A Igreja Episcopal ainda não adotou uma posição firme nacional a respeito do casamento de mesmo sexo, deixando os bispos locais com liberdade para decidir o que os padres podem fazer.

A Igreja Episcopal, que está estremecida por questões de direitos dos gays desde a eleição de um bispo assumidamente gay em New Hampshire, há oito anos, agora está dividida a respeito de como responder à legalização do casamento de mesmo sexo em Nova York.

Quando a lei entrar em vigor no domingo, episcopais gays e lésbicas poderão ser casados por padres no Brooklyn e Queens, mas não no Bronx, Manhattan ou em Staten Island; em Syracuse, mas não em Albany.

Isso porque a Igreja não adotou uma posição firme nacional a respeito do casamento de mesmo sexo, deixando os bispos locais com liberdade para decidir o que os padres podem fazer. No Estado de Nova York, com seis dioceses episcopais, os bispos estão divididos: dois deram sinal verde para os padres celebrarem casamentos de mesmo sexo, um disse que de modo nenhum, dois estão indecisos e um encontrou um meio-termo, permitindo aos padres abençoar, mas não consagrar, casamentos de gays e lésbicas.

A Igreja Episcopal, conhecida como uma das mais abertas aos gays e lésbicas entre as principais denominações protestantes, se vê em uma posição desconfortável em relação ao assunto –abraçando nem a posição clara contrária ao casamento de mesmo sexo, adotada pela Igreja Católica Romana, protestantes evangélicos, muçulmanos, mórmons e líderes judeus ortodoxos, nem a posição de apoio dos judeus reformistas, universalistas unitários e muitos líderes protestantes liberais. A Igreja Episcopal é uma denominação pequena –a Igreja alega ter 172.623 fiéis no Estado de Nova York– mas tem prestígio e influência.

Agora, episcopais gays e lésbicas encontram alegria na legalização do casamento de mesmo sexo, mesclada com a ambiguidade sobre a posição de sua Igreja.

“A Igreja Episcopal deveria comunicar que Deus ama a todos”, disse Roy Kim, 40 anos, que está noivo de um padre episcopal, o reverendo Clayton Crawley. “A Igreja Episcopal faz isso melhor do que a maioria das Igrejas, mas é uma grande oportunidade dizer isso agora, de modo inequívoco”, disse Kim.

Ele e Crawley são da Capela de São Paulo, que faz parte da Trinity Wall Street na Baixa Manhattan. De acordo com a diretriz do bispo local, os padres da Trinity não consagrarão matrimônios de mesmo sexo e a paróquia não decidiu se permitirá que abençoem essas uniões.

As regras da Igreja Episcopal definem o casamento com uma “união de um homem e uma mulher”, mas também diz que o clero deve “se adaptar às leis do Estado” que regem o matrimônio. Em 2009, a denominação aprovou uma resolução dizendo que “os bispos, particularmente aqueles em dioceses dentro de jurisdições civis onde casamentos, uniões civis ou parcerias domésticas de mesmo gênero forem legais, podem fornecer uma resposta pastoral generosa para atender as necessidades do fieis dessa igreja”.

Mas os bispos do Estado de Nova York divergem sobre o que uma “resposta pastoral generosa” significa, e mesmo os bispos que mais apoiam os direitos dos gays estão tendo dificuldade para equilibrar seu desejo de consagrar os relacionamentos de seus paroquianos com sua relutância em alienar ainda mais os anglicanos conservadores na África e mesmo nos Estados Unidos.

Os bispos das dioceses de Long Island e Nova York Central autorizaram os padres a celebrarem casamentos de mesmo sexo; o bispo da Diocese de Nova York (que inclui três dos cinco distritos da cidade) permite que abençoem, mas não realizem os ritos; o bispo da Diocese de Albany proíbe o envolvimento dos padres; e os bispos das dioceses de Rochester e Oeste de Nova York ainda não se pronunciaram.

“Pode parecer para alguém vendo de fora que é apenas disso que estamos falando, mas não é”, disse o bispo Lawrence C. Provenzano, da Diocese de Long Island. “Ela tem lugar na questão mais ampla de como ministrar para o mundo maior.”

Provenzano, cuja diocese inclui o Brooklyn e o Queens, concluiu que uma “resposta generosa” permitia presidir o ritual do matrimônio. Mas o bispo, Mark S. Sisk, da Diocese de Nova York, que inclui os demais distritos, determinou que a resolução de “resposta generosa” não substitui a lei canônica que define o matrimônio.

“O cenário em relação ao matrimônio ainda está mudando por todo o país, dentro da Igreja e para os próprios casais de gays e lésbicas”, disse Sisk, que apoia a legalização do casamento de mesmo sexo, em uma entrevista conduzida por e-mail. “A Igreja ainda está em processo de criar liturgias para esses rituais e incorporá-las à lei da Igreja.”

Vários episcopais gays manifestaram simpatia pelo que consideraram como um esforço de Sisk de equilibrar posições contrárias.

“É uma posição de meio-termo justa”, disse Mary O’ Shaughnessy, coordenadora da divisão para a área metropolitana de Nova York da Integrity USA, que defende o tratamento igual para gays e lésbicas na Igreja Episcopal. “Não há nada que chamaria de homofóbico nisso.”

Derek Baker, 46 anos, também expressou um entendimento da posição de Sisk.

“Ele está entre a cruz e a caldeirinha”, disse Baker, que planeja ter seu casamento abençoado na Igreja da Ascensão, em Greenwich Village, onde Baker é paroquiano há duas décadas.

A situação é particularmente complicada para padres gays como Crawley. Sisk disse que os padres gays e lésbicas que “vivem em relacionamentos comprometidos” devem se casar –mesmo que não possam fazê-lo na igreja.

“Isso é hipocrisia”, disse o reverendo Michael W. Hopkins, reitor da Igreja de São Lucas & São Simão Cirineu, em Rochester. Hopkins já foi presidente da Integrity USA,

Mas Sisk respondeu: “A expectativa de que o clero envolvido em relacionamento se casará não é uma exigência, nem vem com prazo específico”. Ele também disse que os membros do clero devem ser criativos na elaboração de liturgias que possam incluir um casamento civil, conduzido na igreja, mas celebrado por uma autoridade secular, seguido por uma bênção pastoral oferecida por um padre.

Alguns episcopais gays e lésbicas disseram que se contentam em permitir que a Igreja avance lentamente, porque acreditam que ela está avançando na direção certa. A questão do casamento de mesmo sexo provavelmente será levantada de novo na próxima conferência nacional da Igreja, em meados do ano que vem.

“O bispo pode apoiar plenamente o casamento gay, mas ele também entende que a menos que haja uma conversa, e se não formos pacientes, a Igreja quebrará”, disse Javier Galito-Cava, um episcopal gay e ator, que é paroquiano da Capela de São Paulo. “Eu quero gritar e dizer: ‘Como ousam, eu não sou um cidadão de segunda classe’ –mas se quiser que isso aconteça, para mim e para meus filhos, nós temos que dar um passo de cada vez.”

[b]Fonte: The New York Times[/b]

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