A TV Gênesis, emissora da igreja evangélica Sara Nossa Terra, é a campeã entre as TVs religiosas que receberam verba pública para a divulgação de publicidade do governo de Jair Bolsonaro (PL).
Segundo dados da Secretaria de Comunicação (Secom) da Presidência da República, levantados pela coluna Maquiavel, da Veja, em quase três anos foram R$ 3,7 milhões. O montante ultrapassa o que foi repassado a veículos grandes e conhecidos, como TV Cultura, TV Gazeta, ESPN, Discovery, Sony, Fox, e Disney.
A TV Gênesis recebeu, desde janeiro de 2019, quando Bolsonaro assumiu a presidência, pagamentos milionários para divulgação de campanhas como as de conscientização e vacinação contra o coronavírus (R$ 846,6 mil), combate ao mosquito da dengue (R$ 740,8 mil) e vacinações contra o sarampo (R$ 300 mil) e a Influenza (R$ 168,9 mil reais).
A maior parte do valor recebido pela igreja foi paga nos dois primeiros anos (R$ 3,248 milhões em 2019 e 2020). Neste ano, o governo tem reduzido a verba para emissoras religiosas.
Um levantamento do site Diário do Centro do Mundo junto à Kantar Ibope, responsável pela medição de audiência, mostra que na lista de 2020, por exemplo, a emissora pertencente à igreja Sara Nossa Terra, não aparece no Top 50 do ranking da TV paga. Isso significa dizer que a audiência diária do canal não chegou sequer a duas mil pessoas por dia.
Como o canal está fora do ranking, não é possível dizer com certeza quantas pessoas assistiram ao canal. No entanto, sabe-se que é menos de 2 mil. Numa avaliação otimista, em que 1,5 mil telespectadores assistam a TV Gênesis todos os dias, o governo pagou uma fortuna. Numa avaliação pessimista, é possível e, até provável, que o canal marque zero de audiência. Ou seja, Bolsonaro pagou para algo que quase ninguém vê.
Proporcionalmente, a TV Gênesis recebeu mais dinheiro do governo que o Grupo Globo. Os canais da família Marinho embolsaram R$ 137 milhões nesses três anos, mas ela é líder do mercado. Tanto na TV aberta, quanto na TV fechada, as emissoras da Globo comandam a audiência. Num cálculo per capita, o valor por telespectador é muito maior para a emissora da Sara Nossa Terra que à Globo, segundo o site DCM.
Como trata-se de verba publicitária, todas para conscientizar sobre casos como dengue, campanha de vacinação e outras, o critério se perde. Em tese, o anúncio deveria ser voltado para atingir o maior número de pessoas. Mas o Governo Bolsonaro adotou o critério de pagar para uma TV mantida por uma igreja que é de um aliado, afirma o DCM.
A Comunidade Evangélica Sara Nossa Terra é uma Igreja Evangélica neopentecostal, fundada em fevereiro de 1992, em Brasília pelo bispo Robson Rodovalho e pela bispa Maria Lúcia Rodovalho. Ex-deputado federal pelo DEM, Robson Rodovalho é considerado um dos principais aliados de Bolsonaro entre os evangélicos.
Em junho de 2021, após documentos enviados à CPI da Covid-19 terem revelado que o governo federal repassou R$ 527 mil para rádios e emissoras de TV da Fundação Sara Nossa Terra, Robson afirmou que o apoio ao presidente “não depende da publicação de anúncios”.
“É importante destacar que o presidente da República nunca fez qualquer doação ou ofertas à igreja”, disse o bispo na época.
Defesa da reforma da previdência
Em 2018, o site Congresso em Foco revelou que a igreja evangélica Sara Nossa Terra, do bispo Robson Rodovalho, recebeu quase R$ 1 milhão em publicidade do governo Temer para defender a reforma da previdência.
De acordo com reportagem do Congresso em Foco, desde o ano passado, o bispo Robson Rodovalho, líder da igreja evangélica Sara Nossa Terra e que foi deputado por um mandato representando o Distrito Federal, se converteu em um pregador da reforma da Previdência.
Entre 2017 e 2018, o governo repassou R$ 862,8 mil para o CNPJ da Fundação Sara Nossa Terra. Esse foi um dos 20 maiores montantes gastos pela Secretaria de Comunicação Social da Presidência (Secom) para propagandear a reforma engavetada. A instituição religiosa possui uma estrutura própria de comunicação para chegar aos fiéis. Além da TV Gênesis, o grupo inclui a rádio Rede Sara Brasil FM, presente em nove cidades, e o portal Saraonline.
Fonte: Revista Fórum, Diário do Centro do Mundo, Veja e Congresso em Foco