As tumultuadas relações entre a Igreja Católica e o presidente da Venezuela, Hugo Chávez, atravessam um dos seus piores momentos depois que o Conselho Episcopal Venezuelano (CEV) divulgou um duro documento condenando reformas impulsadas pelo governo.

O documento, aprovado há duas semanas pela 88ª Assembléia de Bispos e Arcebispos da Venezuela, classifica o governo Chávez de “populista” e critica pontos como a política econômica, a reforma educacional, a não-renovação da concessão do canal RCTV e até o lema “pátria, socialismo ou morte”.

“Os altos recursos do petróleo se vêem acompanhados pelo aumento da corrupção e do clientelismo político. Cada dia nosso país se faz mais rentista e perde a oportunidade de se converter num país produtivo”, diz o documento, cuja íntegra está no site www.cev.org.ve.

Uma das principais preocupações demonstradas pela cúpula da igreja é a reforma educacional, área na qual tem ampla atuação: “Há a preocupação sobre a pretensão de propor uma educação com uma única e determinada orientação política e ideológica”.

O documento faz ainda uma referência direta a Chávez ao afirmar que “ninguém, e muito menos o presidente da República, tem o direito a insultar ou agredir pessoas ou instituições que discordem de suas opiniões ou projetos”. A resposta de Chávez veio nesta semana. Na segunda-feira, o presidente venezuelano disse lamentar que o CEV atue “como um partido”.

Pecado

“Lamento muito isso, que ataquem com mentiras, isso é um pecado. Eu me nego a pensar que os bispos e cardeais, que cursaram muito anos de estudo, não saibam o que dizem”, discursou Chávez a militares.

Na quarta-feira da semana passada, em tom mais duro ainda, o presidente chamou a elite da igreja de “fariseus hipócritas” e insinuou que Jesus Cristo —a quem costuma chamar de “o primeiro socialista”— está do seu lado.

“Não sei o que faria Cristo a alguns bispos aqui da Venezuela (…), que se põem ao lado dos tiranos, dos que exploram o povo, dos que traem o pensamento e a obra de Jesus e apunhalam Cristo pelas costas”.

Considerado um dos mais ferozes críticos de Chávez, o vice-presidente do CEV, bispo Roberto Lückert , disse que a politização é necessária devido aos rumos tomados pelo governo.

“Alguém tem de fazê-lo, alguém tem de dizer as coisas”, disse. “O temor é que se implemente na Venezuela um regime igual ao de Fidel, autocrático, totalitário e militarista.”

Para o padre jesuíta Jesús María Aguirre, o último documento do CEV é também o mais duro contra Chávez desde o início de seu governo, há oito anos. “É o texto que marca mais distância”, disse à Folha. “Desde o ponto de vista ideológico e conceitual, é o mais frontal.”

Aguirre acredita que a estratégia do CEV seja equivocada, pois tende a afastar a cúpula da igreja das camadas mais pobres da população, amplamente favoráveis a Chávez. “Vejo um grande inconveniente em que os sacerdotes entrem numa confrontação pública direta. Essa posição beligerante simplesmente política rompe relações com o movimento popular”, disse o jesuíta, professor de comunicação da Universidade Católica Andrés Bello.

Para ele há uma ferida “nunca curada” entre o governo e a cúpula da igreja desde o frustrado golpe de abril de 2002, quando o então cardeal Velasco assinou a posse do empresário Pedro Carmona, que substituiu Chávez por quase dois dias.

Chávez chama cardeal de “palhaço” e “papagaio imperialista”

O presidente venezuelano, Hugo Chávez, afirmou hoje que o cardeal hondurenho Óscar Andrés Rodríguez Maradiaga é “outro palhaço imperialista” que repete como “papagaio” as pregações dos Estados Unidos contra o seu Governo “revolucionário”.

“São os papagaios de Washington. Chegou outro papagaio, e agora vestido de cardeal, outro palhaço imperialista”, disse Chávez, respondendo às críticas do arcebispo de Tegucigalpa.

Rodríguez Madariaga declarou neste domingo em San Salvador que Chávez “se acredita como um deus, com direito de atropelar todas as outras pessoas na sua soberba”. Além disso, pediu a abertura ao diálogo para governar a Venezuela.

O cardeal hondurenho previu que a Venezuela enfrentará “um grande sofrimento, porque sempre que se elege um Governo totalitário quem perde é a liberdade das pessoas”.

Chávez destacou como uma “coincidência” que o cardeal hondurenho tenha “disparado” suas críticas “apenas 24 horas depois” de o “embaixador americano” em Honduras atacar o presidente hondurenho, Manuel Zelaya, pelo “simples fato” de ter ido à Nicarágua para a festa dos 28 anos da Revolução Popular Sandinista.

O venezuelano ressaltou que seu Governo não assinou nenhum tratado com o de Honduras. Mas o “império arremeteu contra o próprio presidente hondurenho, com ameaças diretas”, ao dizer que “cada um escolhe seus amigos”, acrescentou.

“É o império desesperado, a decadência do império”, avaliou o governante.

Ainda segundo Chávez, as críticas do cardeal Rodríguez Madariaga fazem parte da “investida da cúpula católica” contra a sua “revolução bolivariana e socialista”.

“Há um bom debate: nós apoiamos o pensamento cristão autêntico e a teoria da libertação do ser humano”, respondeu o presidente venezuelano à “cúpula católica”.

Fonte: Jornal Pequeno e EFE

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