O Vaticano deve divulgar nesta semana sua estimativa oficial para o número de católicos do Brasil. Segundo as estatísticas da Santa Sé obtidas pela BBC Brasil, o país tinha em 2005 mais de 155,6 milhões de católicos – o equivalente a 84,5% da população daquele ano.

A estimativa contrasta com a do IBGE, que em seu censo de 2000 calculou que 73,8% dos brasileiros – cerca de 125 milhões de pessoas – eram católicas.

Mesmo dentro da igreja, já houve estimativas mais modestas que isto, como a do cardeal brasileiro Cláudio Hummes, atual prefeito da Congregação do Clero.

Citando uma pesquisa realizada pela Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) realizada em 2005 nas capitais dos Estados brasileiros, D. Cláudio disse que o país tinha 67% de católicos.

A estatística, que permanece igual à calculada no ano anterior, mantém o Brasil na condição de maior país católico do mundo. Existem 1,1 bilhão de católicos no planeta, segundo as estatísticas.

Pelos dados oficiais do Vaticano – que fazem do Brasil a maior nação católica do mundo – não houve mudança no percentual de católicos do Brasil, que permaneceu idêntico ao de 2004. Naquele ano, calcula o Vaticano, 84,5% dos 181,6 milhões dos brasileiros eram católicos.

Queda

O responsável pelo Centro de Estatísticas do Vaticano, Enrico Nenna, afirma que é difícil detectar grandes diferenças de um ano para outro, e isso explica a manutenção do percentual, apesar de a tendência existir quando se analisam números de uma ou duas décadas atrás.

“Em 1980, os católicos representavam 90,12% da população brasileira. Já em 1990, passaram para 87,7%. Hoje, temos 84,5%, portanto uma clara diminuição”, disse Nenna.

A disparidade dos dados se deve ao fato de que o Vaticano faz os cálculos com base no número de batizados, que recebe das dioceses de todo o mundo, junto com outras informações.

Os dados fornecem o número de católicos, bispos, sacerdotes, seminaristas e paróquias nos vários países , e são divulgados anualmente pelo escritório de estatísticas do Vaticano, servindo como fonte para outros institutos de pesquisa, alguns setores da Igreja Católica, escolas, políticos e meios de comunicação.

Questionamento

O critério, no entanto, é questionado. A Associação Italiana de Ateus considera que as estatísticas da Santa Sé não têm credibilidade.

“Nós chegamos a analisar três anuários estatísticos seguidos, e verificamos que às vezes o número de batizados é arredondado, e em outras é maior do que o número de crianças que nasceram naquele ano”, diz Raffaele Carcano, secretário da associação, que conta com expoentes do mundo científico italiano entre seus sócios.

O responsável pelas estatísticas do Vaticano rebateu as críticas, afirmando que a credibilidade é garantida, e aumenta ano a ano.

“Elaboramos as estatísticas desde 1970 e publicamos os dados apenas quando comprovamos que há uma coerência lógica e temporal”, garante Enrico Nenna.

Na opinião de Raffaele Carcano, no entanto, as cifras divulgadas pelo Vaticano não correspondem à adesão real das pessoas à Igreja, e não podem ser definidas como estatísticas porque não são fruto de um censo.

“As dioceses não funcionam como instituições municipais ou estaduais, que fornecem informações certificadas”, alega.

Outra crítica que a associação faz à divulgação das estatísticas da Santa Sé é que elas podem condicionar o mundo político.

“A publicação de cifras tão altas divulgadas pela Igreja pode influenciar o comportamento dos políticos no Parlamento”, afirmou Carcano, que lidera uma campanha para incentivar o “desbatismo”, isto é, que pessoas possam deixar oficialmente a Igreja Católica.

Fonte: BBC Brasil

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