Culto da Frente Parlamentar Evangélica, a bancada Evangélica
Culto da Frente Parlamentar Evangélica, a bancada Evangélica

A Frente Parlamentar Evangélica do Congresso Nacional, mais conhecida como bancada evangélica, que a partir de agosto estará sobre comando do deputado e pastor Silas Câmara (Republicanos-AM), está em uma nova polêmica.

A troca de liderança está despertando nos bastidores o receio de que a futura gestão seja cordial demais com o governo Lula (PT).

Em um acordo firmado no início do ano, Câmara assumirá o comando do grupo substituindo Eli Borges (PL-TO).

O problema é que, de acordo com uma mensagem enviada por um assessor do bloco para jornalistas, “a bancada não se sente confortável com a nova presidência e [em] como o dep. Silas está acenando ao governo do presidente Lula”, diz trecho da mensagem.

Borges é do partido de Jair Bolsonaro, a quem o grupo religioso se alinhou em peso na eleição. A expectativa é a de que a nova liderança diminua as fricções com a administração petista, à exceção da agenda de costumes.

Silas Câmara é descrito por pares como raposa velha no Congresso, mais afeito ao modo centrão de atuar. Ou seja, disposto a adotar postura conciliatória com o governo que for. Ele pertence à família Câmara, farol evangélico no Norte do país. Seu irmão Samuel é pastor da primeira Assembleia de Deus brasileira, chamada de Igreja Mãe.

No sétimo mandato, ele já chefiou a bancada, entre 2019 e 2020, os dois primeiros anos de Bolsonaro no poder. Foram tempos de glória para a frente, que experimentou inédita proximidade com o Palácio do Planalto, que incluía orações com o presidente e o bloqueio de pautas contrárias ao seu interesse. O ápice foi a nomeação do pastor presbiteriano André Mendonça para o STF (Supremo Tribunal Federal), com lobby ativo dos evangélicos.

Ao jornal Folha de S. Paulo, Silas Câmara disse que a relação da FPE (Frente Parlamentar Evangélica) com o governo será “republicana, respeitosa e de diálogo com todos”, mas “intransigente nos temas para os quais [a bancada] existe”. Não haveria negociação possível, por exemplo, para flexibilizar o aborto no Brasil.

Sua prioridade seria, portanto, “fortalecer nossa posição em tudo o que a FPE já faz em defesa dos princípios que norteiam nossa fé”.

Cezinha de Madureira (PSD-SP), ex-presidente da bancada evangélica, também disse que não vê sentido em bater de frente com o Planalto só para marcar território como oposição.

“Deputado que estiver preocupado com uma aproximação seja com qual for o governo”, diz, faz “oposição desinteligente”.

“O público evangélico elege [representantes] para proteger suas ideologias. Não tem que estar preocupado se o governo é vermelho, amarelo, azul. Não importa. O papel do parlamentar é ter diálogo.”

O deputado afirma não ver “ameaça nenhuma” à agenda cristã no horizonte. “O que existe é um governo que está querendo demonstrar que nos respeita. Apoiei Bolsonaro, mas tenho o dever de, no meio dessa guerra desinteligente toda, tentar manter a paz.”

Assim como ele, a maioria da bancada, que soma em torno de um quinto dos 513 deputados federais, teria responsabilidade com suas igrejas. O resto, diz sem dar nomes, são “deputados de lacração”.

As críticas a Silas Câmara são restritas aos bastidores do bloco evangélico. Não há interesse em expor publicamente as fissuras, embora elas existam.

Eli Borges diz acreditar que seu sucessor “vai fazer um trabalho”. Câmara tem “mais abertura com o governo” sem abdicar da “postura cristã nas pautas nossas”, afirma.

Ex-líder da bancada, Sóstenes Cavalcante (PL-RJ) o define como um colega “muito experiente” e se diz convicto de que ele defenderá “os interesses dos parlamentares evangélicos, e não do governo”.

Roberto Monteiro (PL-RJ) chegou a ter um entrevero com Câmara numa reunião recente da bancada, ameaçando sair do grupo e só voltar quando Eli Borges retomasse a presidência, o que está previsto para acontecer em 2024. As divergências ficaram para trás, segundo o deputado, que é pai do ex-vereador carioca Gabriel Monteiro, preso e cassado após acusações de estupro.

“Fiz minha parte sendo Bolsonaro. Agora terminou Bolsonaro, a história é outra, o país não pode parar”, afirma. “Não sou da ala radical, sou da ala do diálogo, porque o próprio Cristo não faz acepção, [diz] ‘venham a mim todos’, não apenas alguns.”

Fonte: Folha de S. Paulo

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