A tentativa do papa Bento 16 de trazer católicos tradicionalistas rebeldes de volta à congregação romana, uma tarefa ampla e que dividiu católicos e às vezes constrangeu o pontífice, parece ter chegado a um beco sem saída e com poucas chances de uma solução.
Dois líderes da Fraternidade Sacerdotal de São Pio 10 (FSSPX), que se separou após rejeitar reformas no Segundo Conselho do Vaticano entre 1962 e 1965, recentemente rejeitaram as condições para sua reabilitação depois de uma série de contatos com Bento 16 após a eleição do papa, em 2005.
O bispo-chefe da fraternidade, Bernard Fellay, cujas autoridades da Igreja esperam que mande uma resposta oficial para Roma em breve, ainda não indicou a posição final do grupo, mas ela não deve ser positiva.
Uma rejeição formal do grupo seria um revés para Bento 16, cuja decisão de retirar a excomunhão sobre seus quatro bispos em 2009 teve efeito contrário quando foi divulgado que um deles era um notório negador do Holocausto, e o Vaticano nem sequer sabia disso.
“A FSSPX estabeleceu condições que são simplesmente inaceitáveis para o papa”, afirmou à Reuters Nicolas Seneze, um especialista francês sobre a fraternidade. “As conversas estão de volta ao patamar zero.”
A FSSPX, baseada na Suíça, se desligou de Roma em 1988, em protesto contra as reformas dos anos 1960, que trocaram o latim pelas línguas locais nas missas, buscaram a reconciliação com os judeus e admitiram que outras religiões também podem levar fiéis para o caminho da salvação.
Bento 16, que à época era a principal autoridade doutrinária do Vaticano, não conseguiu convencer o Arcebispo Marcel Lefebvre, fundador da FSSPX, a não nomear quatro bispos, o que significa que a fraternidade continuava a operar fora do controle do Vaticano.
CONCESSÕES NÃO CORRESPONDIDAS
Desde sua eleição como papa, Bento 16 se encontrou com Fellay, promoveu as missas em Latim que a FSSPX tanto preza e retirou excomunhões impostas sobre Lefebvre e os quatro bispos quando eles afrontaram o papa João Paulo e continuaram com as nomeações não autorizadas.
A decisão de Bento 16 em 2007 de permitir um uso maior da antiga Missa em Latim teve reações mistas entre os católicos. Uma minoria a viu com bons olhos, mas muitos acharam que retomar os rituais do século 16 era uma decisão retrógrada.
Dois anos depois, ele causou ainda mais críticas de católicos, judeus e políticos alemães ao retirar as excomunhões, colocando o bispo Richard Williamson, que nega a existência do Holocausto, de volta à Igreja.
Em 2010, o Vaticano lançou discussões teológicas internas com os rebeldes para obter um acordo que iria tornar a FSSPX uma “prelatura pessoal”, ou instituição autônoma na Igreja, similar ao grupo conservador Opus Dei.
Bento 16 insiste que eles declarem o Conselho do Vaticano e a doutrina da Igreja como ensinamentos católicos válidos. Mas negá-los consiste em um dos princípios do FSSPX.
[b]Fonte: Jornal A Cidade[/b]