“Ouçam a Palavra do Senhor todos os que se dizem filhos de Deus; pois o Senhor tem uma contenda com os habitantes da terra; porque na terra não há verdade, nem benignidade, nem conhecimento de Deus. Sim! Só prevalecem o perjurar, o mentir, o matar, o furtar, e o adulterar; há violências e homicídios sobre homicídios”. — Profeta Oséias.
Quando as Escrituras falam da ira de Deus, de fato referem-se ao estado acima descrito por Deus através de Oséias.
Ou seja: existir contra a vida estabelecida por Deus, faz a existência se transformar em uma experiência de contenda com Deus, o que, por si só, põe aquele que assim se ponha contra Deus em uma situação equivalente àquela que aguarda alguém que se arremesse do alto de uma montanha contra as afiadas pedras do penhasco milhares de metros abaixo.
A ira de Deus é Deus sem que Suas mãos de Graça estejam estendidas em nosso favor. Pois, em tal caso, o recolhimento das mãos de Deus se manifesta na proporção da obstinação do homem que se atira nu do penhasco apenas por desafiar o poder da Lei da Gravidade.
A ira de Deus é o homem sozinho em sua decisão de voar sem asas.
A ira de Deus é apenas o deixar que cada um ande conforme suas escolhas e prove o resultado simples de suas próprias ações sem amor e verdade.
A ira de Deus é o homem contra si mesmo!
Sim! A ira de Deus é o fruto da semente da existência que pretende ser sem Deus como vida.
Desse modo, sobretudo, a ira de Deus é a maldade do homem feita contra si mesmo como conseqüência do que projeta como existência sem vida em amor para si e para os que estão à volta.
A ira de Deus é descrita como “um resvalar de Seu pé”. Assim, basta Deus sacudir e Sua ira é aquilo que o homem recebe como ausência de Graça, que é total desgraça.
“A Ira de Deus” é o nome divino dado ao lado oposto ao que seja a mais absoluta burrice e estupidez do homem!
Ora, ninguém é dono de nada, nem “da própria vida”. Por esta razão, sempre que se pretende existir contra aquilo que Deus chama de Vida, o que se institui é o poder contrário, que é o poder da morte e daquele que apenas vem para matar, roubar e destruir.
De fato, devemos saber que nenhum de nós tem aquilo que chamamos de “a própria vida”. Afinal, quem é o mortal que possa dizer “minha própria vida” sem que o faça à semelhança de uma ameba que se sinta a dona do cosmo?
Põe-se sob a ira de Deus aquele que existe odiando o que Deus chama Vida!
E o que Deus chama vida além do existir em amor, misericórdia, bondade, verdade, sinceridade, generosidade e promoção da paz?
Assim, a contenda de Deus com os habitantes da terra está posta e instituída.
Sim! Enquanto o que prevalecer for aquilo que Oséias descreve como sendo uma existência na qual não há verdade, nem benignidade, nem conhecimento de Deus, prevalecendo somente o perjurar, o mentir, o matar, o furtar, e o adulterar; havendo ainda violências e homicídios sobre homicídios — então, o que fica decretado é ira de Deus; e isto feito pelo próprio homem.
Desse modo, “Deus irado” é Deus deixando o homem por conta própria.
É por tal razão que Paulo diz que a ira de Deus se manifesta dos céus contra todo aquele que ama a mentira contra a verdade. A conseqüência de tal “ira” é descrita por Paulo como sendo o entregar o homem à sua própria disposição mental.
Ora, no fundo a misericórdia de Deus sempre prevalece sobre o juízo, e, por tal razão, “o pior de Deus” que a bondade de Deus consegue nos servir é Sua ausência, dando-nos liberdade em nossa livre decisão de servirmos a morte mediante as escolhas que fazemos contra o caminho da verdade e do amor simples para com os céus e a terra.
Pense nisto!
Nele, que até em ira nos deixa livres; ou melhor: apenas nos entrega a nós mesmos,
Caio