Horas antes de os resultados oficiais indicarem que o democrata Barack Obama havia obtido uma vitória consagradora no chamado caucus de Iowa, já era possível ter uma pequena amostra do êxito do candidato no Estado.

Na Igreja New Hope Assembly of God, um dos mais de 1,7 mil locais em que foram realizados o caucus de Iowa, Obama teve uma vitória ainda mais expressiva do que a obtida em sua média geral na prévia do Estado. Na igreja situada em Urbandale, ao norte da capital Des Moines, Obama venceu de lavada, com mais de 49% da preferência. Com um total de 135 votos, contra 77 de John Edwards e 62 de Hillary Clinton.

Assim que chegavam ao local, os simpatizantes de diferentes candidatos se posicionavam em diferentes cantos da sala. Os bancos à direita foram os escolhidos pelo grupo que apoiava Hillary Clinton, os do centro, ficaram com os simpatizantes de Obama. Os seguidores de John Edwards se sentaram à esquerda e os representantes de candidatos menos expressivos, como Joseph Biden, Bill Richardson e Denis Kucinich se sentaram à extrema esquerda – vale frisar que o posicionamento dos representantes de cada candidato dentro da sala nada teve a ver com o posicionamento ideológico dos políticos que defendiam. Contagem Assim que todos os participantes chegaram à igreja, assinaram suas fichas de inscrição e provaram ser moradores de Iowa, a contagem de cabeças começou.

Em Iowa, o critério do caucus é distinto para republicanos e democratas. Enquanto que os primeiros seguem uma votação mais ou menos tradicional, os democratas se baseiam em uma votação visual – na qual representantes dos diferentes candidatos se separam em diferentes cantos de um recinto, a fim de manifestarem suas preferências. Assim que a contagem começou, já ficou claro que Obama iria se destacar. Os bancos do centro, onde se sentaram seus representantes, eram visivelmente os mais cheios e disputados. Pouco depois, o chefe do caucus da igreja New Hope revelou os dados da contagem inicial. Obama venceu com 111 votos, superando os 67 de Edwards, 61 de Clinton, 19 de Richardson, 11 de Biden, 4 de Kucinich, 2 de Dodd e oito de indecisos. Candidato “viável” Pelas regras da prévia de Iowa, o grupo que apóia um candidato que, na média geral, obteve menos de 15% deve se reagrupar e apoiar um candidato considerado ”viável”, ou seja, que supera a cifra de 15%, caso de Obama, Edwards e Clinton. Com isso, começam uma série de conversas por todo o recinto, com simpatizantes dos respectivos candidatos tentando cooptar indecisos e representantes de ”candidatos nanicos”.

Conner Tipping, o ”capitão” da candidatura de Joseph Biden no local, disse que iria apoiar Hillary Clinton, uma vez que, pela estratégia da campanha, seria importante que ela obtivesse a vitória, a fim de garantir que John Edwards não estivesse entre os dois primeiros colocados, permitindo que Biden possa tentar chegar entre os três primeiros nas próximas primárias e caucus. A hipótese da campanha de Biden era que se Edwards chegasse em terceiro em Iowa, ele provavelmente iria desistir da disputa presidencial, abrindo assim o caminho para Biden. Dessa forma, Conner foi tranquilamente andando até o canto direito da sala, onde se sentou com os simpatizantes de Hillary, medida que foi recebida com aplausos por eles. Aplausos Já a campanha de Richardson havia instruído os seus simpatizantes a optarem por Obama, caso o candidato não tivesse uma votação expressiva.

Mas, ao contrário do disciplinado capitão de Biden, o capitão da candidatura Richardson disse que iria se juntar ao grupo que apoiou Edwards. Os outros 18 seguidores de Richardson também ignoraram a estratégia do comando e optaram por seguir seus corações, dividindo-se entre Obama, na maioria, e Edwards. Cada nova adesão era recebida com novos aplausos. Josh Kaiser, um dos simpatizantes de Obama, diz descartar as acusações de que o candidato tem pouca experiência. ”Talvez ter menos experiência em Washington seja o que estamos precisando, ainda mais agora, que temos um governo corrupto”. Sua mulher, Beth, endossa o apoio dado pelo marido e diz ter se entusiasmado com Obama após ter visto o candidato discursando em comícios. Ela acredita que o senador pelo Estado de Illinois tem boas chances de ser o candidato democrata à presidência e conquistar a Casa Branca. Após inúmeras andanças pela sala-igreja e extensas conversas entre os participantes, foi feita uma nova contagem.

Assim que o chefe da seção anunciou os novos números de Obama, seus simpatizantes urraram e bateram palmas. Juramento Do lado democrata, o caucus da Igreja New Hope Assembly of God está concluído. E os participantes começam a recolher seus casacos pendurados do lado de fora antes de enfrentarem as temperaturas abaixo de zero e retornarem para suas casas. Ainda há tempo de conferir como foi a votação na outra sala da igreja, onde se reuniram os republicanos. Lá também a votação parece um microcosmo do que foi o caucus de Iowa como um todo. Mike Huckabee é o vencedor, com 75 votos, superando Mitt Romney, com 40, Fred Thompson, com 37, John McCain, com 15, Ron Paul, com 13, e Alan Keyes, com apenas 1 voto.

Ao contrário do lado democrata, em que a contagem de votos se deu pouco após a chegada dos representantes de cada candidato, sem maiores preâmbulos, entre os republicanos o caucus começou com uma oração e o juramento à bandeira americana. Em seguida, os simpatizantes de cada candidato votaram em seus favoritos numa cédula eleitoral convencional.

”Nós somos mais civilizados do que eles. Sei bem porque já estive do outro lado. A confusão do lado deles é muito grande”, afirma a eleitora republicana Josette Daum, aos risos. Ela conta ter votado em Mitt Romney, mas diz gostar também do vencedor, Mike Huckabee.

”Fico feliz que ele tenha vencido. Acho que ele poderá ser eleito. Ele passa a imagem de um sujeito comum e os eleitores se identificam com ele.”

Fonte: BBC Brasil

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