses dois parágrafos, sinto pesar sobre os ombros o imperativo de prever: o que vem por aí se mostra tenebroso caso Bolsonaro prevaleça. Se não me compete afirmar em quem votar, aceito como mandamento aconselhar em quem não votar: #elenão.
Embora ainda esteja muito distante comparar Bolsonaro a Hitler, preciso esclarecer que nos primórdios do fascismo alemão, algumas atitudes serviram para suavizar a ascensão do partido nazista. O radicalismo da direita não chegou de forma abrupta.
Poucos judeus ricos consideraram os alarmes de antissemitismo exagerados – eles repetiam que o ódio aos judeus era secular e não devia criar pânico maior; jornais acalmaram os leitores com textos do tipo: “esses discursos de violência não passam de bravatas”; segmentos da academia, com filósofos de primeira linha como Heidegger, engenheiros, físicos e arquitetos, afirmaram total confiança no nazismo. Por último, não menos importante, inúmeros pastores e padres carimbaram os anseios do nacionalismo.
Todavia, muita gente falou, protestou, foi torturada e assassinada por prever o desastre. Os protestantes Paul Tillich, Dietrich Bonhoeffer, Karl Barth não se calaram – Barth chegou a pegar em armas, Bonhoeffer participou de uma conspiração para assassinar Hitler e por isso foi enforcado em um campo de concentração. Entre os católicos romanos não se pode esquecer do jesuíta Rupert Mayer, cujo sofrimento terminou em um campo de concentração em Sachsenhausen – sua grandeza mereceu o reconhecimento da igreja e ele foi beatificado pelo Papa João Paulo II. Outro católico, feroz opositor do regime e membro da resistência, foi o jesuíta Alfred Delp, também executado em 1945.
As razões pelas quais denuncio a candidatura, bem como as pretensões políticas de Bolsonaro não são partidárias. Sim, já fui filiado ao PT. Porém, no dia em que Delúbio Soares compareceu à CPI que investigava desvios e compra de voto, o famoso mensalão, entendi como dever ético não mais associar meu nome ao partido. Portanto, não tenho qualquer interesse em defender ninguém ou qualquer bandeira partidária.
Entendo apenas que Bolsonaro representa uma ameaça à democracia e ao estado de direito. Ele põe em risco grupo minoritários como indígenas, homossexuais e imigrantes. Sua ideologia é confessadamente machista, já que tem as mulheres em um patamar inferior. O discurso de ódio que o ex-capitão repete, guarda o potencial de alavancar a agenda fascista. Bolsonaro apela a grupos radicais e eles alimentam a intolerância. Suas ideias se baseiam na propaganda falsa de que armar o povo estanca a violência. Um argumento tão grotesco como dizer que gasolina apaga fogo.
Bolsonaro tem ambição totalitária; seu discurso contém as sementes do fascismo clássico. A viabilidade de um possível governo seu dependeria da suspensão dos direitos fundamentais dos cidadãos. A democracia falha e trôpega do Brasil corre sérios riscos.
Ele, entretanto, não é protagonista das próprias aspirações. Eu o percebo fantoche de grupos de extrema-direita, interessados em suspender a ordem em nome da segurança, e de meter o Brasil num perigoso fundamentalismo religioso.
Como cristão não posso me calar. Como pastor sinto que me omitir seria negar tudo o que já falei e escrevi. Também sei que tanto a história como Deus são implacáveis com os covardes, e não quero ser contado entre eles.
Soli Deo Gloria
Fonte: Site do pastor Ricardo Gondim