Há mais de 140 anos, o hino “Alvo Mais que a Neve” vem sendo entoado por igrejas ao redor do mundo. Esta semana, porém, uma polêmica surgiu em torno da canção sobre uma suposta mensagem racista que a letra carrega.
A música, no entanto, foi composta por um autor de Iowa, estado que desempenhou um papel significativo durante a Guerra Civil Americana, marcada pela disputa pelo fim da escravidão nos Estados Unidos.
“Alvo Mais que a Neve” (em seu título original: “Blessed Be the Fountain”) foi escrita por Eden Reeder Latta em 1881, com base no texto de Isaías 1:18: “Embora os seus pecados sejam vermelhos como escarlate, eles se tornarão brancos como a neve; embora sejam rubros como púrpura, como a lã se tornarão.”
Nascido em Haw Patch, Indiana, Eden Reeder Latta era filho de um pastor metodista, de acordo com sua biografia no Hymnary.org, um banco de dados online hospedado pelo Instituto Calvino de Adoração Cristã e Biblioteca Etérea de Clássicos Cristãos da Calvin College.
Durante a Guerra Civil Americana, Eden pregou para a Igreja Metodista de Manchester, em Iowa, e outras congregações (possivelmente como um pregador itinerante preenchendo púlpitos vazios).
No estado de Iowa, ele ensinou nas escolas públicas de Manchester e, posteriormente, em Colesburg. Ele se mudou para Guttenberg na década de 1890 e continuou compondo para vários músicos importantes no meio cristão. Ele escreveu mais de 1.600 canções e hinos em sua vida.
“Alvo Mais Que a Neve” foi composta por Eden para o músico Henry Perkins, que fez os arranjos musicais na época.
Iowa, um estado abolicionista
Um dos abolicionistas da escravidão mais conhecidos dos EUA, John Brown, era evangélico e teve uma grande atuação em Iowa, a terra de Eden Reeder Latta.
Suas viagens por Iowa destacaram a importância do estado na “Underground Railroad” — as rotas secretas e casas seguras que ajudaram os escravos a escapar para a liberdade no século 19.
O autor brasileiro Gutierres Fernandes Siqueira comentou sobre o momento histórico quando Eden Reeder Latta era pregador.
“O hino ‘Alvo mais que a neve’ foi escrito pelo metodista Eden Reeder Latta (1839-1915). Ele foi pregador itinerante durante a Guerra Civil Americana em New Hampshire. Para quem conhece um pouco dos EUA, sabe que no século 19 essa região era o centro do abolicionismo”, disse Gutierres nesta quarta-feira (14) no Twitter.
Gutierres destacou ainda que Latta “nada tem a ver com os batistas sulistas — berço do supremacismo branco odiendo. A tradição dele era outra e a região que ele morava e pregava lutou pela abolição.”
O hino “Alvo mais que a neve” foi escrito pelo metodista Eden Reeder Latta (1839-1915). Ele foi pregador itinerante durante a Guerra Civil Americana em New Hampshire. Para quem conhece um pouco dos EUA, sabe que – no século 19 – essa região era o centro do abolicionismo. +
— Gutierres Fernandes Siqueira (@gutsiqueira) December 14, 2022
A polêmica de Kleber Lucas
O cantor Kleber Lucas voltou a causar polêmica nas redes sociais esta semana, ao compartilhar um trecho de sua participação no Mídia Ninja. Na conversa, onde ele aparece sendo entrevistado pelo cantor Caetano Veloso, o pastor da Batista Soul fala sobre o racismo, e diz que o hino “Alvo Mais Que a Neve”, da Harpa Cristã, é de uma conotação racista.
Segundo o cantor gospel, sua visão sobre a música é que, se algum cristão aceitar Jesus, ficará branco como a neve. Com isso, o músico lamentou que a música seja cantada por muitos brancos e negros com lágrimas nos olhos pelo fato de “ser uma canção lindíssima, de uma memória família e cúltica”.
No entanto, segundo ele, trata-se de um discurso “nefasto” e “de dominação”. “Porque o sangue de Jesus me torna branco. As ideias de embranquecimento estão no hino”, disse ele.
Para Kleber Lucas, “há um distanciamento, um caminho a ser percorrido”. Ele ainda explicou, com base nele mesmo, que o Brasil precisa de uma “teologia preta”, que segundo ele, chegou no País recentemente e foi deixado de lado pela Igreja. Ele citou, por exemplo, os ensinamentos de James Cone, um teólogo americano conhecido por sua defesa da teologia negra e da teologia da libertação negra.
Hino vira trend na web
Após a declaração polêmica do cantor gospel e pastor progressista Kleber Lucas, que classificou a música como racista, em uma entrevista com o cantor Caetano Veloso, anônimos e famosos do meio evangélicos fizeram com que o hino da Harpa Cristã, “Alvo Mais Que a Neve”, virasse trend nas redes sociais.
O ex-diretor da Sony Music, Maurício Soares, até brincou com a situação, dizendo que, se o compositor da música ganhasse direitos autorais, teria um fim de ano bem especial, pois ela está sendo executada sem moderação.
Fonte: Guia-me e Fuxico Gospel