Críticas à paralisia que toma conta do Congresso Nacional, ao modo como o governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva tem enfrentado a crise econômica mundial e à generalização da corrupção marcaram nesta quarta a abertura da 47ª Assembleia Geral da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), em Itaici, localidade de Indaiatuba, na região de Campinas (SP).

A assembleia, que se estende até dia 1º de maio e tem a participação de 330 bispos brasileiros, discutiu no primeiro dia a conjuntura nacional sem poupar os parlamentares.

O documento que serviu de base para a discussão da conjuntura, que não é oficial da CNBB, lembra um triste recorde dos parlamentares. “O Congresso Nacional registrou nos dois primeiros meses deste ano a menor produtividade em plenário dos últimos nove anos: só oito projetos votados pelo Senado e pela Câmara dos Deputados. Representa cerca de um terço do ano de 2008 no mesmo período. E o clima interno é desolador. A cada dia surgem novas denúncias de corrupção de pessoas de seus quadros”, afirma o texto da CNBB.

Para destacar o caos vivido pelo Congresso, o texto que serviu de base para o debate dos bispos brasileiros fala do temor, manifestado em São Paulo pelo presidente da Câmara dos Deputados, Michel Temer (PMDB-SP), de um possível plebiscito decidir pelo fechamento do Legislativo. “Um deputado chegou a explicitar o risco de alguém propor um plebiscito para fechar o Congresso”, observa.

Logo pela manhã, na missa de abertura da assembleia dos bispos, o vice-presidente da CNBB, dom Luiz Soares Vieira, arcebispo de Manaus, já deu o tom crítico do encontro, chamando a atenção para os problemas enfrentados pelo povo brasileiro, citando a crise econômica, a corrupção e a violência.

– Não nos esqueçamos da realidade e da situação de nossa pátria, a qual servimos e nos sentimos responsáveis. Como no tempo dos apóstolos, o Ressuscitado pede à CNBB que lance as redes da realidade do povo brasileiro. Há um grande cardume de problemas, especialmente os efeitos da crise financeira e econômica, a corrupção e a violência, que aguardam a solicitude missionária da Igreja para serem assumidos à luz da Ressurreição, e transformados em caminho de vida nova para todos – disse dom Luiz.

Ainda no documento de análise de conjuntura, que é praticamente todo dedicado a avaliar a crise econômica mundial, há críticas diretas ao presidente Lula, que “continua dando força ao agronegócio e à mineração, sem atentar para os danos causados ao meio ambiente”. De acordo com o texto, “tudo se passa como se o aumento da produção para exportação fosse uma solução e não um paliativo que adia a crise econômica mas antecipa a crise ecológica – que é muito mais grave”.

Na análise debatida nesta quarta pelos bispos brasileiros, a crise financeira de setembro do ano passado já é considerada, como afirma o historiador americano Eric Hobsbawn, “o muro de Berlim do neoliberalismo”, e propõe saídas inseridas no desenvolvimento da economia solidária. Um exemplo, conforme o documento, são as “pistas práticas” na direção desse novo modelo de produção e consumo apresentadas a partir do Fórum Social Mundial, realizado em Belém em janeiro último, que Lula, conforme a crítica, ignora.

“As principais medidas tomadas pelo governo Lula vão, salvo exceções, na direção contrária à construção de ‘outro mundo possível’. Só recentemente o Banco Central começou a baixar a elevada taxa de juros – que retira dinheiro da economia real para alimentar o jogo financeiro dos rentistas improdutivos. O pacote de medidas do governo para dar liquidez à economia é incapaz de atingir a raiz da crise, que é a especulação financeira”, dispara o documento não oficial.

As críticas são diretas ao presidente do Banco Central, Henrique Meirelles. “A política macroeconômica conduzida por H. Meirelles segue igual ao que era antes da crise: ignora o fracasso da autorregulação do mercado e continua apostando no futuro do sistema de mercado regido pela lógica do lucro e pelo produtivismo. Embora tenha diminuído sua meta, a realização de superávits primários (eufemismo que serve para camuflar o déficit fiscal provocado pelo serviço da dívida) continuará sangrando o Tesouro Nacional para sustentar a renda dos credores da dívida pública.”

Na homilia da missa de abertura, o presidente da CNBB, dom Geraldo Lyrio Rocha, arcebispo de Mariana (MG), falou sobre os temas que serão tratados de hoje até 1º de abril por cerca de 300 bispos que participam da assembleia. O tema central é “A formação presbiterial: desafios e diretrizes”, mas os bispos ainda debaterão dois outros temas prioritários: “Iniciação à vida cristã” e “O Brasil na Missão Continental”.

Modernização também será tema de encontro da CNBB

Os mais de 300 bispos do país vão tratar também de temas como poder e celibato. A pauta do encontro inclui a revisão do documento 55, que trata das Diretrizes Básicas da Formação dos Presbíteros da Igreja no Brasil, em vigor desde 1995. O novo texto será discutido e terá de ser aprovado pela Assembleia e, em seguida, encaminhado à Congregação para a Educação Católica, em Roma, para aprovação.

A Comissão Episcopal Pastoral para os Ministérios Ordenados, que cuida da formação e da obediência dos padres, preparou um texto para discussão na assembleia, no qual um dos itens principais é a formação humano-afetiva do clero. Uma das propostas é oferecer aos padres serviço psicológico para que mantenham o celibato.

Fonte: O Globo Online

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