Silvério Orewawe, 34 anos, tem a fala comedida, mansa, quase didática. Ele pronuncia as palavras como se estivesse fazendo um sermão. E é exatamente isso o que gosta de fazer. O indígena viajou há cinco anos para o Rio de Janeiro, onde luta para concluir o curso de Letras na Universidade Veiga de Almeida (UVA) e terminar a tradução da bíblia para a língua xavante, o akuén.
A tradução é tida por ele como um trabalho apostólico e acadêmico, com o qual pretende um dia levar o conhecimento religioso aos conterrâneos da Reserva Indígena Parabubure, no município de Campinápolis, na região leste de Mato Grosso. Foi de Parabubure que Silvério saiu para chegar em terras cariocas. Deixou a saudade e a expectativa de retorno dos familiares. “Mas eu sempre volto para lá todas as férias”, ressalta.
O indígena não nega sua função como religioso: evangelizar àqueles que, por ligação às raízes mais ancestrais, permanecem firmes na crença panteísta e mitológica de tempos imemoriais. Apesar de admitir que muitos missionários se precipitam ao lidar com os índios, o estudante acredita que o evangelho ajuda a preservar a cultura dos xavantes e dos demais indígenas. Ele entende que a religião pode proteger muitos de seus conterrâneos.
“O evangelho não destrói, ele purifica e valoriza a nossa cultura. Se eu for crente eu não minto, eu não bebo, não brigo e não fumo.”, defende. A conversão dos xavantes é um processo complexo. Não à-toa a primeira tradução da bíblia para o akwén foi feita por dois missionários americanos, que demoraram 46 anos para terminá-la.
Além de Silvério, mas três colegas que vivem na reserva realizam o trabalho de tradução. Até o momento, o Novo Testamento já foi concluído. Os indígenas enfrentam dificuldades principalmente porque a tradução dos missionários foi feita sem a consulta à comunidade.
“Eles fizeram a tradução com o que aprenderam da língua e por isso nós encontramos muitos erros”, admite o estudante. Silvério espera usar a bíblia traduzida e corrigida para pregar na Igreja Evangélica Xavante, fundada também dentro da aldeia pelos missionário
A ideia, explica ele, é fazer com que mais indígenas se convertam. Orewawe diz estar torcendo pelo aumento da religião na aldeia. Ao mesmo tempo, o estudante avança sobre a tradução da bíblia: “Eu já estou no Exôdo”, finaliza ele.
Fonte: Olhar Direto