Após encontro com o primeiro-ministro de Israel, Benjamin Netanyahu, o presidente Jair Bolsonaro anunciou neste domingo (31) que o Brasil abrirá “um escritório em Jerusalém para a promoção do comércio, investimento, tecnologia e inovação”.
A medida, que já havia sido ventilada sem detalhes pelo presidente brasileiro na semana passada, representa um recuo em relação à promessa de campanha de transferir a embaixada do país de Tel Aviv para Jerusalém, a exemplo do que fizeram Estados Unidos e Guatemala.
A eventual abertura de uma embaixada em Jerusalém causava polêmica dentro e fora do governo brasileiro.
Por um lado, evangélicos e setores ligados ao escritor Olavo de Carvalho defendiam a transferência como uma forma de aproximar o país de Israel. A defesa também está calcada em questões teológicas, especialmente ligadas ao chamado “dispensacionalismo”, doutrina que liga o estabelecimento dos judeus na Palestina à volta de Jesus Cristo.
Já ruralistas e outros setores exportadores temiam que a abertura pudesse comprometer as relações do Brasil com países árabes e muçulmanos, grandes compradores e produtos agropecuários – especialmente proteína animal produzida a partir de preceitos islâmicos – do Brasil.
Países árabes e o Irã respondem por quase 6% de todas as exportações brasileiras.
Por fim, integrantes da ala militar do governo, como o vice-presidente Hamilton Mourão e o ministro da Secretaria de Governo, Carlos Alberto dos Santos Cruz, também já haviam se mostrado reticentes com a transferência.
Observadores familiarizados com as relações entre Brasil e Oriente Médio afirmam que a opção Bolsonaro era a “mais benigna” que estava à mesa. Pressionado por diversos setores, “Bolsonaro teria que anunciar algo”.
O Itamaraty não informou qual o status diplomático do escritório nem deu detalhes de que funcionários atuarão no escritório.
De acordo com a legislação internacional, uma embaixada faz a representação de um Estado nacional para outro, e um consulado representa um Estado nacional para pessoas em outro país.
Segundo Elaini Silva, professora de Relações Internacionais da PUC de São Paulo, o próprio Ministério das Relações Exteriores brasileiro afirma que escritórios comerciais, em geral, são estabelecidos fora do distrito federal do Estado.
“Então, abrir um escritório formalmente em Jerusalém é meio que confirmar que Jerusalém não é a capital, não é o distrito de governo de Israel. Não sei se quem tomou essa decisão está plenamente ciente disso”, afirmou Silva à BBC News Brasil.
Área sob disputa
Com Jerusalém Oriental ocupada por Israel desde a Guerra dos Seis Dias, em 1967, a maior parte da comunidade internacional mantém suas embaixadas em Israel na cidade de Tel Aviv, seguindo o entendimento de que Jerusalém Ocidental só poderá ser considerada capital de Israel quando Jerusalém Oriental puder se tornar a capital palestina.
Israel considera Jerusalém sua capital eterna e indivisível.
A medida anunciada pelo Brasil se assemelha à tomada pelo governo da Hungria. No último dia 19, os húngaros também anunciaram a criação de um escritório comercial em Jerusalém, mas ressaltaram que ele teria “status diplomático”. A Hungria é governada pelo primeiro-ministro Viktor Orban, político de viés nacionalista que compareceu à posse de Bolsonaro em janeiro.
O movimento húngaro foi saudado por Netanyahu “por ser a primeira missão diplomática europeia a ser aberta na cidade em décadas”. “A medida liderada pela Hungria é importante para mudar a atitude da Europa em relação a Jerusalém”, disse o premiê.
Fonte: BBC Brasil