DESEJO, FALTA E CONSUMO: UMA INTERPRETAÇÃO PSICANALÍTICA SOBRE O FETICHISMO

O fetiche tem uma função simbólica crucial. Para Lacan, o fetiche funciona como um substituto do falo – um símbolo de completude e poder.

Arte digital de autoria de Helena Chiappetta
Arte digital de autoria de Helena Chiappetta

Fetichismo e Psicanálise
A psicanálise, especialmente na obra de Sigmund Freud e posteriormente de teóricos como Jacques Lacan, oferece uma interpretação do fetichismo e de como ele se relaciona com as relações de consumo. Vamos abordar ambos os conceitos em maior detalhe.

Sigmund Freud
Origem do Fetichismo: Para Freud, o fetichismo está profundamente ligado ao complexo de castração. Durante o desenvolvimento psicossexual, a criança percebe as diferenças anatômicas entre os sexos, particularmente a ausência do pênis na mãe ou na figura feminina, o que gera uma ansiedade chamada “ansiedade de castração”. Esta percepção de ausência e o medo subsequente de perder o próprio pênis levam o indivíduo a desenvolver um fetiche – um objeto que simboliza o pênis perdido ou ausente. Este objeto, o fetiche, serve como um substituto que permite ao indivíduo lidar com essa ansiedade, proporcionando uma sensação de segurança e prazer. Por exemplo, um homem pode desenvolver um fetiche por sapatos femininos porque, inconscientemente, os sapatos simbolizam a ausência e, simultaneamente, a presença do objeto de desejo perdido.

Objeto Fetichista
O objeto do fetiche pode ser variado e é caracterizado por sua capacidade de simbolizar algo ausente. Pode ser partes do corpo como pés, cabelos ou mãos, ou objetos como roupas, sapatos ou materiais específicos. A escolha do objeto fetichista é subjetiva, baseada nas experiências pessoais e associações psíquicas do indivíduo. Este objeto não apenas simboliza a ausência, mas também oferece uma forma de prazer substitutivo, onde a satisfação sexual é deslocada do ato sexual convencional para a interação com o fetiche. Assim, o fetiche torna-se um mecanismo psíquico para lidar com a falta e a ansiedade, fornecendo uma ilusão de completude.

Jacques Lacan – Desejo e Objeto a
Lacan, seguindo e reformulando Freud, aprofunda a análise do fetichismo introduzindo o conceito do “objeto a”. Este conceito refere-se ao objeto causa do desejo, algo que o sujeito busca incessantemente mas nunca pode alcançar completamente. A busca pelo “objeto a” é impulsionada por uma sensação de falta que estrutura o desejo humano. O fetichismo, nesse contexto, representa uma tentativa do sujeito de encontrar e fixar esse objeto inatingível (objeto a). O fetiche, então, é uma maneira de lidar com essa busca interminável, oferecendo um substituto temporário que parece preencher a falta, mesmo que de forma ilusória.

O Falo na Perspectiva Psicanalítica de Jacques Lacan
Na psicanálise, especialmente na obra de Jacques Lacan, o conceito de falo assume um papel central e simbólico que vai muito além de qualquer referência anatômica. O falo, na teoria lacaniana, não se limita ao órgão genital masculino, mas representa um significante fundamental na estruturação do desejo e da identidade.

Desde o início da vida, a criança é introduzida no universo da linguagem e das significações através das relações com os pais e cuidadores. Neste contexto, o falo surge como um símbolo que transcende a anatomia e se torna um ponto de referência crucial no desenvolvimento psíquico. Para Lacan, o falo é o símbolo do poder, da completude e daquilo que falta. Ele é o que organiza o desejo, servindo como o objeto último do desejo humano, embora nunca possa ser completamente alcançado.

Lacan destaca que o falo é um significante que simboliza a falta e o desejo, influenciando a formação da identidade desde a infância. A criança percebe as diferenças sexuais e associa a ausência do pênis na mãe a uma falta, o que gera a ansiedade da castração – o medo de perder o falo ou de nunca possuí-lo. Esta ansiedade marca profundamente a psique, influenciando comportamentos e desejos ao longo da vida. A criança, ao perceber a falta no Outro (a mãe, por exemplo), começa a entender a sua própria falta e a estruturação do seu desejo.

Para Lacan, o falo não é um objeto físico, mas um significante que representa aquilo que está sempre ausente, aquilo que o sujeito deseja mas nunca pode alcançar plenamente. É essa inatingibilidade do falo que mantém o desejo humano em constante movimento, sempre em busca de algo que parece estar ao alcance, mas que inevitavelmente escapa. O falo, portanto, é o motor do desejo, mantendo a dinâmica da busca e da insatisfação.

No âmbito das relações sociais e culturais, o falo assume diversas formas e pode ser representado por objetos, status ou outros símbolos de poder e completude. No mundo contemporâneo, por exemplo, itens como carros de luxo, posições de prestígio ou tecnologias avançadas funcionam como substitutos simbólicos do falo. Eles representam a promessa de completude e sucesso, mas a satisfação que proporcionam é sempre temporária, perpetuando o ciclo de desejo e busca. Esses objetos são investidos com um valor simbólico que vai muito além de sua utilidade prática, refletindo o desejo do sujeito de preencher uma falta.

Lacan nos ensina que o falo é um ponto de referência fundamental para entender as dinâmicas do desejo e da identidade. Ele revela como os indivíduos tentam lidar com a falta inerente à existência humana, buscando constantemente objetos e símbolos que prometem preencher essa falta, mesmo que de forma ilusória. Compreender o falo na teoria lacaniana é compreender a essência do desejo humano – uma busca incessante por algo que nunca é plenamente alcançado, mas que nos mantém em movimento, na procura contínua por significação e realização.

O falo, portanto, é uma chave para desvendar muitos dos comportamentos e motivações que moldam nossa vida psíquica e social. Ele nos ensina que a busca pela completude é uma jornada interminável, impulsionada por um desejo que nunca é totalmente satisfeito, mas que nos impulsiona a seguir adiante, na tentativa de encontrar sentido e satisfação em nossas vidas.

Simbolismo
O fetiche tem uma função simbólica crucial. Para Lacan, o fetiche funciona como um substituto do falo – um símbolo de completude e poder. O falo, na teoria lacaniana, não é meramente um órgão físico, mas um símbolo de algo que promete completude e resolução da falta. O fetiche ajuda o sujeito a lidar com a castração simbólica, que é a falta inerente ao desejo humano. Esta falta nunca pode ser plenamente preenchida, mas o fetiche oferece um modo de lidar com ela, proporcionando uma sensação de controle e prazer simbólico.

Fetichismo e Consumismo

Karl Marx – Fetichismo da Mercadoria
Em sua obra “O Capital”, Karl Marx introduz o conceito de fetichismo da mercadoria. Ele argumenta que, no sistema capitalista, as relações sociais entre as pessoas são mediadas e obscurecidas por objetos, ou mercadorias. Isso cria uma situação em que as mercadorias parecem possuir um valor intrínseco, independente das relações sociais e do trabalho humano que as produziram. Em outras palavras, o valor de uma mercadoria é percebido como uma característica natural do próprio objeto, e não como resultado das complexas interações sociais e do trabalho humano investido em sua produção. Este fenômeno, que Marx chama de “fetichismo da mercadoria”, faz com que os produtos do trabalho humano sejam vistos como entidades autônomas com vida própria, separadas dos processos sociais que os originaram.

No entanto, ao focar exclusivamente na estrutura econômica, Marx pode ser acusado de reduzir as relações pessoais apenas numa dimensão econômica, e negligenciar a profundidade das dinâmicas psíquicas do ser humano e que a psicanálise explora de maneira apropriada. Ele enxerga a mercadoria como um véu que encobre as verdadeiras relações de produção, mas não aborda como essas mercadorias também se tornam objetos de desejo profundamente enraizados no inconsciente humano.

Alienação
O fetichismo da mercadoria leva à alienação, uma condição onde os trabalhadores se desconectam do processo de produção e dos outros seres humanos. Os trabalhadores não se reconhecem nos produtos do seu trabalho, e as relações humanas são mediadas por objetos de consumo. Isso resulta em uma situação em que as pessoas percebem e avaliam o mundo e suas interações através das mercadorias que consomem, em vez de através de relações humanas diretas. Este processo de alienação é central para a crítica marxista do capitalismo, pois revela como o sistema capitalista transforma as relações humanas em relações entre coisas.

Ainda que a crítica marxista à alienação no capitalismo possa ser válida, ela pode ser considerada bastante limitada se não levar em conta a dimensão simbólica e inconsciente das relações humanas. A psicanálise nos lembra que a alienação não é apenas uma condição socioeconômica, mas também uma condição psíquica. A transformação das relações econômicas, embora necessária, não aborda completamente a estrutura do desejo humano e a maneira como as pessoas projetam seus anseios e faltas nos objetos de consumo.

Assim, a psicanálise complementa e enriquece a crítica marxista ao revelar que a alienação tem raízes mais profundas no inconsciente. O desejo humano, estruturado pela falta, não pode ser plenamente compreendido apenas em termos de relações de produção e consumo. Portanto, uma análise verdadeiramente abrangente das dinâmicas econômicas e sociais deve considerar tanto as condições materiais quanto as motivações psíquicas que dirigem o comportamento humano. Dessa forma, podemos entender melhor como o fetichismo da mercadoria não apenas obscurece as relações de produção, mas também se entrelaça com os desejos e as ansiedades inconscientes dos indivíduos.

Conexão com a psicanálise

Desejo e consumo
A psicanálise nos oferece uma rica explicação sobre como o desejo humano, estruturado pela falta e pela incessante busca do objeto a, pode ser redirecionado para as mercadorias. No ato de consumo, os indivíduos projetam suas faltas simbólicas nos objetos, transformando-os em fetiches que prometem preencher esses vazios. A publicidade e o marketing exploram essa dinâmica psíquica ao prometer que a compra de certos produtos trará felicidade, status ou um senso de completude. Assim, o consumidor investe o produto com um valor simbólico que vai muito além de sua utilidade prática, numa tentativa de preencher a ausência inerente ao desejo humano. No entanto, a crítica aqui não é apenas à prática do consumo, mas à forma como o capitalismo se aproveita dessas dinâmicas inconscientes para perpetuar um ciclo de desejo e insatisfação.

Ilusão de Completude
Semelhante ao modo como o fetiche sexual proporciona uma ilusão de completude para o indivíduo, as mercadorias no sistema capitalista são apresentadas como capazes de oferecer uma satisfação plena, embora ilusória. A publicidade e o marketing exacerbam esse processo, constantemente criando e alimentando novos desejos. As mercadorias são promovidas como fontes de realização e felicidade, mas essa satisfação é sempre temporária e ilusória. O consumo se transforma, então, em um ciclo incessante de busca e frustração, onde o sujeito jamais alcança uma satisfação duradoura. A psicanálise nos alerta para a natureza enganosa dessa promessa de completude, revelando como o desejo humano é perpetuamente renovado e nunca verdadeiramente saciado.

 ntese: Psicanálise e Fetichismo
O fetiche é um mecanismo psíquico complexo, usado para lidar com a ansiedade e a angústia diante da castração e também com a sensação de falta. Atribuir valor a objetos específicos que simbolizam o falo perdido ou uma completude inalcançada é uma maneira de gerenciar essa ansiedade e falta, proporcionando prazer substitutivo e uma sensação de controle simbólico. No entanto, enquanto a análise marxista critica o capitalismo por explorar essas dinâmicas para perpetuar a alienação, a psicanálise nos mostra que o desejo humano é intrinsecamente marcado pela falta e que a busca por completude é uma condição inerente à nossa psique. Portanto, uma transformação meramente econômica não é suficiente para resolver a alienação; antes é necessário um profundo entendimento das estruturas psíquicas que nos movem.

Reconhecer a complexidade dessas interações entre nossas necessidades psíquicas e os objetos que consumimos é essencial. A análise psicanalítica revela que, enquanto o consumismo capitaliza sobre nossos desejos insaciáveis, ele também nos mantém presos em um ciclo interminável de busca e frustração. Assim, uma verdadeira compreensão do fetichismo deve integrar tanto a crítica econômica quanto a análise psíquica, proporcionando uma visão mais completa das forças que moldam nossa relação com os objetos de desejo.

Economia e Fetichismo da Mercadoria
No consumismo, o fetichismo da mercadoria se manifesta quando os produtos são percebidos como possuindo um valor próprio, independente das relações sociais e dos processos de produção que os originaram. Este fenômeno é sustentado pelo desejo humano de preencher a falta, explorado de maneira eficaz pelo capitalismo através de práticas publicitárias e de consumo que prometem satisfação e completude. Ao destacar o valor de troca e o apelo simbólico dos produtos, o consumismo obscurece a realidade das relações sociais e do trabalho que os produzem. No entanto, a abordagem marxista, ao focar exclusivamente nas dinâmicas de produção e consumo, pode subestimar a complexidade das motivações e das estruturas psíquicas que dirigem o comportamento humano.

A psicanálise e a teoria econômica marxista demonstram como os objetos – sejam eles de desejo sexual ou mercadorias – são investidos de significados simbólicos. Esses significados transcendem o valor utilitário ou material dos objetos, refletindo e reforçando estruturas sociais e psíquicas complexas. Freud e Lacan mostram que o fetiche sexual, por exemplo, é um meio de lidar com ansiedades fundamentais, enquanto Marx apresenta apenas como as mercadorias no capitalismo adquirem uma vida própria, aparentemente desligada do trabalho humano que as criou. As abordagens da psicanálise e do marxismo nos ajudam a compreender como os objetos são investidos de significado para lidar com a falta e o desejo humano. A psicanálise mostra que o desejo é estruturado pela falta, e os objetos de consumo funcionam como substitutos simbólicos, oferecendo uma falsa sensação de completude. Marx revela como o capitalismo transforma relações sociais em relações entre coisas, levando à alienação. Contudo, ao focar apenas na economia, o marxismo negligencia as dinâmicas psíquicas profundas. A psicanálise critica essa limitação, destacando que a alienação e o desejo insaciável têm raízes no inconsciente, e não podem ser resolvidos apenas por mudanças econômicas.

A psicanálise aponta para uma dimensão que a análise marxista frequentemente negligencia: a profundidade das dinâmicas inconscientes e a busca incessante por um objeto que nunca se alcança plenamente. Enquanto o marxismo critica a alienação e a fetichização no capitalismo, a psicanálise revela que a alienação é, em parte, uma condição intrínseca do desejo humano. A transformação das relações econômicas, portanto, embora necessária, não é suficiente para abordar a profundidade das questões psíquicas envolvidas. A integração dessas perspectivas permite uma compreensão mais rica das interações entre nossas necessidades psíquicas e as dinâmicas econômicas e sociais, reconhecendo que a busca por completude e satisfação é um processo contínuo e diversificado.

A análise do fetichismo, seja ele sexual ou econômico, revela como os objetos de desejo se tornam centrais na maneira como os indivíduos e as sociedades lidam com a falta. Eles refletem e perpetuam as interações complexas entre nossas estruturas psíquicas e sociais. Reconhecer a dualidade dessas abordagens nos ajuda a ver que, para uma transformação significativa, é preciso considerar tanto as condições materiais quanto as estruturas simbólicas e psíquicas que moldam nossas vidas.

Concluindo através de exemplos pticos
Para tornar mais clara a aplicação dessas teorias, podemos examinar um exemplo contemporâneo: os smartphones. No contexto da teoria marxista, um smartphone transcende seu papel como mero dispositivo de comunicação, adquirindo um valor simbólico que ultrapassa sua utilidade prática. Publicidades e campanhas de marketing não promovem apenas um aparelho, mas vendem uma promessa de status, conexão social e identidade. O desejo pelo último modelo vai além da necessidade funcional; ele busca preencher uma falta simbólica, representando a inclusão em uma elite tecnológica e a sensação de estar moderno e conectado. No entanto, ao reduzir a análise a questões de consumo e valor de troca, o marxismo não captura totalmente a complexidade psíquica envolvida.

A psicanálise, por outro lado, nos permite compreender por que as pessoas desenvolvem uma relação quase fetichista com seus dispositivos. O smartphone se torna um objeto de desejo que parece prometer resolver diversas faltas: sociais, emocionais e até existenciais. Ele oferece uma ilusão de completude, como se a posse do aparelho mais recente pudesse preencher vazios internos. Contudo, essa promessa é ilusória. O ciclo de desejo e frustração se renova com cada novo lançamento e atualização de tecnologia, refletindo a dinâmica incessante do desejo que nunca é plenamente satisfeito. A crítica psicanalítica ao marxismo aponta que a simples mudança nas relações econômicas não aborda a profundidade das estruturas de desejo e falta que nos constituem. A transformação social requer um entendimento mais profundo da subjetividade humana, algo que a psicanálise pode oferecer.

Enquanto a análise marxista apenas critica como o capitalismo explora e intensifica esses desejos através do consumo, a psicanálise revela a profundidade com que esses objetos se entrelaçam com nossa psique. Os smartphones, assim, não são apenas produtos de uma economia capitalista; eles são espelhos de nossas ansiedades e desejos mais profundos. Eles refletem a busca incessante por completude e a promessa constante, mas nunca realizada, de satisfação. Portanto, para uma compreensão mais integrada das relações humanas com os objetos de consumo, é essencial compreender essas duas perspectivas, reconhecendo tanto as dimensões econômicas quanto as psíquicas do fetichismo contemporâneo.

As abordagens da psicanálise e da economia marxista revelam, de maneiras distintas e interligadas, como os objetos – sejam eles mercadorias de consumo ou fetiches sexuais – são investidos de significados que transcendem seu valor prático. Na psicanálise, entendemos que esses objetos carregam um peso simbólico profundo, atuando como substitutos para ausências e desejos inatingíveis, moldando a experiência psíquica dos indivíduos. Freud nos mostra que o fetiche pode ser um meio de lidar com ansiedades primordiais, enquanto Lacan expande essa visão, sugerindo que o “objeto a” se torna o alvo incessante do desejo humano. Esse movimento constante em direção a algo que nunca é plenamente alcançado revela a estrutura fundamental do desejo e da falta.

Do ponto de vista econômico, Marx explica que as mercadorias, dentro do sistema capitalista, assumem um valor aparentemente intrínseco, que obscurece as relações sociais e o trabalho humano que as produziram. Este processo, conhecido como fetichismo da mercadoria, aliena os indivíduos, desconectando-os dos aspectos sociais e humanos da produção. No entanto, a visão marxista tende a reduzir a complexidade psíquica dos indivíduos ao foco exclusivo nas relações de produção e consumo, negligenciando a profundidade das dinâmicas inconscientes que a psicanálise explora.

Os objetos de consumo, portanto, não são meramente utilitários; eles se tornam centrais na forma como os indivíduos se relacionam com o mundo ao seu redor. Esses objetos, tanto na perspectiva psicanalítica quanto na marxista, refletem e perpetuam as interações complexas entre nossas estruturas psíquicas e sociais. Eles revelam muito sobre nossa busca incessante por completude e satisfação. Entretanto, a crítica psicanalítica ao marxismo aponta que a mera transformação das relações econômicas não basta para alterar as profundas estruturas de desejo e falta que nos constituem. A dimensão simbólica e a subjetividade do sujeito precisam ser levadas em conta para uma compreensão mais completa das relações humanas.

Assim, enquanto a economia marxista oferece uma análise crítica das estruturas de poder e alienação no capitalismo, a psicanálise nos lembra da importância de considerar as profundezas do inconsciente e as complexidades do desejo humano. Essa dualidade de perspectivas permite uma visão mais rica e integrada da maneira como os objetos influenciam nossas vidas, moldando tanto nossa subjetividade quanto nossa realidade social.

Referências Bibliográficas

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LACAN, J. Seminário, livro 11: os quatro conceitos fundamentais da psicanálise. 1964 / Jacques Lacan; texto estabelecido por Jacques-Alain Miller; tradução M. D. Magno. Rio de Janeiro: Zahar, 2008.

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