A proibição da burca e a iminente exibição de filme qualificado de anti-islâmico tendem a provocar reações violentas da comunidade muçulmana e a expor, mais uma vez, a consistência do modelo multicultural na Holanda.

Em novembro passado a ministra de Integração, Rita Verdonk, conhecida como a Dama de Ferro por suas duras medidas contra a imigração, declarou que pesquisaria onde e quando a burca deveria ser proibida. A burca é o véu utilizado pelas mulheres muçulmanas que cobre seu rosto, ou todo o corpo, exceto uma faixa nos olhos.
A ministra disse que considera importante que todas as pessoas na Holanda pudessem se ver e identificar umas as outras para facilitar a integração e a tolerância.

Na quinta-feira, 24, o governo decidiu que não imporia uma proibição geral ao uso da burca e vestidos similares, com exceção nas escolas e nas repartições públicas.

Originário da Península Arábica, a burca foi o vestuário que as afegãs tiveram que usar em público sob o regime dos talibãs.

Especialistas afirmam que o véu, que só cobre a cabeça, é parte dos ensinos do Alcorão. No Alcorão há referências à necessidade de cobrir a cabeça, uma mostra de humildade perante Deus, mas não há uma descrição da forma como isto deve ser feito.

A medida governamental que limita o uso da burca soma-se à viva controvérsia sobre filme de iminente exibição no país, realizada pelo político e parlamentar Geert Wilders, líder do Partido da Liberdade, uma organização que analistas políticos qualificam de “islamofóbica”.

No curta, de dez minutos, Wilders aparece rompendo ou queimando um exemplar do Alcorão diante das câmeras, segundo informações da imprensa holandesa. Este filme, disse Wilders, é uma ilustração de como o Alcorão inspira as pessoas a “fazer as piores coisas”.

Em agosto passado, Wilders qualificou o texto sagrado dos muçulmanos como “um livro fascista que incita ao ódio e ao assassinato”, reivindicando que fosse declarado ilegal, inclusive nas mesquitas holandesas.
O primeiro ministro holandês, Jan Peter Balkenende, manifestou que seu governo está tomando medidas ante as previsíveis reações ao filme, que “afetariam a ordem, a segurança pública e a economia”.

Em novembro de 2004, o cineasta holandês Theo van Gogh, autor de um filme intitulado “Submissão”, no qual criticava o papel da mulher no Alcorão, foi assassinado por um jovem de origem marroquina residente em Amsterdã.

O assassinato de van Gogh e a subseqüente descoberta de uma rede de extremistas muçulmanos em Amsterdã representou um duro golpe para uma sociedade historicamente caracterizada pela tolerância.

O extremismo muçulmano começou a ser visto desde então como uma ameaça à construção de uma nova identidade baseada no liberalismo laico. Pesquisa realizada em 2006 indicou que 51% da população têm opinião desfavorável aos muçulmanos, uma percentagem mais alta do que a verificada na França, Reino Unido e Alemanha.

Os muçulmanos residentes no país somam um milhão de pessoas (6%), o que torna a Holanda, proporcionalmente, o segundo país com maior população islâmica da Europa Ocidental depois da França (10%).

Fonte: ALC

Comentários