Bolsonaro na Basílica de Aparecida
Bolsonaro na Basílica de Aparecida

Apoiadores do presidente Jair Bolsonaro (PL) agrediram jornalistas e vaiaram o padre que celebrava a missa durante a passagem do candidato à reeleição pelo Santuário Nacional de Nossa Senhora Aparecida, em São Paulo, na tarde desta quarta-feira (12/10).

Equipes da TV Vanguarda, afiliada da TV Globo, e da TV Aparecida, emissora da Igreja Católica, foram hostilizadas no pátio da Basílica. Durante a cobertura do evento religioso, os apoiadores gritaram com os funcionários da TV Aparecida, ao mesmo tempo que colocavam o dedo no rosto do jornalista e cinegrafista. Enquanto alguns bolsonaristas hostilizavam a imprensa, outros entoavam o coro “É Bolsonaro!”.

De acordo com a repórter Daniela Lopes, da TV Vanguarda, ouvida pelo UOL, os bolsonaristas tentaram agredir fisicamente a imprensa, que ficou acuada em meio ao grupo de pessoas vestindo verde e amarelo e carregando a bandeira do Brasil. A tentativa de agressão foi impedida por um segurança que acompanhava os jornalistas.

A confusão se estendeu para dentro do Santuário, onde o padre Eduardo Ribeiro celebrava a missa das 14h. Seguidores do presidente interromperam o momento com vaias, palavras de ordem e tentaram puxar o coro de “mito”, que não teve adesão. O padre pediu silêncio e rogou aos fiéis que preparassem o “coração, viemos aqui para rezar”.

Arcebispo vaiado

Durante a homilia na principal missa celebrada no Santuário de Aparecida nesta quarta-feira (12), pela manhã, o arcebispo da Arquidiocese, Dom Orlando Brandes, falou no sermão que o Brasil precisa “vencer muitos dragões”. “Temos o dragão do ódio, que faz tanto mal. E o dragão da mentira, e a mentira não é de Deus, é do malígno. O dragão do desemprego, o dragão da fome. O dragão da incredulidade”, declarou.

O arcebispo defendeu o direito ao voto e disse aos cristãos que é “necessário exercer esse direito e poder do povo”. Logo em seguida, o católico voltou a falar sobre a fome e ressaltou que o Brasil precisa de “paz e fraternidade”. “Escutar Deus, mas escutar também o clamor do povo. Porque ela escutou muito bem no Evangelho. Eles não têm mais vinho. No nosso caso, faltando pão, faltando paz, faltando fraternidade. Esses são os vinhos que todos nós precisamos nos dias de hoje”, aconselhou.

Nas redes sociais, internautas afirmam que os apoiadores do presidente vaiaram o arcebispo por suas falas sobre a fome. Usuários do Twitter também registraram que os causadores dos alvoroços estavam com canecas de bebida alcoólica dentro do templo. “O mais absurdo foi ver os apoiadores do B [Bolsonaro] com canecas de chopp na mão, em frente à igreja, xingando padre e tentando agredir repórter da TV Aparecida, a Tv da basílica”, escreveu Pastor Fellipe na rede.

Bolsonaro na Basílica

A ida de Bolsonaro ao Santuário estava prevista dentro do cronograma eleitoral dele, que vem priorizando eventos em busca do voto dos religiosos. O presidente, que se declara católico, foi à missa acompanhado do candidato ao Governo de São Paulo Tarcísio de Freitas (Republicanos), do senador eleito por SP, Marcos Pontes, do ministro da Saúde, Marcelo Queiroga, e da deputada federal Bia Kicis (PL-DF). A primeira-dama, Michelle Bolsonaro, que é evangélica, não esteve presente.

Mesmo se dizendo católico, Bolsonaro não cumpriu os protocolos da religião durante a missa. Como apontou o portal UOL, o presidenciável não comungou, ao contrário dos políticos que o acompanhavam, não rezou o Pai Nosso e permaneceu calado a maior parte da cerimônia religiosa, sem completar as orações.

Na programação do chefe do Executivo estava ainda um encontro com católicos conservadores para rezar o terço, o que não foi cumprido. Logo após a missa, o presidente visitou uma tenda de peregrinos, em frente à Basílica, e foi embora do local sem falar com a imprensa.

Bolsonaro, antes de ir à Aparecida, em São Paulo, esteve, pela manhã, na inauguração de um templo da igreja evangélica Mundial do Poder de Deus, em Belo Horizonte — igreja liderada por Valdemiro Santiago. Além disso, nas últimas semanas, o presidente participou de cultos da igreja evangélica Assembleia de Deus e compareceu à manifestação religiosa Círio de Nazaré, uma das mais populares celebrações católicas do país, realizada em Belém, no Pará.

“Ou somos evangélicos ou somos católicos”

A maratona de Bolsonaro em busca do voto dos cristãos e o uso da religião na disputa eleitoral tem sido alvo de críticas na Igreja Católica. Em coletiva de imprensa na manhã desta quarta-feira (12), o arcebispo Dom Orlando Brandes criticou a presença do presidente em cultos evangélicos e em missas católicas e frisou que é necessário ter uma “identidade religiosa”.

“Não podemos julgar, mas nós precisamos ter uma identidade religiosa. Ou somos evangélicos ou somos católicos. Precisamos ser fiéis à nossa identidade católica, mas seja qual for a intenção (do presidente Bolsonaro) vai ser bem recebido, porque é nosso presidente e é por isso que nós o acolhemos”, garantiu o arcebispo ao responder uma pergunta sobre o uso político da ida de Bolsonaro ao Santuário dedicado à padroeira do Brasil.

Fonte: Correio Braziliense

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