Ex-dançarina do grupo baiano “É o Tchan”, Carla Perez, que se preparar para sair num bloco carnavalesco infantil, na Bahia, diz que agora é uma mulher de Deus e que se arrepende por não ter uma consciência cristã antes e por ter posado nua para a revista masculina Playboy.

A ex-dançarina do “Tchan” Carla Perez, 30 anos, está diferente. Casada, mãe de Camilly Vitória, de 6 anos, e Victor Alexandre, de 4, ela pouco lembra a artista rebolativa que surgiu em 1995, junto com o grupo de axé “Gera Samba” – que depois viria a se chamar “É o Tchan” – , e que mexeu com a imaginação de muito marmanjo com o seu derrière de 105 cm.

Atualmente, ela investe na carreira de cantora infantil. Já está no terceiro CD do novo segmento. O bloco infantil que comanda, o “Algodão Doce”, também se tornou o mais badalado da Bahia, vencendo seis vezes do troféu “Dodô e Osmar” de melhor bloco mirim. Com o “Algodão Doce”, Carla, e convidados como Kelly Key e Toni Garrido, arrastam até 5 mil pequenos foliões pelas ruas de Salvador.

Segundo ela, a nova carreira artística combina mais com o perfil mulher casada e mãe de filhos, e também com o de “mulher de Deus”, como ela se autodefine por ter se convertido ao evangelismo, mais especificamente à Comunidade Evangélica Artistas de Cristo (CEAC), há quase dois anos. O encontro com a religião aconteceu quando ela passava por uma crise em seu casamento com o vocalista do grupo “Harmonia do Samba”, Xanddy, de 28 anos.

“Depois que me tornei uma mulher de Deus, me arrependi de muita coisa que fiz. Na verdade, me arrependo por não ter a consciência cristã antes. Me arrependo, por exemplo, de ter posado para a ‘Playboy'”, diz ela sobre suas três capas e pôster (1995, 1998, 2000 e 2001).

EGO conversou com a nova Carla, que ainda conserva o mesmo carisma de quando surgiu, mas que mudou completamente seus rumos.

Como surgiu a idéia de montar um bloco infantil?

Em 1999, fui convidada para me apresentar no bloco. O “Algodão Doce” já existia, mas pertencia a um amigo. Gostei da experiência e propus a compra do bloco. Ele topou e já em 2000 organizei meu primeiro carnaval. Sempre gostei muito de criança, e achava que isso era uma coisa que iria querer fazer quando tivesse meus filhos.

Quais foram as principais mudanças que você fez no “Algodão Doce”?

Quando me apresentei, era o primeiro ano do bloco e deve ter conseguido arrastar umas 500 crianças. Aos poucos fui colocando uma série de coisas que demonstrassem um cuidado maior. Hoje, além do abadá para desfilar, elas recebem um kit com foto, garrafinha, brinquedinhos para usarem na avenida e lanche. Além disso, tenho todo um cuidado na hora de escolher meus convidados, porque não pode ser ninguém que vá cantar alguma coisa que tenha duplo sentido ou que vá ofender os familiares das crianças. Esse ano, por exemplo, todos os “cordeiros” (que tomam conta das cordas que separam as pessoas que pagaram o bloco das demais) serão mulheres. Acho que mulher tem mais cuidado na hora de lidar com criança.

“Minha carreira no ‘É oTchan’ nunca atrapalhou o trabalho com as crianças, mas sempre fui muito cobrada. As pessoas estavam sempre de olho nas minhas roupas e nas coreografias que eu estava fazendo”

A carreira como dançarina de axé alguma vez atrapalhou o trabalho com as crianças?

Tive sorte porque o trabalho com as crianças não foi programado. Elas já gostavam de mim na época do “Tchan”, e quando fiquei grávida da Camilly, quis gravar um CD com músicas que gostaria de cantar para o meu filho. Só que acabou dando certo e as coisas foram acontecendo. Minha carreira no “É o Tchan” nunca atrapalhou o trabalho com as crianças, mas sempre fui muito cobrada. As pessoas estavam sempre de olho nas minhas roupas e nas coreografias que eu estava fazendo.

Além de empresária, você também virou evangélica. Como foi isso?

Foi em 2006, quando tive uma crise no meu casamento.

Procurou a religião por causa do problema?

Na verdade, não. Aconteceu. Desde muito nova ia à igreja, dizia que era evangélica, mas não praticava. Costumo dizer que era convencida, e não convertida. Minha família passou a freqüentar quando passamos por um problema com meu irmão. Ele era recém-nascido e passou muito mal. Minha mãe rodou vários médicos com ele e ninguém dizia ao certo o que ele tinha. Ele já estava quase morto, e minha mãe sem dinheiro pra médico, quando um dia, voltando pra casa, ela passou em frente a uma igreja e um obreiro a chamou e orou pelo meu irmão. Na hora, ele começou a vomitar e melhorou em seguida. Depois desse episódio, minha família começou a ir aos cultos.

Quando começou a dançar já era evangélica?

Na verdade, não. Minha mãe ia à igreja, mas não era convertida, e a gente acompanhava. Ela não tinha muito tempo para se dedicar porque trabalhava dia e noite para colocar comida em casa.

Se fosse convertida, teria investido na carreira de dançarina de axé?

Não investiria na carreira, não. Hoje sou uma serva de Deus, uma mulher casada, e tenho dois filhos.

Você se arrepende de alguma coisa?

Sim, mas é um arrependimento por saber só hoje o que eu não sabia antes.

“Mas me arrependo, por exemplo, de ter posado para a Playboy. Foi muito legal, me deu a grana, mas não faria de novo”

Do que se arrepende?

Não quero citar para não parecer que estou julgando os outros. Mas me arrependo, por exemplo, de ter posado para a Playboy. Foi muito legal, me deu grana, mas não faria de novo.

Já recebeu novas propostas para posar?

Sim, várias vezes. Fui convidada logo depois que meus filhos nasceram, depois quando recuperei minha forma. A mais recente foi durante a festa de aniversário do meu filho. Tenho uma amiga que trabalha em uma revista masculina. Ela virou pra mim e falou: “Carla, nunca mais mesmo?” E eu respondi que nunca mais.

Tomou essa decisão depois que se converteu?

Não. Na verdade, foi logo depois que noivei com o Xanddy. Na época, havia acabado de assinar o contrato para fazer a terceira capa. Ele teve que agüentar, mas me pediu para não posar mais. Homem não lida bem com isso, não quer que outros fiquem vendo a mulher dele.

“Quando a gente se separou, vi que espiritualmente nossa relação não estava legal. Se o casamento era realmente o que Deus uniu, o homem não separa. Pedi muito a Deus para que ele voltasse para casa, mas
pedi para trazer ele convertido, senão nem precisava voltar”

E por que o casamento entrou em crise?

Não teve um motivo específico. Ele virou para mim e disse que estava infeliz, pegou todos nós de surpresa. Para não dar o braço a torcer, também disse que não estava bom pra mim. Ele foi embora. Depois me arrependi. Por orgulho, a gente fala coisas para não ficar por baixo. Só depois vai ver o que fez.

Como surgiu a igreja?

Estava muito mal e não queria ficar em casa, mas também não queria ir para farra. Foi quando decidi ir para a festa de aniversário de um amigo, que estava comemorando em uma igreja, na CEAC, que é a Comunidade Evangélica Artistas de Cristo. Chegando lá, Deus tocou no meu coração, e já no dia seguinte estava convertida.

Como o Xanddy voltou para a casa?

Quando a gente se separou, vi que espiritualmente nossa relação não estava legal. Se o casamento era realmente o que Deus uniu, o homem não separa. Pedi muito a Deus para que ele voltasse para casa. Mas pedi para trazer ele convertido, senão nem precisava voltar.

E deu certo?

Sim. Ficamos sete dias separados. Muita gente achou que, quando fui ao programa do Gugu Liberato falar da minha separação, era armação. É que naquele dia já havíamos voltado. A gente foi só contar a história e dizer para os fãs que estava tudo bem.

Xanddy aceitou a conversão?

Aceitou, sim. Creio que Deus já tinha um propósito para ele quando tocou o seu coração. Acho que faltava só a oportunidade.

Fonte: Maratimba

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