No primeiro dia de reuniões pré-conclave, cardeais que elegerão o sucessor de Bento 16 disseram ontem que vão discutir os escândalos de abuso sexual e suspeitas de corrupção no Vaticano antes de escolher o próximo papa.
Eles não terão acesso ao dossiê que investigou o Vatileaks (vazamento de documentos da igreja), mas poderão perguntar sobre o tema.
Ontem, os cardeais não chegaram a acordo sobre o início da votação secreta, da qual participarão 115 deles.
O americano Francis George, arcebispo de Chicago, afirmou que o envolvimento de padres e bispos em casos de pedofilia feriu a igreja e deve ser motivo de preocupação para o seu futuro líder.
“A questão sexual será importante, porque temos vitimas de abuso sexual, cometidos não por pais, vizinhos, outras pessoas, mas por padres, bispos. É uma terrível ferida no corpo da igreja.”
“O próximo papa tem que estar muito atento a isso”, acrescentou George.
O sul-africano Wilfrid Napier defendeu um debate sobre o relatório da comissão que investigou o vazamento de informações da Santa Sé.
A cobrança também já foi feita por dois brasileiros que votarão no conclave.
“Se quisermos tomar uma boa decisão, teremos que ter alguma informação sobre isso”, disse Napier.
O porta-voz Federico Lombardi disse que os interessados na “situação” da igreja poderão fazer perguntas aos colegas. “Alguns membros do colégio cardinalício que estão interessados em obter informações sobre a situação da Cúria e da igreja, no geral, pedirão aos coirmãos para serem informados”, afirmou.
Os intervalos entre as próximas reuniões, que continuam ao longo da semana, devem se transformar em sabatinas para os cardeais autores do relatório: Julián Herranz, Jozef Tomko e Salvatore De Giorgi, todos com mais de 80 anos e portanto fora do conclave.
Segundo o jornal “La Repubblica”, o documento de cerca de 300 páginas, entregue ao agora papa emérito Bento 16, “fotografa lutas de poder e guerra interna na hierarquia eclesiástica”.
A transição também é afetada pela renúncia do escocês Keith O’Brien ao posto de arcebispo de Edimburgo. Ele admitiu ter tido “conduta sexual abaixo dos padrões” que se esperavam dele. O porta-voz do Vaticano informou não ter informações sobre uma possível investigação do caso.
Estiveram presentes na primeira reunião da congregação geral 142 membros da cúpula da igreja, 103 deles eleitores no conclave.
Até meio-dia (8h no Brasil), horário da última “lista de presença”, faltavam apenas 12 cardeais para que não haja mais nenhum impedimento ao início do conclave.
A reunião inicial de ontem foi meramente introdutória. Os cardeais fizeram um juramento de segredo, se comprometendo a não divulgar o que for discutido ali dentro.
Já houve, no entanto, um intervalo de 30 minutos no final da manhã para um café, definido pelo próprio porta-voz do Vaticano como “um momento muito significativo”. “Esse é um momento significativo para contatos pessoais, trocas de informações, até em nível mais particular”, disse Lombardi.
Os trabalhos são presididos pelo decano, Angelo Sodano, pelo camerlengo, Tarcisio Bertone, e pelo secretário do colégio de cardeais, Lorenzo Baudisseri.
[b]Fonte: Folha de São Paulo[/b]