A vida passa como um corredor veloz. É tão fugaz como a neblina que aparece e logo se dissipa. É frágil e passageira como uma flor que viceja para em seguida murchar e secar. Nossos dias, por mais longos, são breves e cheios de dores. Nascemos chorando, vivemos regando a estrada da vida com nossas lágrimas e descemos à sepultura em meio às lágrimas. Mesmo que nos rendamos à ansiosa tentativa de estender nossos dias sobre a terra, não podemos acrescentar um côvado à nossa existência. Tudo passa rapidamente e nós voamos. Nossa passagem por este mundo não é apenas meteórica, mas, também, a lembrança de quem fomos e o que fizemos cai no esquecimento. Os troféus que ajuntamos enferrujam. As medalhas que lustramos cobrem-se de poeira. Nossos feitos mais nobres caem na vala do esquecimento. Não conseguimos sequer lembrar de nossos ancestrais. Não saberemos o nome de nossas tataravós. Nossos tetranetos também não se lembrarão de nós. Grandes nomes do passado, que ostentaram o cetro do poder e viveram sob os holofotes da fama foram apagados de nossa memória. Artistas, cantores, escritores e cientistas de renome do passado não são mais lembrados em nossa geração. Pregadores de escol, que alçaram sua voz eloquente em seu tempo, não são mais conhecidos em nosso tempo. Sim, a vida é curta e as memórias do passado vão se apagando como uma luz bruxuleante.
A vida não é apenas curta, mas, também, a morte é certa. A morte chega e chega para todos. Chega, às vezes, sem aviso prévio e coloca sua mão gelada sobre todos indistintamente. A morte nivela todos os homens. É o sinal de igualdade na equação da vida. Morrem os reis e os vassalos. Morrem os médicos e os pacientes. Morrem os ricos e os pobres. Morrem os doutos e os iletrados. Morrem os velhos e os jovens. Morrem os pios e os incréus. Não há medicina tão eficaz que nos livre da caçada da morte. Não há caverna tão profunda que a seta da morte não nos atinja.
A Bíblia diz que a morte é uma sentença divina. Deus disse ao homem transgressor: “Porque tu és pó e ao pó tornarás” (Gn 3.19). Diz ainda mais a Escritura: “Ao homem está ordenado morrer…” (Hb 9.27). Salomão, na ânsia de encontrar o sentido da vida, chega à dolorosa conclusão que morre tanto o sábio quanto o tolo (Ec 2.16). Nem a sabedoria nem a loucura mantém do lado de fora da porta essa inimiga assustadora. Podemos adquirir conhecimento, amealhar fortunas e alcançar o apogeu da glória humana, mas nada disso poderá nos esconder da morte. Certamente a vida é curta e a morte é certa.
Será, então, que a vida faz sentido? Será que a morte coloca um ponto final em nossa esperança? Debaixo do sol, a vida é uma corrida atrás do vento e a morte é o apagão das lembranças. Porém, em Cristo a vida é bela e a morte é bem-aventurança. A Escritura diz que Cristo é a nossa vida. Ele veio para nos dar vida e vida em abundância. Nele temos a própria vida eterna. Para aquele que está em Cristo, a morte não é o fim trágico. Jesus arrancou o aguilhão da morte, matou a morte e ressuscitou, inaugurando a imoralidade. Ele é a ressurreição e a vida. Para aquele que está em Cristo, morrer é lucro, pois morrer é deixar o corpo e habitar com o Senhor. É partir para estar com Cristo, o que é incomparavelmente melhor. Aqueles que morrem no Senhor são bem-aventurados. Sua memória jamais será apagada, pois viveremos com Cristo por toda a eternidade, deleitar-nos-emos nele e reinaremos com ele, pelos séculos dos séculos.
Hoje podemos celebrar a vida sem medo da morte. Podemos alçar nossa voz e proclamar como Paulo, o paladino da fé: “Para mim o viver é Cristo e o morrer é lucro” (Fp 1.21).
Rev. Hernandes Dias Lopes